Pular para o conteúdo principal

CINEFIALHO - 2024 EM 100 FILMES

           CINEFIALHO - 2024 E100 FILMES 

Pela primeira vez faço uma lista tão extensa, com 100 filmes. Mas não são 100 filmes aleatórios, o que os une são as salas de cinema. Creio que 2024 tenha sido, dos últimos anos, o mais transformador, por marcar o início de uma reconexão do público (seja lá o que se entende por isso) com o espaço físico do cinema, com o rito (por mais que o celular e as conversas de sala de estar ainda poluam essa retomada) de assistir um filme na tela grande. Apenas um filme da lista (eu amo exceções) não foi exibido no circuito brasileiro de salas de cinema, o de Clint Eastwood (Jurado Nº 2). Até como uma forma de protesto e respeito, me reservei ao direito de pô-lo aqui. Como um diretor com a importância dele, não teve seu filme exibido na tela grande, indo direto para o streaming? Ainda mais que até os streamings hoje já veem a possibilidade positiva de lançar o filme antes no cinema, inclusive para melhor divulgá-los, criar um arrazoado crítico, um burburinho antes de exibi-lo em seus canais.

Tenho consciência que toda forma de organizar uma lista tem suas limitações. Alguns críticos a fazem com títulos vistos em um determinado ano, independente de serem filmes de cinema, links ou streamings, independente se já foram exibidos em cinema. Quem me conhece, sabe que eu sou um entusiasta da sala escura, do ritual por muitos já considerado ultrapassado, de ver um filme no cinema. Por isso, a minha lista parte somente dessa maneira de visionamento, por eu ter escolhido acompanhar apenas filmes lançados no cinema. Isso pode até soar como uma limitação, inclusive mercadológica, pois só chegam aos cinemas filmes com distribuidoras (também precisamos incentivá-las e muito, pois é um trabalho hercúleo lançar um filme independente no Brasil e no mundo). Mas o mundo audiovisual hoje é um universo ilimitado e sempre dominado economicamente, até os nichos são ilhas já bastante exploradas e dominadas, por isso não podemos mais ser ingênuos quanto à abrangência do mercado. 

Mas o grande prazer para mim é o mistério de garimpar, tal como em um sebo amontoado de livros, filmes que estão em exibição e que às vezes são pouco vistos. Hoje tudo está tão acessível, farto e plural, e em contraponto temos uma vida tão corrida, que sequer percebemos algumas obras que ficam disponíveis e logo desaparecem das salas, tornando-se rapidamente inacessíveis, em especial pela volúpia mercadológica de lançar uma profusão de filmes ao mesmo tempo. A realidade é que tivemos semanas em 2024 com 7 ou até 14 lançamentos, o que tornaram vários deles quase que proforma (disponíveis em um horário por dia, normalmente o de 13h ou 21h, habitualmente os mais vazios). 

Essa lista serve também para ampliar o tempo de discussão de alguns desses filmes que passaram velozmente pelo circuito e muitas vezes não foram automaticamente para nenhum serviço de streaming. O grande protagonista dessa lista, por isso mesmo, são os independentes. Pouco se verá aqui filmes blockbuster (os poucos entram aqui como coadjuvantes, e nada mais, e tiveram mesmo que suar a camisa para serem incluídos). O que podemos ver é o quanto ser "exibido" nos cinemas nem sempre garante que um filme foi realmente visto. Alguns filmes constam com uma máquina de marketing assustadora, enquanto outros não possuem muita grana e estrutura de lançamento, o que na prática faz muita diferença.  

Para finalizar essa apresentação dos 100 filmes CineFialho, acreditamos que escolher apenas filmes lançados comercialmente nas salas de cinema institui uma régua necessária e teoricamente igualitária (pois na prática sabemos que o acesso também depende da disposição espacial das salas na cidade e da disponibilidade financeira de cada pessoa, que inclui transporte, ingresso e alimentação. A vida de cinéfilo definitivamente não é barata). Sob a constatação de que não é possível acompanhar cinema, dezenas de canais de streamings, de VOD (Video On Demand = aluguel em plataforma), links aleatórios e mercado de DVD, priorizamos o circuito das salas de cinema. Por isso, optamos por não incluir filmes vistos em festivais e que ainda não foram lançados nos cinemas brasileiros (como A Semente do Fruto Sagrado e outros filmes já vistos, mas que poderiam estar aqui incluídos pela sua relevância). Não deem tanta importância para as colocações dos filmes na lista, elas são tão arbitrárias tanto quanto esta ou qualquer outra lista de filmes. Várias posições que os filmes ocupam hoje, amanhã poderiam variar sem o menor problema e sem crise maior de consciência.

VAMOS A LISTA 

Gostaria de começar a minha lista com uma homenagem ao meu amigo, mentor e colega de ofício Carlos Alberto Mattos. Ele lançou em 2024 um trabalho de pesquisa documental de grande valor histórico para o cinema. Estou falando do seu Paisagens do Fim. Como o filme não foi exibido nos cinemas, me reservei o direito de fazer essa singela lembrança, dada à qualidade do trabalho que sublinha com poesia as ruínas que o cinema edificou em tantos filmes. Carlinhos, nosso Mark Cousins.     

Hors-concours) PAISAGENS DO FIM - Dir. Carlos Alberto Mattos

"A montagem de Paisagens do Fim organiza o tema das ruínas em subtemas, com os filmes sendo pacientemente enfileirados de modo sempre a ampliar o conjunto temático. Alessandra Negrini, em Acqua Movie, com o misto de beleza e frieza, é a anfitriã tanto no início quanto no fim do filme, a nos convidar para um anticlímax de um mundo movido por uma ânsia destrutiva na qual o cinema e as artes estão sempre prontos a indagar e teorizar. É bom que se diga, que esse é verdadeiramente um filme com uma verve autoral, já que Carlinhos roteirizou, dirigiu, montou e narrou essa saga artística sobre filmes que interagiram diretamente com as ruínas."

Crítica completa: https://cinefialho.blogspot.com/2024/09/paisagens-do-fim-2024-dir-carlos.html?m=1

      

100) SEBASTIAN - Dir. Mikko Mäkelä

"Sebastian é um drama erótico LGBT muito bem produzido, escrito e dirigido pelo cineasta finlandês Mikko Mäkelä, que é radicado em Londres. A narrativa se baseia na trajetória linear do jovem escritor Max Williamson, interpretado com competência e brilho pelo ator escocês-italiano Ruaridh Mollica. Entretanto Max não pode usar seu nome verdadeiro nas redes sociais e nos aplicativos de celular, afinal o emprego dele não pode ficar em risco." 

Crítica completa: SEBASTIAN (2024) Dir. Mikko Mäkelä

           

99) UM DIA NOSSOS SEGREDOS SERÃO REVELADOS - Dir. Emily Atef

"A mise-en-scène instaurada por Emily Atef é ditada por uma simplicidade sofisticada, com uma câmera na mão que consegue não atrapalhar o desenvolvimento tanto da história quanto da construção dos planos, já que ambos se equilibram por uma dilatação do tempo em cenas de sexo que normalmente são aceleradas ou entrecortadas habitualmente nos filmes."

Crítica completa: UM DIA NOSSOS SEGREDOS SERÃO REVELADOS (2023) Dir. Emily Atef


98) SANTINO - Dir. Cao Guimarães

"Com Santino, o diretor Cao Guimarães volta a seu território de conforto ao realizar um documentário sobre um homem do interior e sua idiossincrasias perante ao mundo. Mais uma vez, o que mais impressiona é a maneira como Cao filma seus personagens, como ele deixa transparecer uma explícita admiração a esse ser chamado Santino, um homem que luta com todas as forças para se integrar à natureza. Confesso que Cao é um dos meus cineastas preferidos, mesmo que Santino não esteja entre os seus trabalhos mais potentes."

Crítica completa: SANTINO (2022) Dir. Cao Guimarães


97) ENTRELINHAS - Dir. Gustavo Pasko

"Me chamou atenção o cuidado com a direção de arte e fotografia para ensejar os porões diabólicos que o filme mostra e como o filme sublinha a frieza dos algozes e seus métodos nada convencionais de tortura e violência. A cena da tortura e assassinato em plena Catarata do Iguaçu vale o ingresso e possui grande impacto dramatúrgico, destaque para Gabriela Freire como a jovem Beatriz Fortes, que consegue dosar coragem, medo e desespero no tom certo." 

Crítica completa: ENTRELINHAS (2024) Dir. Gustavo Pasko


96) SALÃO DE BAILE - Dir. Juru e Vitã

Comentário: Ao falar e documentar os ballroom, a dupla Juru e Vitã mostram tanto a força do movimento queer quanto suas divisões e disputas. A profusão de corpos dançantes são a própria encarnação da afirmatividade e potência e possibilidades desses corpos. A força vital do coletivo e da organização de quem veio à vida para brilhar e espalhar beleza e cor ao mundo.  


95) BLACK-TIE, O AROMA DO AMOR - Dir. Abderrahmane Sissako

"O multiculturalismo é a grande chave de Black Tea - O aroma do Amor. Ele faz uma mulher negra aprender os mistérios mais enigmáticos da chá chinês. Nos bares, os chineses aprendem canções de Cabo Verde e outros países africanos. Como diz a esposa de Cai Wang, "todas as coisas estão conectadas". As barreiras da intolerância precisam ser, uma a uma, derrubadas. O cinema é um instrumento importante na luta contra os preconceitos e esse filme reafirma isso. O momento de acabar de vez com o colonialismo é agora. As diásporas estão aí para ratificar e encerrar com os ciclos de intolerância e preconceito."

