Texto por Carmela Fialho e Marco Fialho
Obras com personagens que mergulham numa determinada atividade profissional para dela extrair ideias e narrativas seja para um livro, peça ou filme, já vimos bastante pelas artes. Porém, o viés de um personagem LGBT inserido nela, já não é tão comum assim de ver. A proposta de Sebastian é acompanhar as aventuras e desventuras sexuais do garoto de programa Sebastian, personagem criado pelo aspirante a escritor Max (Ruaridh Mollica) para si mesmo nas redes sociais. Max é um jovem sedutor e ambicioso que transita no mundo literário, ora como jornalista ora como escritor de contos e romances.
Sebastian é um drama erótico LGBT muito bem produzido, escrito e dirigido pelo cineasta finlandês Mikko Mäkelä, que é radicado em Londres. A narrativa se baseia na trajetória linear do jovem escritor Max Williamson, interpretado com competência e brilho pelo ator escocês-italiano Ruaridh Mollica. Entretanto Max não pode usar seu nome verdadeiro nas redes sociais e nos aplicativos de celular, afinal o emprego dele não pode ficar em risco.
Sebastian se calca desde a primeira cena na fisicalidade de sua proposta, com cenas ousadas de sexo entre homens. O filme se apoia em uma proposta visual requintada, com uma fotografia majoritariamente noturna que prioriza os tons azuis e neon, o que valoriza os espaços que servem de cenário, como a redação de uma revista importante de variedades e cultura, fora os ambientes frequentados pelos abastados personagens mais velhos que são os clientes de Sebastian. A movimentação espacial de Sebastian perpassa tanto Londres como Bruxelas, o que ajuda a dar um dinamismo à narrativa.
Mollica se adequa muito bem ao personagem de Sebastian tanto por suas características físicas quanto pelo ar de bom moço que imprime ao garoto de programa, muito requisitado por homens idosos. Em um desses programas conhece o intelectual Nicholas, interpretado pelo experiente ator australiano Jonathan Hyde, que colabora para narrativa ganhar mais consistência dramática. A dupla funciona muito bem em cena, imprimindo bons momentos de companheirismo e envolvimento afetivo, a ponto de Nicholas colaborar emocional e financeiramente para Max concluir suas pesquisas sexuais e terminar o romance Sebastian, nome de guerra usado nos programas. Nicholas descobre que Max frequenta o mesmo ramo, o da literatura, o que faz o jovem não conseguir mais esconder sua identidade verdadeira e o filme passa a viver esse drama particular de Max.
Esse encontro possibilita uma virada no filme, mas precisamos ponderar o quanto o personagem de Nicholas, um professor de literatura culto, acaba sublinhando valores clássicos europeus e consequentemente o corpo padronizado do jovem garoto de programa. Fora isso, o diretor abusa do whisky e do vinho como simbólicos de um universo refinado. Essas ideias e ideais fazem agregar uma visão mais elitista ao drama queer inicial e retira dele possibilidades mais amplas de transgressividade, ao abordar personagens brancos, cis, intelectualizados, bem formados e ricos.
Para quem busca um filme refinado e ousado, Sebastian pode agradar e muito, mesmo que às vezes o filme se perca em modelos estereotipados de como vencer na vida e ainda cultive padrões já defasados de beleza clássica. Um mérito do filme são as interpretações de Mollica e Hyde, que podem ser assinaladas como o ponto alto do filme. Outro mérito é a direção conseguir sustentar a narrativa clássica injetando cenas quentes de sexo, além de levantar questionamentos interessantes sobre a difícil profissão de escritor tanto no que tange à criatividade do autor quanto a de se inserir em um mercado que sistematicamente quer dizer o caminho no qual o escritor deve seguir.
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