Texto por Marco Fialho
Entrelinhas, do diretor Gustavo Pasko, traz para o público mais uma história sobre o processo dolorido que foi o da tortura nos porões insanos da ditadura militar brasileira, mas trazendo como diferencial enfocar em um lugar pouco mostrado habitualmente: o Estado do Paraná.
O diretor Gustavo Pasko trabalha a brutal prisão da jovem estudante secundarista Beatriz Fortes, acusada de colaborar e pertencer a uma célula da então clandestina organização comunista do Var-Palmares. Chama a atenção a violência e o sangue frio dos militares que comandavam a ação dos interrogatórios. Vale lembrar que o filme parte dos depoimentos de Beatriz à Comissão da Verdade, instaurada durante o Governo da presidenta Dilma Rousseff.
Entrelinhas realiza um mergulho doloroso e intenso ao mostrar mais a violência dos tratamentos dados aos presos políticos do que o próprio contexto da luta armada, as discussões sobre os caminhos de luta e resistência contra a ditadura militar. Acredito que o filme assim ganha em denúncia embora perca em tensão e reflexão. A proposta do diretor provoca mais uma reação emocional e de revolta do que traz reflexões para se pensar sobre os horrores e o que estava em jogo tanto na política quanto na economia.
O contexto é mais mostrado por meio de campanhas publicitárias ufanista via rádio feitas pelo governo, além de notícias que demonstravam os "avanços" econômicos e os esforços pela "integração" nacional, que visava explorar as riquezas da Amazônia ainda inóspita e selvagem em muitas regiões.
Se pensarmos no Paraná e na recente "República do Paraná", que esteve à frente mais recentemente de tentativas jurídicas manipuladoras para derrubar os governos chamados de esquerda, tendo o PT como principal artífice, Entrelinhas volta um pouco no tempo para nos fazer entender melhor o caldo conspiratório gestado ao revelar o quão cruel foi o processo de tortura no Paraná no período mais rude e violento da ditadura militar brasileira.
Me chamou atenção o cuidado com a direção de arte e fotografia para ensejar os porões diabólicos que o filme mostra e como o filme sublinha a frieza dos algozes e seus métodos nada convencionais de tortura e violência. A cena da tortura e assassinato em plena Catarata do Iguaçu vale o ingresso e possui grande impacto dramatúrgico, destaque para Gabriela Freire como a jovem Beatriz Fortes, que consegue dosar coragem, medo e desespero no tom certo.
Entrelinhas ganha ao enfatizar a denúncia do processo insano da tortura brasileira, ainda tratada com amenidade e benevolência. Claro que bater nessa tecla é fundamental para não deixar que a história se repita novamente, bom lembrar da tentativa recente de derrubada do governo Lula logo no início de seu mandato em janeiro de 2023 e que possuía adeptos militares ávidos para um segundo round dos horrores que cometeram de 1964 a 1986. Mas penso que o tema precisa ser ampliado para que possamos conversar sobre os diversos interesses que estavam envolvidos, cuja a máquina de tortura era mais um dos absurdos cometidos por um governo que entregou o país aos interesses de grandes grupos internacionais, principais financiadores de ontem e hoje.
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