Crítica completa: BLACK TEA - O AROMA DO AMOR (2024) Dir. Abderrahmane Sissako

                    

94) DEIXE-ME - Dir. Maxime Rappaz

"Deixe-me impõe-se com muita sensibilidade, especialmente pelo trabalho perfeccionista de Jeanne Balibar como Claudine, cuja delicadeza é construída nos pequenos detalhes, pelos gestos, olhares e posturas corporais. A câmera de Rappaz movimenta-se com elegância pelos ambientes, personagens e seus figurinos, quase que não a percebemos."

Crítica completa: DEIXE-ME (2024) Dir. Maxime Rappaz 


93) SAUDADE FEZ MORADA AQUI DENTRO - Dir. Haroldo Borges

"O filme também é sobre a necessidade de construção de uma rede de acolhimento. E isso se faz lentamente, como o caso de Angela que irritada com ele, o abandona em um lugar cheio de pedras, níveis e desníveis. A vida muda para Bruno, mas igualmente para quem convive com ele, pois o processo de adaptação é mais amplo do que se imagina a princípio. E o que fazer quando você ama desenhar, e o faz muito bem, e de repente fica sem visão? São as agruras que a vida periodicamente pode nos reservar. "

Crítica completa: SAUDADE FEZ MORADA AQUI DENTRO (2023) Dir. Haroldo Borges


92) COMO GANHAR UM MILHÕES ANTES QUE A AVÓ MORRA - Dir. Pat Boonnitipat

"A perspectiva do diretor é mostrar a mudança de atitude do jovem neto e também da avó, que a princípio era bastante rude com o neto e o achava inútil, pelo fato dele não ganhar dinheiro para se sustentar e viver às custas da mãe, que era sua filha. Mas a avó não estava errada de todo, pois M. a princípio tinha o objetivo mesmo de herdar a propriedade dela. Contudo, Pat Boonnitipat, com sabedoria oriental, se utiliza da ideia de convivência para resgatar relações desses dois familiares que antes não combinavam tanto."

Crítica completa: COMO GANHAR MILHÕES ANTES QUE A AVÓ MORRA (2024) Dir. Pat Boonnitipat


91) PROIBIDO A CÃES E ITALIANOS - Dir. Alain Ughetto

"Através de sua narrativa criativa Proibido a Cães e Italianos faz um minucioso inventário da saída de vários italianos em busca de sobrevivência fora da Itália, o que ocorreu não só em território europeu como também em vários países da América, inclusive o Brasil. Apesar da narrativa se focalizar na saga da família Ughetto, podemos torná-la mais global, quando analisamos a história de vários imigrantes que até hoje fogem das guerras em seus países de origem."

Crítica completa: PROIBIDO A CÃES E ITALIANOS (2024) Dir. Alain Ughetto


90) SAUDOSA MALOCA - Dir. Pedro Serrano

"Saudosa Maloca, dirigido por Pedro Serrano, poderia até ser mais uma das várias cinebiografias dedicadas aos nossos grandes nomes da música popular brasileira, mas felizmente não o é. Talvez, o mais adequado a dizer do filme é que ele está mais para nos aproximar de um universo das músicas do grande Adoniran Barbosa, assim como de sua idiossincrática figura. E esse é o charme dele."

Crítica completa: SAUDOSA MALOCA (2023) Dir. Pedro Serrano


89) TUDO O QUE VOCÊ PODIA SER - Dir. Ricardo Alves Jr.

"Ricardo Alves Jr. trabalha a câmera em um registro onde tenta amainar a sua presença. Assim, tudo aqui parece ser tão fluido e sem sustos. Cinematograficamente, Tudo O Que Você Podia Ser é de uma leveza que sugere se inspirar nas personagens, as quatro, ávidas por viver sem amarras vindas da família ou das ruas. O filme meio que provoca a ideia de que não cabe ao mundo LGBT praticar uma vingança frente aos transfóbicos ou homofóbicos, apesar que alguns ângulos poderiam proferir uma ideia mais ousada em relação à linguagem, deveras acomodada."

Crítica completa: TUDO O QUE VOCÊ PODIA SER (2023) Dir. Ricardo Alves Jr.


88) CLUBE DOS VÂNDALOS - Dir. Jeff Nichols

Clube Dos Vândalos tece uma visão interessante e amarga de uma mulher que teve que enfrentar um poder institucionalizado de um grupo pelo amor de sua vida. Enfrentar por diversas vezes a violência das gangues e a apatia perante o mundo real, em nome de um mundo à parte que só se justificava em si mesmo. Creio que o filme lida bem com as transformações internas que ocorrem nas gangues, de uma dinâmica que os consagrou e os levou igualmente às ruínas. 

Crítica completa: CLUBE DOS VÂNDALOS (2023) Dir. Jeff Nichols


87) MUNDO NOVO - Dir. Álvaro Campos

"O que temos então é uma análise cuidadosa, imbricada e bem detalhada do racismo estrutural brasileiro. O roteiro, do próprio diretor, é construído junto com os atores e atrizes, o que permite uma troca intensa de experiências que migram da vida para a tela. As contradições que a história vai apresentando e desenvolvendo são importantes para prender a atenção dos espectadores no enredo. Sem falar na contradição territorial, já que os espaços abastados são muito próximos da Favela do Vidigal, apesar da visível falta de diálogo."

Crítica completa: MUNDO NOVO (2021) Dir. Álvaro Campos


86) TWISTERS - Dir. Lee Isaac Chung

 

"Twisters poderia até ser mais um blockbuster alucinado, com muita ação e correria, estrondos e nada mais. Mas é até louvável que o roteiro lembre de abordar uma certa indústria da catástrofe, de poderosos que se aproveitam das destruição e da falência alheia para lucrar e se dar bem. Muito embora, a história aqui se restringe aos peixes pequenos, aos funcionários que concretizam compras de terrenos dizimados por uma bagatela. O chefão, um político, aparece poucas vezes, é praticamente um figurante na história. Sim, mas poderia sequer o filme abordar esse viés crítico e de denúncia." 

Crítica completa: TWISTERS (2024) Dir. Lee Isaac Chung


85) ENTREVISTA COM O DEMÔNIO - Dir. Cameron e Colin Cairnes

"Entrevista Com o Demônio certamente vai figurar em várias listas como o melhor terror do ano. E tem lá os seus méritos para isso, embora, ao meu ver, o filme tenha um desfecho bem decepcionante, por perder toda a potência construída até então. É bom que se diga, que Entrevista Com o Demônio não se trata de um terror convencional, quase todas as cenas se passam em um estúdio de TV, o que é algo raro no gênero." 

Crítica completa: ENTREVISTA COM O DEMÔNIO (2024) Dir. Cameron e Colin Cairnes


84) FANTASMA - Dir. Martin Duplaquet

"De uma maneira geral, Fantasma se aproxima muito das películas argentinas na maneira de narrar, na combinação de planos funcionais com uma pitada de humor, mas sempre buscando um diálogo com o público, sem subestimá-lo ou fazê-lo pensar demais. O fato de deixar os personagens sempre em fuga dá ao filme um tom de suspense sublinhado pela trilha musical original. Os momentos de mais tensão, o diretor opta por uma câmera na mão e ratifica a instabilidade que um filme de assalto a banco tanto precisa. Fantasma entrega uma boa diversão para o público, além de mostrar a eterna contradição social, em que roubar um banco se revela uma aventura sedutora e possível, pelo menos para alguns poucos malucos."    

Crítica completa: FANTASMA (2023) Dir. Martin Duplaquet


83) PRISÃO NOS ANDES - Dir. Felipe Carmona Urrutia

"O diretor optou por uma fotografia escura e sombria,  com muitas cenas ocorridas durante o período da noite e dentro da casa-prisão de luxo aos pés da Cordilheira dos Andes, cujo objetivo é passar um clima de tensão constante entre os prisioneiros de alta patente e os carcereiros de baixa patente. O clima de tortura tanto física como psicológica permeia todos os momentos do filme."

Crítica completa: PRISÃO NOS ANDES (2023) Dir. Felipe Carmona Urrutia


82) TUDO QUE IMAGINAMOS COMO LUZ - Dir. Paval Kapadia

"A sutileza das cenas e a direção de fotografia da primeira parte são responsáveis pelas imagens mais poéticas do filme, sem contudo se perder de vista as questões políticas que envolvem as classes trabalhadoras em uma sociedade em franca expansão urbana capitalista, através de uma gentrificação que expulsa as classes populares das áreas mais valorizadas para regiões mais distantes dos bairros centrais de Bombaim."

Crítica completa: TUDO QUE IMAGINAMOS COMO LUZ (2024) Dir. Payal Kapadia


81) FURIOSA, UMA SAGA MAD MAX - Dir. George Miller

"Se há um mérito que não se pode tirar de George Miller é a enorme capacidade de criar um poderoso mundo imagético e sonoro à sua imagem e semelhança. A franquia Mad Max prova isso, ainda mais essa segunda leva iniciada com a Mad Max: Estrada da Fúria (2015), e confirmada agora, na regressão temporal tour de force para realizar Furiosa: Uma Saga Mad Max, um filme mais preocupado com o drama dos personagens do que na ação em si. O diretor mostra que não é só um bom criador de mundos, mas também um roteirista atento (aqui junto com Nico Lathouris, que igualmente dividiu o roteiro com ele em Estrada da Fúria) imprime uma força impressionante aos principais personagens da trama." 

Crítica completa: FURIOSA: UMA SAGA MAD MAX (2024) Dir. George Miller


80) A SUBSTÂNCIA - Dir. Carolie Fargeat

"Toda premissa extrema recebe avaliações no mesmo patamar. Esse vem sendo o caso de A Substância, filme dirigido pela francesa Coralie Fargeat. Os efeitos são de uma medida única, ou a sublinhar o sucesso de sua ousadia ou a dizer o quanto frustrante ela é. Esse é, em geral, o problema que esse tipo de cinema evoca: o tudo ou o nada. Não vejo A Substância nem tanto ao mar nem tanto à terra. Entretanto, para mim, esse é um samba de uma nota só, que estabelece sua proposta desde a primeira cena e briga com ela até o seu último suspiro. Sua maior qualidade, assim como a sua ruína."

Crítica completa: A SUBSTÂNCIA (2024) Dir. Coralie Fargeat  


79) NAS ONDAS DE DORIVAL CAYMMI - Dir. Locca Faria


Crítica completa: Link do Bate-papo CineFialho, com Marco Fialho e Carmela Fialho: 

Marco Fialho (@cinefialho) • Fotos e vídeos do Instagram 


78) LEVANTE - Dir. Lillah Halla

"Levante, dirigido por Lillah Halla, é desde a primeira imagem, um filme sobre a diversidade. A coragem na abordagem vem chamando a atenção e filme já acumula prêmios expressivos como Cannes, Biarritz, Palm Springs, Festival Mix Brasil e Festival do Rio. Nele, a força do feminino pulsa, assim como a sororidade. São essas as energias que exalam de Levante, um filme realista, que traz para a tela do cinema as lutas contra as intempéries sociais assentadas na intolerância religiosa."

Crítica completa: LEVANTE (2023) Dir. Lillah Halla

 

77) RIVAIS - Dir. Luca Guadagnino

"Creio que um dos elementos mais charmosos de Rivais seja a sua câmera, a valorização da estética do movimento. Encantar pelo olhar, pelo cuidado publicitário que cada imagem evoca. O que Luca Guadagnino faz é um jogo de sedução com o espectador. Ouvi muitos comentários sobre o poder de sedução de Tashi Donaldson (a maravilhosa Zendaya, que muito lembra a nossa carismática atriz/cantora/sanfoneira Lucy Alves), mas o maior encantador de serpentes é o próprio Guadagnino. Se no tênis uma das jogadas mais perfeitas e executadas é a combinação saque/voleio, o diretor faz o mesmo com a combinação câmeras lentas/câmeras aceleradas, em um artifício narrativo deveras envolvente." 

Crítica completa: RIVAIS (2023) Dir. Luca Guadagnino


76) MEU AMIGO ROBÔ - Dir. Pablo Berger


Comentário: "Com Meu amigo robô se pode pensar em muitos simbolismos, ainda mais que essa belíssima animação se passa em Nova York. Mas antes de tudo ela discute o desamparo humano em uma grande metrópole, além da necessidade da amizade, do amor, da crença no recomeço. Consegue o mérito de provocar reações díspares como o riso e a tristeza, uma seguida da outra." 


75) O MENINO E A GARÇA - Dir. Hayao Miyasaki


Comentário: A expressividade de Myiazaki se revela especialmente pelo traço incomum e misterioso pelo qual recria a sua garça. O maior encantamento do filme são as sucessivas janelas que o mestre japonês da animação se permite abrir, com o intuito de mostrar o quanto a vida pode ser diversa, bela e assustadora. E a curiosidade ser o motor que impulsiona o homem pelas estradas do infinito.     


74) 20.000 ESPÉCIE DE ABELHAS - Dir.Estibaliz Urresola Solaguren


"O filme, dirigido por Estibaliz U. Solaguren, retrata dias fundamentais de Lucia, uma menina de 8 anos que nasceu em um corpo masculino e enfrentará a tudo e a todos para reafirmar este fato. Em um momento do filme, Lucia pergunta se teria algum jeito dela morrer e renascer novamente como menina. Essa pergunta é fundamental por tornar irrevogável os sentimentos de Lucia. Nada a fará voltar nesse sentido e quando ela coloca isso frontalmente, estamos a discutir o amor próprio e o direito de cada um se ver como o seu coração é, e não como outros o queiram determinar." 

Crítica completa: 20.000 ESPÉCIES DE ABELHAS (2023) Dir. Estibaliz Urresola Solaguren 


73) BIZARROS PEIXES DAS FOSSAS ABISSAIS - Dir. Marão

Link do Bate-papo CineFialho, com Marco Fialho e Carmela Fialho:

Marco Fialho (@cinefialho) • Fotos e vídeos do Instagram


72) MAXXXINE - Dir. Ti West

"Antes de MaXXXine efetivamente começar, o diretor Ti West nos propõe uma frase rascante da grande atriz Bette Davis: "Neste ramo, até você ser reconhecida como monstro, você não é uma estrela". Ao final do filme, descobrimos o quanto essa sentença é emblemática, já que MaXXXine trata deliberadamente da carreira de uma pretendente à atriz de uma maneira cruel, em pleno anos 1980, época da loucura e aceleração ditada pela cocaína, onde matar ou ser morto faz parte da rotina de quem quer brilhar em Hollywood." 

Crítica completa: MAXXXINE (2024) Dir. Ti West

 

71) O MENSAGEIRO - Dir. Lucia Murat 

"O Mensageiro não é aquele filme realizado para sairmos dele com as ideias todas no lugar. Muito pelo contrário, essa é uma história para dar um nó em nossas certezas, capaz de por em suspensão especialmente os sentimentos, já que racionalmente, algumas certezas sairão intactas, como o horror que devemos ter pela ditadura instalada no país a partir do golpe civil-militar em 1964 e que depois do AI-5, em 1969, transformou a política em um brutal caça às bruxas."

Crítica completa: O MENSAGEIRO (2023) Dir. Lucia Murat


70) AVENIDA BEIRA-MAR - Dir. Maju de Paiva e Bernardo Florim

"Embora o aspecto político seja importante, não há espaço para o panfletário e sim para como cada família lida com as questões intrínsecas ao nosso tempo. A narrativa seca, sem grandes arroubos e peripécias técnicas, colocam o filme em um registro humanamente tangível, perto de nossas vidas, como um lugar de reflexão para algo que pode estar sendo vivido perto de nós."

Crítica completa: AVENIDA BEIRA-MAR (2023) Dir. Maju de Paiva e Bernardo Florim 


69) OSPINA CALI COLÔMBIA - Dir. Jorge Carvalho

"Este é um documentário que se instaura por uma lógica dialógica, em que Ospina vai comentando todos os filmes e fases de sua longa carreira. À entrevista são mescladas imagens dos filmes citados, além de algumas que retratam a história da Colômbia e a passagem de Ospina pelos Estados Unidos como estudante na UCLA. O filme de Jorge Carvalho trabalha basicamente a fala inteligente e instigante de Ospina, que disserta com argúcia tanto sobre cinema quanto sobre a história recente colombiana." 

Crítica completa: OSPINA, CALI, COLÔMBIA (2023) Dir. Jorge Carvalho


68) QUANDO EU ME ENCONTRAR - Dir. Amanda Pontes e Michelline Helena

"Quando Eu Me Encontrar é, sem dúvida, uma estreia de peso da dupla Amanda Pontes e Micheline Helena, com um domínio preciso de um cinema com uma narrativa contemporânea, que sabe se valer dos silêncios, das cenas do cotidiano e da contemplação dos personagens. Um filme que sabe dosar poesia imagética com uma narrativa descritiva, sem esquecer de deixar pistas para manter o interesse do público. Uma bela demonstração de maturidade para um longa de estreia."

Crítica completa: QUANDO EU ME ENCONTRAR (2023) Dir. Amanda Pontes e Michelline Helena


67) PISQUE DUAS VEZES - Dir. Zöe Kravitz

"A estreia da atriz e modelo Zoë Kravitz não podia ser mais bem sucedida com Pisque Duas Vezes. O filme pode ser interpretado como um terror com fortes pitadas dramáticas e teor fortemente feminista. A direção explora bem a atenção, as expectativas e os olhares do espectador, que a todo instante tenta entender o que está por trás de uma trama que não entrega de cara seus maiores trunfos." 

Crítica completa: PISQUE DUAS VEZES (2024) Dir. Zoë Kravitz


66) STOP MAKE SENSE - Dir. Jonathan Demme

"A filmagem do show Stop Making Sense, de 1984, contou com uma performance cinematográfica de Jonathan Demme igualmente engenhosa, com suas câmeras pensadas rigorosamente música a música de maneira a extrair a força e a pulsação que é inerente a este show dos Talkink Heads. Demme captura a performance perfeita da banda, dando ênfase a de David Byrne e o seu domínio cênico no palco, suas danças e movimentações hipnotizantes. A que ele contracena com um abajur é fantástica, além de muito bem filmada. Sem esquecer dos excepcionais figurinos, que apesar de preservarem o tom pastel, sobressaem pelo designer das roupas, a destacar uma que David Byrne veste um terno geométrico e bastante folgado."

Crítica completa: STOP MAKING SENSE (1984) Dir. Jonathan Demme


65) O APRENDIZ - Dir. Ali Abassi

"Uma das leituras possíveis de O Aprendiz, filme dirigido por Ali Abbasi (Border - 2018 e Holy Spider - 2022), vai além do retrato em si que se faz do personagem Donald Trump (Sebastian Stan), por mostrar as estruturas econômicas e sociais que permitem a eclosão de um monstro, de como o diretor sabe tirar suco do contexto histórico do qual começou a ser gerado, mais precisamente, a partir dos anos 1980, da grande abertura que o Governo Reagan deu para que empresas do ramo financeiro e também outros empresários se tornassem gigantes e praticassem o canibalismo capitalista."

Crítica completa: O APRENDIZ (2024) Dir. Ali Abbasi


64) TRANSE - Dir. Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães

"Transe antes de tudo, é um poderoso documento sobre a ingenuidade e prepotência de uma geração jovem e de classe média que considerava que a vida dos brasileiros era igual a sua. Daí o susto quando percebe que a sua forma de ver e sentir a vida representava uma bolha, não a maioria da população. O filme de Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães parte de uma ideia híbrida entre o registro ficcional e documental para falar da época das eleições presidenciais de 2018, em que Lula estava preso e Fernando Haddah e Bolsonaro disputam o cargo máximo do país." 

Crítica completa: TRANSE (2022) Dir. Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães


63) EU, CAPITÃO - Dir. Matteo Garrone

Comentário: "Uma saga que transita entre o desencanto e o sonho. Se, por um lado, "Eu Capitão" opta por uma narrativa convencional, por outro, seu mérito é saber explorar um aspecto da história menos conhecido, o do esforço do caminho. O carisma e o talento do jovem Seydou Sarr mantém a atenção até o fim." 


62) A SALA DOS PROFESSORES - Dir. Ilker Çatak

Comentário: "O grande mérito de "A sala dos professores" é o de transformar o ambiente da escola em um microcosmos da sociedade, com suas contradições, preconceitos, conservadorismos e jogos de poder. Nem todos os professores estão interessados nos processos educacionais dos alunos, assim como a maioria dos alunos não suportam a estrutura e a sabotam insistentemente. O modelo é equivocado porque reflete a sociedade massacrante e imediatista na qual está imersa. A perversidade e a violência dos jogos de poder são implacáveis e não perdoam absolutamente ninguém." 


61) PLANETA DOS MACACOS: O REINADO - Dir. Wes Ball

"Planeta dos Macacos: O Reinado até tem ação, mas creio que o seu ponto forte é a discussão filosófica que ele encampa e insere no enredo. Há uma atenção muito grande às relações e as conversas entre os personagens. Discussões que abordam o tema relacional entre homens e macacos; de macacos entre macacos; ou ainda, entre homens e homens. Todas essas discussões são centrais no filme, na verdade, conduzem o enredo. O diretor Wes Ball sabe explorar os closes que destacam os olhares quase sempre desconfiados ou atônitos com descobertas surpreendentes para os personagens."

Crítica completa: PLANETA DOS MACACOS: O REINADO (2024) Dir. Wes Ball


60) DIVERTIMENTO - Dir. Marie-Castille Mention-Schaar

"A direção de Marie-Castille Mention-Schaar não arrisca nunca, apostando sempre em uma mise-en-scène bem azeitada, decupada com esmero que só uma boa narrativa clássica sabe conceber. Se o filme se ajeita ao som da boa música erudita, a câmera baila entre atrizes e atores, em um jogo cênico funcional a buscar planos comunicativos. A opção por uma câmera leve impede que o filme cai em um esquematismo, mesmo que a construção narrativa não traga grandes novidades ou surpresas."

Crítica completa: DIVERTIMENTO (2024) Dir. Marie-Castille Mention-Schaar


59) OTHELO, O GRANDE - Dir. Lucas H. Rossi dos Santos

"O que o diretor Lucas H. Rossi dos Santos propõe para Othelo, o Grande é algo especial, sobretudo pela narrativa que parte da própria voz de Grande Otelo como propulsor de sua própria história. Durante os quase 90 minutos de filme, não há uma outra voz que não seja a dele. É ele o narrador soberano de sua história e esse fato dá uma dignidade imensa ao documentário." 

Crítica completa: OTHELO, O GRANDE (2023) Dir. Lucas H. Rossi dos Santos


58) PEQUENAS CARTAS OBCENAS - Dir. Thea Sharrock

"Pequenas Cartas Obscenas flerta descaradamente com o clássico humor inglês, com o filme policial, o de tribunal e com a crítica de costumes. Thea Sharrock busca um equilíbrio entre esses elementos, que muitas vezes são díspares, e com uma leveza quase ingênua, consegue matizar sua história, entregando um espetáculo agradável, sem esquecer das pitadas críticas que o elenco sabe inserir sob um texto afiado. Muitas vezes, a montagem se beneficia da qualidade dos atores e atrizes para explorar os closes rápidos capazes de dizer mais do que mil palavras."

Crítica completa: PEQUENAS CARTAS OBSCENAS (2024) Dir. Thea Sharrock


57) O DIABO NO MEIO DO REDEMUNHO - Dir. Bia Lessa

"A estrutura do filme preserva a origem teatral e tudo desenrola em um cenário que muito lembra um palco cênico. Vale pontuar de início o espírito minimalista adotado pela diretora, que chega a subtrair o território ao assumir o fundo escuro e a quase ausência de elementos cênicos. Visualmente a paisagem sertaneja desaparece dando ênfase então apenas à corporalidade e o texto. Os figurinos também são econômicos e revelam uma neutralidade cênica, já que todos os personagens possuem figurinos muito similares. Esse minimalismo imagético advém de uma intencionalidade, a de realçar o aspecto que é o mais caro a Bia Lessa em seu estudo sobre Guimarães Rosa: a originalidade e a força da palavra."

Crítica completa: O DIABO NA RUA NO MEIO DO REDEMUNHO (2023) Dir. Bia Lessa


56) RETRATO DE UM CERTO ORIENTE - Dir. Marcelo Gomes

"O que mais encanta em Retrato de um Certo Oriente é a capacidade de Marcelo Gomes criar imagens simples e potentes, com um preto e branco inspirado, que retira emoções intrínsecas às cores em nome de uma sofisticação imagética mais homogênea. Enquadramentos ousados que exploram a profundidade de campo que criam uma proposta de tridimensionalidade da imagem, além de planos que combinam foco e desfoco, rostos no canto da tela. Nota-se ainda um requinte na movimentação da câmera, sempre muito bem pensada de modo a revelar nuances da trama."

Crítica completa: RETRATO DE UM CERTO ORIENTE (2024) Dir. Marcelo Gomes


55) CONDUZINDO MADELEINE - Dir. Christian Carion

"Entretanto, a maior força vinda de "Conduzindo Madeleine" está no poder do encontro e das amizades. A relação que se constrói entre Madeleine e Charles é tocante, mesmo que soe um pouco piegas em alguns momentos. Carion sabe modular sua história, ao ir lentamente, cena a cena, oferecendo elementos que vão consolidando a amizade entre os protagonistas e consubstanciando a nossa comunhão com as imagens e músicas que emanam da tela. "Conduzindo Madeleine" é um filme cativante, com uma direção sensível, interpretações delicadas e com carisma de sobra. São 90 minutos de uma narrativa fluida, repleta de empatia e generosidade."

Crítica completa: CONDUZINDO MADELEINE (2023) Dir. Christian Carion


54) ASSASSINO POR ACASO - Dir. Richard Linklater

"... a verdade é que Assassino Por Acaso é um filme difícil de classificar, pois não é propriamente uma comédia, nem tampouco uma aventura, embora esbarre aqui e ali nesses dois subgêneros da ficção, além de se apoiar igualmente em elementos do filme policial e até do noir. O maior mérito de Assassino Por Acaso está no seu roteiro clássico perfeitamente bem-acabado, como é bem o feitio do diretor Richard Linklater, responsável pela cultuada trilogia do Antes (Antes do Amanhecer [1995], Antes do Pôr do Sol [2004] e Antes da Meia-Noite [2013])."

Crítica completa: ASSASSINO POR ACASO (2023) Dir. Richard Linklater


53) NADA SERÁ COMO ANTES: A MÚSICA DO CLUBE DA ESQUINA - Dir. Ana Rieper

"Diante do gostinho de quero mais que fica a aguar a boca dos inúmeros fãs do Clube da Esquina, nos quais eu me incluo, tem uma sequência que me tocou profundamente, quando perto do fim um jeep desliza numa estrada de terra, enquanto ouvimos a canção "Clube da Esquina nº 2". A vontade é pegar carona nesse carro e ir infinitamente com ele até o infinito da memória." 

Crítica completa: NADA SERÁ COMO ANTES: A MÚSICA DO CLUBE DA ESQUINA (2023) Dir. Ana Rieper


52) A METADE DE NÓS - Dir. Flávio Botelho

"Mesmo que o filme encare a dor de frente, em nenhum momento a direção descamba para cenas dramaticamente apelativas, o que realmente é preciso ser dito. As cenas de choro são secas, sem música ambiente ou discursos melosos, a tristeza aqui, a dor profunda é mostrada pelos silêncios, olhares inconformados e distantes. A câmera não tenta buscar um algo mais, um ângulo tal que pudesse mostrar um quê a mais. Todos os temas levantados ficam muito para a reflexão dos espectadores." 

Crítica completa: A METADE DE NÓS (2024) Dir. Flávio Botelho


51) MORCEGO NEGRO - Dir. Chaim Litewski e Cleisson Vidal

"Em Morcego Negro, a montagem impressiona por encadear as fases da vida de PC Farias aos depoimentos de pessoas que conviveram com ele, sem esquecer de incluir as memórias que pululam de arquivos audiovisuais e fotográficos da família e amigos. A história é contada seguindo a cronologia dos fatos, o que garante uma boa atenção do público ao filme. Alguns momentos o documentário é tomado pela comédia, muito dada pelo inusitado que foi a trajetória desse personagem, que mesmo vindo de uma camada financeira mediana, ganhou milhões, além de conquistar uma influência política em um momento em que as maracutaias se avolumaram no país. Parecia não se ter limites para a prática das falcatruas. Era como se a novela Vale Tudo, de 1988, não houvesse acabado, que sua continuação acontecia dentro da política brasileira, em uma saga familiar das mais sinistras da história, e olha que Bolsonaro sequer sonhava ainda em alcançar o cargo máximo do país. Tudo leva a crer, que há um Brasil que volta e meia precisa chafurdar na lama da política e duvidar dos limites da razoabilidade."  

Crítica completa: MORCEGO NEGRO (2022) Dir. Chaim Litewski e Cleisson Vidal


50) A MUSA DE BONNARD - Dir. Martin Provost

"O que mais me chamou a atenção conforme os minutos foram passando enquanto assistia A Musa de Bonnard é a paixão pela qual cada ator e atriz do filme defendia o seu papel, o que me levou a considerar que esse amor provavelmente exalava do diretor Martin Provost, do quanto devotou de tempo para burilar cada cena filmada. Essa empolgação salta da tela e nos seduz quase de imediato. É incrível o quanto a trama se sustenta emocionante até o fim, uma das mais belas histórias, dentre várias já realizadas, sobre um pintor francês." 

Crítica completa: A MUSA DE BONNARD (2023) Dir. Martin Provost


49) PRISCILLA - Dir. Sofia Coppola

"Sofia Coppola dedica o seu filme inteiramente a sua personagem e a delimita em suas emoções contidas, com planos executados com precisão milimétrica. Coppola mostra-se hábil no exercício de sua mise-en-scène, construindo uma personagem sólida cena a cena e demonstrando o quanto a câmera tem o poder de posiciona-la perante ao mundo." 

Crítica completa: PRISCILLA (2023) Dir. Sofia Coppola


48) A FILHA DO PALHAÇO - Dir. Pedro Diógenes

"Em A Filha do Palhaço, mesmo que haja um flerte intencional de Diógenes com o cinema narrativo, temos algumas cenas que esbarram muito mais em um cinema mais autoral do que o mais clássico. Como exemplo, podemos pensar a sequência da festa ocorrida logo após a peça de Marlon, onde temos vários espaços contiguos no mesmo ambiente e a câmera passeia ora pela experiência de Joana com a música ao vivo ora acompanhando do pai bebendo ou flertando com Marlon. Essa incorporação de uma mise-en-scène mais dinâmica, que busca captar a complexidade dos personagens, apreender comportamentos diversos e não só acavalar sequências lógicas e previsíveis, funciona muito para enriquecer a narrativa do filme." 

Crítica completa: A FILHA DO PALHAÇO (2022) Dir. Pedro Diógenes


47) ESTRANHO CAMINHO - Dir. Guto Parente

"Um dos elementos dramáticos dos mais interessantes de um certo tipo de cinema contemporâneo brasileiro está na maneira como mistura realidade e sonho. Ou que trata muitas vezes o onírico dentro de uma abordagem realista. Creio que Guto Parente, cineasta remanescente do coletivo Alumbramento tem nos oferecido exatamente isso ultimamente. Cinema como sonho ou instrumento para investigação da realidade? Guto Parente parece não se importar com essas clivagens aprisionantes ao investir em uma narrativa cujos limites ele joga para o público."

Crítica completa: ESTRANHO CAMINHO (2023) Dir. Guto Parente


46) E A FESTA CONTINUA! - Dir. Robert Guédiguian

 

"O diretor Robert Guédiguian reúne em E a festa continua! vários de seus temas mais recorrentes: a viabilidade da luta política de esquerda, a questão dos armênios, a crise geracional, Marselha como cenário, um cinema simples e os seus dois atores preferidos. Essa é a mistura na qual o cineasta se sente mais à vontade para fazer um filme encantador e aqui não é diferente. O melhor do filme é a leveza que transpira pelos seus poros, uma afetividade que Guédiguian sabe filmar como poucos. 

Crítica completa: E A FESTA CONTINUA! (2023) Dir. Robert Guédiguian


45) CRÔNICAS DO IRÃ - Dir. Ali Asgari e Alireza Khatami

"Numa época em que os filmes de ação e violência estão muito em voga, Crônicas do Irã, dirigido pelos jovens Ali Asgari (Até Amanhã) e Alireza Khatami, mostra o quanto um filme pode ser violento sem derramar uma gota de sangue ou mesmo abrir mão de uma câmera nervosa e cortes abruptos. Apesar da direção concisa, sem nenhum floreio técnico, a obra soa cortante por ser cirúrgica ao tocar numa ferida aberta inerente ao sistema político do Irã, em especial à censura."

Crítica completa: CRÔNICAS DO IRÃ (2023) Dir. Ali Asgari, Alireza Khatami


44) GREICE - Dir. Leonardo Mouramateus

"O cinema de Leonardo Mouramateus vem se dividindo entre Brasil e Portugal, e Greice, seu mais novo trabalho não é diferente, pois a própria história já engendra a presença tanto de Fortaleza quanto de Lisboa. O espectador é instado a seguir a personagem-título, uma jovem que estuda escultura em Lisboa e que tem como hábito ficcionalizar os fatos de sua vida, tanto os do presente quanto os do passado. Mouramateus adota o ponto de vista de Greice (Amandyra em ótima interpretação) e assim, dentro da camada ficcional, uma personagem tem a liberdade de reinventar a sua própria história. Greice não deixa de ser isso, uma complexa composição de camadas de ficcionalização, tendo sido escolhida a comédia como uma forma estilística para que se possa rir do fato narrado."

Crítica completa: GREICE (2024) Dir. Leonardo Mouramateus 


43) TESTAMENTO - Dir. Denys Arcand

"Testamento, filme dirigido pelo consagrado cineasta canadense Denys Arcand (O Declínio do Império Americano e Invasões Bárbaras) trata criticamente da falta de diálogo e da intolerância com o seu habitual humor ácido, bem ao seu estilo demolidor de narrar e pensar os nossos atuais modos de viver. Essa, que é a marca do seu cinema, está presente também aqui nessa última obra." 

Crítica completa: TESTAMENTO (2024) Dir. Denys Arcand


42) AS LINHAS DA MINHA MÃO - João Dumans 

"Me lembrei muito do mestre Eduardo Coutinho a nos seduzir com suas conversas, apesar de que, em As linhas da minha mão o diretor não apareça diretamente como personagem. O interessante aqui é o quanto a própria Viviane inclui o diretor Dumans através de suas narrativas. Ao final não sabemos se ela está a seduzir Dumans, a nós ou se ambos. Adoro a passagem em que Viviane canta a música "Boi Voador", do Chico Buarque, por ela se identificar com a canção, onde um boi era capaz de voar e por isso era reprimido. Viviane aborda a sua própria "loucura", sua necessidade de tomar remédios e da dificuldade de ser artista e ter uma estabilidade financeira. Mais para o fim, Dumans nos oferece imagens lindas em P&B de Belo Horizonte ao som de um belo cool jazz. Ainda tem uma história mirabolante de Viviane com um albanês que transam em um banheiro do trem e outra de que ela recebe uma rosa de Tom Jobim." 

Crítica completa: AS LINHAS DA MINHA MÃO" (2023) Dir. João Dumans


41) VERÍSSIMO - Dir. Angelo Defanti

"Logo no início, o diretor Angelo Defanti mostra planos da casa do protagonista. O silêncio e a paz predominam, apenas interrompidos pelo som de um peculiar badalar de um grande e imponente relógio vertical. O tempo toma conta do espaço e parece ameaçar com o aviso permanente de que os 80 anos estão chegando. O badalar insistente não permite que esqueçamos disso: da passagem do tempo. O filme registra o tempo como um perseguidor implacável. À certa altura, Verissimo diz em uma de suas inúmeras entrevistas: "eu esqueci do tempo, espero que ele também tenha esquecido de mim". Mas as contínuas visitas de um fisioterapeuta não esconde as dificuldades que Verissimo demonstra para levantar da cadeira ou sofá. O tempo não o esqueceu, está ali, atento e no seu encalço."

Crítica completa: VERISSIMO (2023) Dir. Angelo Defanti


40) O SABOR DA VIDA - Dir. Anh Hung Tran

"Anh Hung Tran se empenha com afinco na construção da ideia de amor. Cada imagem parece querer expressa-lo, o que faz a fotografia alaranjada e quente ser um elemento central tanto na dramaturgia quanto na mise en scène de O sabor da vida. A todo instante, a imagem está ali para seduzir o espectador. Há um encantamento entre os personagens e a câmera se esmera em perseguir a beleza das cenas, como se a buscasse sempre o melhor ângulo e enquadramento. A beleza dos pratos e o cuidado na preparação deles detalham a própria relação de carinho que permeia cada cena."

Crítica completa: O SABOR DA VIDA (2023) Dir. Anh Hung Tran


39) A PAIXÃO SEGUNDO GH - Dir. Luiz Fernando Carvalho

"O que mais marca o filme é o monólogo de G.H. Ele é majestoso, imperativo... sufocante. Luiz Fernando Carvalho faz dele a sua arma mais poderosa para desconstruir o clássico romance de Clarice Lispector. Os excessos interpretativos tencionam constantemente os limites entre teatro, cinema e literatura. Se o close transforma essa obra em uma peça de câmera altamente cinematográfica, a verborragia o aproxima do teatro (até mais do que da literatura) pela dramaticidade que as cenas são filmadas."

Crítica completa: A PAIXÃO SEGUNDO G.H. (2023) Dir. Luiz Fernando Carvalho


38) CIDADE; CAMPO - Dir. Juliana Rojas

"Cidade; Campo, novo filme da diretora Juliana Rojas, esboça uma visão permeada por uma visão cáustica da vida contemporânea ao vislumbrar tanto a vida no campo por pessoas vindas da cidade quanto de uma pessoa vinda do campo para a cidade. Para isso, a diretora dividiu o filme em duas partes independentes para abrir uma discussão sobre o tema da vida na cidade e no campo. O título traz um curioso ponto e vírgula, como um espécie de pausa poética e que mostra uma relação contraditória de distanciamento e proximidade entre os dois universos. Com esse filme, Juliana Rojas retoma um estilo de direção mais próximo ao de Trabalhar Cansa (2011), seu primeiro longa que filmou em parceria com Marco Dutra, em que os elementos fantásticos são incorporados à narrativa sem grandes extravagâncias, em especial no uso de efeitos especiais vistos com mais ênfase em seu longa anterior, As Boas Maneiras (2017)."

Crítica completa: CIDADE; CAMPO (2024) Dir. Juliana Rojas


37) MAIS PESADO É O CÉU - Dir. Petrus Cariry

"Caso alguém precise definir a palavra catarse, Muito Pesado é o Céu fatalmente é um belo exemplo. O filme dirigido pelo ótimo Petrus Cariry pode ser resumido assim e afirmo isso simplesmente por sentir que cada cena filmada concentra muita emoção em si, como se os dois protagonistas condensassem tudo para explodir de uma única vez ao final. Mérito tanto do roteiro quanto da direção, que em ambos os casos realiza um trabalho de grande artesania, complementado por uma direção de atores de grande precisão e eficiência."

Crítica completa: MAIS PESADO É O CÉU (2023) Dir. Petrus Cariry


36) CAMINHOS CRUZADOS - Dir. Levan Akin

"O cinema de Levan Akin (do ótimo E Então Nós Dançamos) é dos afetos em meio ao rascante mundo que vivemos. É curioso como a câmera de Akin está sempre na mão, inclusive quando poderia estar fixa em um pedestal, o que me incomodou em algumas cenas, ver a câmera balançando quando algum personagem estava sem sair do lugar. Embora considere que a câmera na mão de Caminhos Cruzados, antes de tudo, instale um desejo de estar junto a cada personagem, uma vontade de cumplicidade e companheirismo."

Crítica completa: CAMINHOS CRUZADOS (2024) Dir. Levan Akin


35) ASSEXYBILIDADE - Dir. Daniel Gonçalves 

"Só pela escolha original do tema, Assexybilidade já mereceria muita atenção, mas Daniel Gonçalves mostra que está cada vez mais íntimo da linguagem cinematográfica e se permite trabalhar com performances artísticas que vão desenhando a montagem do filme, como as falas poéticas de Estela Lapponi e as ousadas performances públicas de João Paulo." 


34) SORRIA 2 

"O interessante da premissa da franquia Sorria, que agora avança para seu segundo filme, é que estamos diante de uma maldição que é sempre passada adiante, bastando a pessoa "infectada" (ou afetada) sorrir para alguém e morrer a seguir, transferindo a maldição para quem presenciou o sorriso. Essa estrutura de história abre caminho para que a "infecção" permaneça presente sempre em algum corpo. Implico, e muito, com as franquias hollywoodianas, que forçam em demasia a barra em continuações intermináveis e comercialmente lucrativas, o que por enquanto não ocorreu com Sorria, embora ainda seja prematuro para afirmar algo a respeito."

Crítica completa: SORRIA 2 (2024) Dir. Parker Linn


33) FAUSTO FAWCETT NA CABEÇA - Dir. Victor Lopes

"Tem documentários que preferem penetrar na alma de um personagem ao invés de querer pretensamente falar tudo sobre a vida dele. Fausto Fawcett na Cabeça, dirigido por Victor Lopes, vai por esse primeiro caminho e com muita eficiência. Copacabana é o território no qual Fausto Fawcett se banha para criar letras e textos literários precisos sobre um Rio de Janeiro urbano, caótico e contraditoriamente encantador. Confesso que a minha veia cronista foi fisgada pela abordagem de ver Fausto como um pensador tipicamente compatível com o bairro de Copa, um personagem que se mistura com o próprio cenário." 

Crítica completa: FAUSTO FAWCETT NA CABEÇA (2024) Dir. Victor Lopes


32) SOFIA FOI - Dir. Pedro Geraldo

"O cineasta russo Andrei Tarkovski, em seu grandioso livro Esculpir o tempo, defende que o tempo é a matéria-prima do cinema, no sentido da capacidade intrínseca da câmera em registrar o tempo. Em Sofia Foi, dirigido por Pedro Geraldo, essa dimensão pode ser sentida e vivida profundamente pelo espectador. Como é interessante poder assistir a um filme brasileiro que valoriza muito esse princípio primordial do fazer cinematográfico, o da valorização e expansão do tempo."

Crítica completa: SOFIA FOI (2023) Dir. Pedro Geraldo


31) ANATOMIA DE UMA QUEDA - Dir. Justine Triet


"Depois de um incidente fatal, o filme dá uma virada e passa a trabalhar com a perspectiva da verdade. Qual versão sobre os fatos é a mais coerente ou pode ser a mais fiel à verdade. A diretora passa a jogar com essas dúvidas, o que abre uma crise entre mãe e filho. O melhor de Anatomia de uma queda é justamente essa interrogação sobre a verdade vinda dos relatos e dos áudios. As versões podem ser muitas, afinal, os personagens passam longe da santidade (como a maioria das pessoas)."  

Crítica completa: ANATOMIA DE UMA QUEDA (2023) Dir. Justine Triet


30) OS COLONOS - Dir. Felipe Gálvez

"Os Colonos, de Felipe Gálvez, antes de tudo, realiza uma excelente síntese sobre o processo exploratório ocorrido na América do Sul, mesmo que o filme seja praticamente todo passado no Chile. Não à toa vem sendo associado aos filmes de faroestes norte-americanos, por se utilizar de conhecidos planos do gênero, como os grandes planos gerais, que abarcam o espaço em sua amplitude, embalados por uma música épica e impactante de Harry Allouche, também muito inspirada nas trilhas dos filmes de faroeste, que acompanha firme essa história dura, importante de ser contada e recontada infinitas vezes."

Crítica completa: OS COLONOS (2023) Dir. Felipe Gálvez


29) A ESTRELA CADENTE - Dir. Dominique Abel e Fiona Gordon

"A Estrela Cadente é um filme diferente, não naturalista, dirigido pelo casal Dominique Abel e Fiona Gordon (os mesmos diretores e atores do sucesso Perdidos em Paris), que insere diversas características do teatro do absurdo em sua estrutura dramática, e mais ainda, em sua mise-en-scène. Essas notas diferenciadas dificulta um pouco a digestão de A Estrela Cadente, pelo menos por uma parcela do público pouco afeita aos malabarismos cênicos que essa obra propõe ao trazer em seu bojo  interpretações excessivamente teatralizadas, calcadas em intervenções corporais e performáticas dos atores e atrizes, assim como também na acentuada caracterização dos personagens."

Crítica completa: A ESTRELA CADENTE (2023) Dir. Dominique Abel e Fiona Gordon


28) LA CHIMERA - Dir. Alice Rohrwacher

"A diretora Alice Rohrwacher tem se revelado uma artista criativa, que caminha em um terreno instável entre a realidade, o onírico e a história. Antes de La Chimera, filmou dois longas consistentes: Lazzaro Felice (2018) As Maravilhas (2014). Considero Alice uma herdeira cinematográfica profícua de Federico Fellini, por essa capacidade fantástica de falar da Itália por meio de imagens vindas do universo popular, juntando fábula com um realismo."

Crítica completa: LA CHIMERA (2023) Dir. Alice Rohrwacher


27) A ALEGRIA É A PROVA DOS NOVE - Dir. Helena Ignez

"Ignez mescla um discurso direto com diálogos que vão no X da questão política com imagens de pura inspiração anárquica e libertária. É lindo quando Ignez filma cenas de um grupo de seguidoras de Jarda Ícone, seus encontros e suas conversas informais, pois tudo é tão orgânico que chega a chocar pelo desprendimento dessa câmera. Em certo momento nos libertamos da câmera e passamos a viver com Jarda Ícone, a estar com ela e suas amigas." 

Crítica completa: ALEGRIA É A PROVA DOS NOVE (2023) Dir. Helena Ignez


26) MOTEL DESTINO - Dir. Karim Aïnouz

"Karim Aïnouz apresenta sem pressa cada personagem em sua trip alucinada, mas não esquece de mostrar o motel tal como ele é, com a devida artificialidade feérica de suas luzes neon e sua afrodisíaca barra de pole dance. Esse é o território preciso de Motel Destino, um tipo de espaço-prisão onde cada personagem tateia a vida como pode."

Crítica completa: MOTEL DESTINO (2024) Dir. Karim Aïnouz


25) GOLPE DE SORTE EM PARIS - Dir. Woody Allen

"Na altura do campeonato chega a ser óbvio ficar repisando que o diretor Woody Allen não nos surpreende mais com suas histórias recheadas de traição, requinte, jazz, acasos e tramas rocambolescas. Golpe de Sorte em Paris certamente não é uma obra a puxar o tapete em relação a essas esperas. Entretanto, acredito que a maior força desse último trabalho de Allen esteja no quão azeitado se revela o roteiro. Se o enredo em si chove no molhado dentro do universo ficcional do diretor, o roteiro é de uma artesania de mestre e isso é um dos elementos que salva o filme do insosso." 

Crítica completa: GOLPE DE SORTE EM PARIS (2023) Dir. Woody Allen


24) ANTONIO CANDIDO, ANOTAÇÕES FINAIS - Dir. Eduardo Escorel

"Antonio Candido, anotações finais, de Eduardo Escorel, se desenvolve para os espectadores, ou melhor, ouvintes, como uma sonata. O diretor parte de seus cadernos, escritos desde à infância, centrando nos pensamentos registrados nos três últimos cadernos, de 2015 a 2017. O caráter diminuto da proposta formal não o desmerece como documentário, muito pelo contrário, o expande por concentração, de um mínimo que se torna gigante na tela, tal como as sonatas de Beethoven, que aliás, inundam nossos sentidos durante a projeção e imantam a nossa atenção."

Crítica completa: ANTONIO CANDIDO, ANOTAÇÕES FINAIS (2023) Dir. Eduardo Escorel

 

23) CRÔNICA DE UMA RELAÇÃO PASSAGEIRA - Dir. Emmanuele Mouret

"Crônica de uma relação passageira foi uma das gratas surpresas do Festival Varilux de Cinema de 2023. O enunciado sugere algo bobo e superficial, mas na verdade, logo nos primeiros instantes vemos uma história bem narrada, com um roteiro maduro, que muito me lembrou os filmes românticos de Woody Allen dos anos 1990, em especial na maneira como os diálogos foram escritos, com muito sarcasmo, humor e um toque de ironia." 

Crítica completa: CRÔNICA DE UMA RELAÇÃO PASSAGEIRA (2022) Dir. Emmanuel Mouret


22) JURADO Nº 2 - Dir. Clint Eastwood

"O mais recente trabalho do ator e cineasta Clint Eastwood é considerado por muitos um filme de despedida, em especial pelos seus 94 anos de idade. Independente de qualquer juízo, Jurado Nº 2 é uma típica obra de Clint tanto pelo tema abordado quanto pela forma cinematográfica, mas também, pode-se ainda acrescentar, pela dubiedade na qual tudo é aqui tratado. Existe uma discussão interminável na crítica acerca da primazia da forma ou do conteúdo no cinema e Clint Eastwood é sempre um ótimo cineasta para trazer à baila essa discussão." 

Crítica completa: JURADO Nº 2 (2024) Dir. Clint Eastwood


21) QUEER - Dir. Lucas Guadagnino

"O que mais me agradou em Queer, novo trabalho do diretor Luca Guadagnino, é a sua aposta de levar ao espectador a experiência existencial do personagem W. Lee, uma espécie de alter ego do escritor beatnik William S. Burroughs. O filme busca uma fidelidade espiritual ao autor literário, resgatar em especial a mente conturbada e obstinada de Burroughs. É necessário entender que o livro Queer foi escrito em 1952, embora só tenha sido publicado depois de mais de trinta anos, nos anos 1980."

Crítica: QUEER (2024) Dir. Luca Guadagnino


20) SEM CORAÇÃO - Dir. Nora Normande e Tião

"Sem Coração, dirigido por Nara Normande (Guaxuma, de 2018) e Tião (Animal político, de 2016), foi selecionado para participar da mostra Orizzonte, no 80° Festival Internacional de Cinema de Veneza, em 2023, tendo sido muito bem recebido à época. Para mim, o filme funcionou como uma viagem sensorial a um universo muito próprio, o de um lugarejo praiano não urbanizado, a princípio sedutor, mas que aos poucos revela os matizes da desigualdade socioeconômica brasileira." 

Crítica completa: SEM CORAÇÃO (2023) Dir. Nara Normande e Tião


19) ORLANDO, MINHA BIOGRAFIA POLÍTICA - Dir. Paul B. Preciado

"Mais do que um filme sobre a transgeneridade, podemos dizer que Orlando, minha biografia política é um tratado político sobre o tema. A direção de Paul B. Preciado é impecável, criativa e arrebatadora, além de ser pungente do ponto de vista político. Aqui, a poesia de Virginia Woolf se encontra com a militância LGBTQIAPN+, a história com a performance, a causa com a arte. Uma obra irreverente e relevante culturalmente, além de provocativa e profundamente educativa, sem jamais cair em um didatismo frágil ou simplista." 

Crítica completa: ORLANDO, MINHA BIOGRAFIA POLÍTICA (2023) Dir. Paul B. Preciado



18) MAL VIVER e VIVER MAL - Dir. João Canijo

"Entre os dois episódios, Mal Viver é melhor estruturado, por ter ideias mais bem realizadas do que Viver Mal, este último fica pulverizado pelas diversas histórias que não consegue amarrar com tanto êxito. Claro que há no todo uma ousadia formal da proposta que deve ser sublinhada, e devemos reconhecer que não se trata mesmo de uma abordagem fácil de se executar. Fiquei a me perguntar, ao término de Viver Mal se realmente era necessário se filmar essa perspectiva, se ela acrescenta algo de valioso à primeira parte. Fiquei ainda a indagar o porquê da história da relação entre filha, namorada e mãe sobressair mais do que as outras duas que são narradas em Viver Mal. É o problema de se narrar três histórias dentro de um mesmo filme, o do peso que cada uma delas adquire no todo. Mas são filmes muito corajosos em sua estrutura díptica".

Crítica completa: MAL VIVER e VIVER MAL (2023) Dir. João Canijo


17) A FLOR DO BURITI - João Salaviza e Renée Messora

"É incrível observar o quanto A Flor Do Buriti coaduna uma imensa força espiritual com um cinema de grande vigor estético, sem perder de vista que o mais essencial é o viés da narração pela própria nação Krahô. Digo isto, sabendo que os diretores João Salaviza (um português) e Renée Nader Messora (uma brasileira) acompanham os Krahô desde 2009. O filme quase todo está narrado em voz off, se utilizando de um registro de memória oral típica dos povos originários, algo que é devidamente respeitado pelos diretores. Podemos ainda complementar, dizendo que A Flor Do Buriti foi muito bem recebido na Edição de 2023 em Cannes, tendo angariado o prêmio de Melhor Equipe da Mostra "Um Certo Olhar"."

Crítica completa: A FLOR DO BURITI (2024) Dir. João Salaviza e Renée Nader Messora


16) O ÚLTIMO PUB - Dir. Ken Loach

"Não comungo com as opiniões cada vez mais recorrentes na crítica de que o cineasta inglês Ken Loach ultimamente não produz grandes filmes (Você Não Estava AquiEu, Daniel Blake e A Parte dos Anjos, apenas para citar alguns). Muito pelo contrário, o que vejo é um cineasta corajoso, capaz de expor ideias claras sobre o mundo e o papel político do cinema. Esse engajamento expressa a força do seu cinema, independente e compromissado com os mais humildes, os trabalhadores e os seres relegados pelas elites. Denunciou sem dó o sistema de seguridade, a uberização e várias injustiças sociais. Se alguns o chamam de dogmático, eu prefiro vê-lo como um artista socialmente consciente."

Crítica completa: O ÚLTIMO PUB (2023) Dir. Ken Loach


15) 171 - Dir. Rodrigo Siqueira

"Uma obra impressionante. Essa foi a primeira impressão que tive de 171, filme de Rodrigo Siqueira (Terra Deu, Terra Come Orestes). Mais do que investigar a narrativa golpista dos 171, o que o diretor faz é expandi-la para o cinema, o que faz de seu filme algo necessário, um objeto de metalinguagem e de dúvidas."

Crítica completa: 171 (2023) Dir. Rodrigo Siqueira


14) DYING - A ÚLTIMA SINFONIA - Dir. Matthias Glasner

"Dificilmente você verá um filme que consegue ir tão fundo nos personagens, e ainda assim ser tão áspero com eles. Esse é o grande mérito do diretor Matthias Glasner ao realizar Dying - A Última Sinfonia. E o mais cruel desse filme é que antes de subir os créditos finais, vemos o diretor dedicando o filme à família dele, justamente depois de assistirmos um exemplo de como não deveria ser uma família. Óbvio que há uma ironia nessas palavras, o que me leva a supor duas possibilidades: uma, que a família dele é o oposto do que vemos em tela; outra, que ela é muito próxima do que vimos no filme. Convenhamos, que as duas formas têm lá a sua graça, ou desgraça, se assim preferir."


13) POBRES CRIATURAS - Dir. Yorgos Lanthimos 

"O diretor grego Yorgos Lanthimos recria em Pobres criaturas a famosa história de Frankenstein, de Mary Shelley, mas a faz como uma fábula feminista mordaz, imponente na forma e demolidora como enredo. Bella Baxter jamais será esquecida por quem a vê, uma protagonista que renasce no próprio processo opressivo, de mulher aprisionada se torna senhora de si mesma, se reinventando no caminho, em uma autodescoberta de tirar o fôlego. A força selvagem e indomável de Emma Stone como Bella Baxter é completamente arrebatadora."

Crítica completa: POBRES CRIATURAS (2023) Dir. Yorgos Lanthimos


12) AINDA TEMOS O AMANHÃ - Dir. Paola Cortellesi

"Ainda Temos o Amanhã, longa de estreia de Paola Cortellesi foi a maior bilheteria italiana de 2023, tendo desbancado até o blockbuster Barbie, de Greta Gerwig. De certa maneira, essa é uma obra que revisita a própria história do cinema italiano, do neorrealismo às comédias clássicas dos anos 1960/70/80, mas dando a elas uma roupagem contemporânea, visível em pequenos elementos trabalhados com ourivesaria pela diretora."

Crítica completa: AINDA TEMOS O AMANHÃ (2023) Dir. Paola Cortellesi


11) SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO - Dir. Todd Haynes


"Se a realidade muitas das vezes parece ficção, o que dizer sobre a ficção parecer a realidade? É nesse terreno movediço que Todd Haynes estrutura o seu filme "Segredos de um Escândalo", amparado por duas atrizes em plena forma dramatúrgica como Julianne Moore e Natalie Portman. São elas que comandam o espetáculo, que fazem cada cena valer cada centavo pago pelo espectador." 

Crítica completa: SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO


10) O DIA QUE TE CONHECI - Dir. André Novais Oliveira


Vídeo completo do Bate-papo CineFialho: https://www.instagram.com/reel/C2X5ka7JF5N/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA== 


9) SIDONIE NO JAPÃO - Dir. Élise Girard 

"Há uma nítida homenagem de Élise Girard a um certo cinema contemporâneo japonês. Dá para sentir a presença de Ozu (os enquadramentos flertam com ele), Mizoguchi (em especial o seu apego às personagens femininas), mas sobretudo, ecos de Naomi Kawase, uma cineasta que ama os dramas sensíveis e as epifanias. Sidonie no Japão é um cinema francês que reverencia, com boas doses de amor, o cinema japonês e por isso a escolha de Isabelle Huppert faz todo o sentido, bom lembrar o quanto ela já flertou com o cinema do coreano Hong Sang-Soo e está sempre aberta a viver esse tipo de experiência no cinema, interagindo com culturas bastante diferentes da sua. Como é bom ver Huppert se reencontrando com papéis desafiadores, enigmáticos e profundos." 

Crítica completa: SIDONIE NO JAPÃO (2024) Dir. Élise Girard


8) A MÚSICA NATUREZA DE LÉA FREIRE - Dir. Lucas Weglinski


"Esse documentário não deixa de ser uma forma de colocar o trem nos trilhos, de pleitear o reconhecimento de uma artista que com anos de trabalho, e com mais de 60 anos de idade, jamais teve a merecida projeção, algo surpreendente e caótico e que infelizmente é rotina em nosso país. Por isso mesmo, essa é uma obra que deveria ser vista por muitos brasileiros. Uma ode à beleza que só uma artista brasileira poderia ensejar."

Crítica completa: A MÚSICA NATUREZA DE LÉA FREIRE (2024) Dir. Lucas Weglinski


7) O MAL NÃO EXISTE - Dir. Ryusuke Hamaguchi

"O Mal Não Existe é o filme mais engajado politicamente do diretor japonês Ryusuke Hamaguchi. Depois de obras mais filosóficas e existenciais como Roda do Destino (2021), Drive My Car (2021),  Asako I & II (2018), o diretor aterriza na denúncia contra o ambicioso mundo da impessoalidade e arrivismo capitalistas. O que Hamaguchi imprime é uma narrativa exponencial, amparada em um misto de encanto e revolta." 

Crítica completa: O MAL NÃO EXISTE (2023) Dir. Ryusuke Hamaguchi


6) O QUARTO AO LADO - Dir. Pedro Almodóvar


"em 2024, Pedro Almodóvar volta ao melodrama para o que é o seu filme mais consistente para este subgênero dramático. O Quarto Ao Lado foi construído a partir do livro O Que Você Está Enfrentando, de Sigrid Nunez, e o que o diretor espanhol realiza é um filme cujo drama é milimetricamente pensado, sem arestas e com duas atrizes extraordinárias em seus melhores momentos. Julianne Moore e Tilda Swilton interpretam, respectivamente, as inesquecíveis Ingrid e Martha, duas amigas de infância que se reconectam a partir de uma grave doença de uma delas." 

Crítica completa: O QUARTO AO LADO (2024) Dir. Pedro Almodóvar


5) AINDA ESTOU AQUI - Dir. Walter Salles

"Tem filmes que antes de tudo se estabelecem como vetores simbólicos e mais do que falar de uma época, talvez suas forças advenham de um forte diálogo com o tempo presente. Para mim, é o caso de Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, representante do Brasil na corrida do Oscar 2025. Há no Brasil de hoje uma energia estranha, vinda de setores que entoam uma espécie de canto do cisne da época mais terrível do Brasil contemporâneo: a do regime ditatorial civil e militar (1964-85). Esse é o diálogo que Walter estabelece ao trazer para o cinema uma sensível história baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva."

Crítica completa: AINDA ESTOU AQUI (2024) Dir. Walter Salles


4) DIAS PERFEITOS - Dir. Win Wenders


"O novo filme do cineasta Win Wenders, Perfect Days é uma joia incrustrada de brilhantes, onde se precisa observar os pequenos detalhes, para poder se admirar a beleza que dela emana. Pode-se dizer que esta é uma obra sobre os encantos do cotidiano, de como o inesperado habita na mais aparente repetição diária, até mesmo quando esta é obstinada, caso de Hirayama, interpretado com muita sensibilidade e delicadeza pelo ator japonês Koji Yakusho."

Crítica completa: PERFECT DAYS (2023) Dir. Win Wenders


3) MALU - Dir. Pedro Freire


"a nossa fascinação por Malu (uma estupenda Yara de Novaes) é inevitável, e daí a beleza do caos intrínseca à Malu ser tão terrivelmente cativante. A todo momento oscilamos tal como a personagem da filha Joana (Carol Duarte, sempre brilhante na sua interpretação) entre querer estar perto e se afastar dela. Malu não é para os fracos, sua força vulcânica arrasta e arrasa tudo a sua volta e também quem a assiste em cena. Em um primeiro instante, poderíamos até dizer que este é um filme de personagem, mas quando fazemos uma análise mais atenta, vemos que o mais certo seria enxerga-lo como de personagens, afinal Malu, junto com Dona Lili (Juliana Carneiro da Cunha, uma dama de nossa dramaturgia) e Joana completam uma tríade geracional sensacional e inebriante."

Crítica completa: MALU (2024) Dir. Pedro Freire


2) HERE - Dir. Bas Devos

" Here, dirigido por Bas Devos, é aquela obra que vai nos transformando, mas nada abruptamente, ela vem suave até se instalar na gente. Essa operação talvez não aconteça em todos, lógico, ainda mais que esse é um atributo raro de se sentir, a alma precisa estar ali disponível, entregue, com o desejo de ser tomada. Here fala de encontros em um mundo onde os desencontros viraram uma vulgaridade no cotidiano."  

Crítica completa: HERE (2023) Dir. Bas Devos


1) ERVAS SECAS - Dir. Nuri Bilge Ceylan


"a maior surpresa de Ervas Secas é como Ceylan muda o rumo do filme. Se em seus filmes anteriores, o cineasta se preocupava mais em incluir o contexto em sua trama, o mesmo não ocorre aqui. Embora nos planos iniciais Ceylan ameace ou tente nos induzir que vai dissertar sobre o território provinciano, há uma mudança drástica de direção ao se utilizar mais da ideia do provincianismo como forma de se forjar os caráteres dos personagens do que como crítica social."

Crítica completa: ERVAS SECAS (2023) Dir. Nuri Bilge Ceylan

Comentários

Postar um comentário

Deixe seu comentário. Quero saber o que você achou do meu texto. Obrigado!

Postagens mais visitadas deste blog

AINDA ESTOU AQUI (2024) Dir. Walter Salles

Texto por Marco Fialho Tem filmes que antes de tudo se estabelecem como vetores simbólicos e mais do que falar de uma época, talvez suas forças advenham de um forte diálogo com o tempo presente. Para mim, é o caso de Ainda Estou Aqui , de Walter Salles, representante do Brasil na corrida do Oscar 2025. Há no Brasil de hoje uma energia estranha, vinda de setores que entoam uma espécie de canto do cisne da época mais terrível do Brasil contemporâneo: a do regime ditatorial civil e militar (1964-85). Esse é o diálogo que Walter estabelece ao trazer para o cinema uma sensível história baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. Logo na primeira cena Walter Salles mostra ao que veio. A personagem Eunice (Fernanda Torres) está no mar, bem longe da costa, nadando e relaxando, como aparece também em outras cenas do filme. Mas como um prenúncio, sua paz é perturbada pelo som desconfortável de um helicóptero do exército, que rasga o céu do Leblon em um vôo rasante e ameaçador pela praia. ...

BANDIDA: A NÚMERO UM

Texto de Marco Fialho Logo que inicia o filme Bandida: A Número Um , a primeira impressão que tive foi a de que vinha mais um "favela movie " para conta do cinema brasileiro. Mas depois de transcorrido mais de uma hora de filme, a sensação continuou a mesma. Sim, Bandida: A Número Um é desnecessariamente mais uma obra defasada realizada na terceira década do Século XXI, um filme com cara de vinte anos atrás, e não precisava, pois a história em si poderia ter buscado caminhos narrativos mais criativos e originais, afinal, não é todo dia que temos à disposição um roteiro calcado na história de uma mulher poderosa no mundo do crime.     O diretor João Wainer realiza seu filme a partir do livro A Número Um, de Raquel de Oliveira, em que a autora narra a sua própria história como a primeira dama do tráfico no Morro do Vidigal. A ex-BBB Maria Bomani interpreta muito bem essa mulher forte que conseguiu se impor com inteligência e força perante uma conjuntura do crime inteir...