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Mostrando postagens de outubro, 2023

FREMONT (2023) Dir. Babak Jalali

Texto de Marco Fialho "O navio no porto é seguro, mas não é por isso que eles são construídos" "Fremont", apesar do título se reportar a uma cidade do Estado da Califórnia, é um filme de personagem, mais exatamente sobre Donya (Anaita Wali Zada), uma jovem e tímida afegã que apesar de ser tradutora, trabalha em uma fábrica que fornece biscoitos da sorte para os restaurantes chineses, cujo dono é um simpático chinês de meia idade, que acredita no seu talento, quando a senhora que fazia o serviço morre exercendo o trabalho.  Tudo é por demais encantador em "Fremont", a começar por Donya, uma jovem cujo charme vem de uma postura discreta e misteriosa em relação à vida. O diretor iraniano Babak Jalali consegue deixar em todas as cenas sempre um algo para o espectador indagar ou completar e como isso é sedutor. A aparente simplicidade da encenação guarda uma riqueza e uma sutileza nas relações que os personagens estabelecem entre si. Um caso típico de um roteir

O HOTEL ROYAL (2023) Dir. Kitty Green

Texto de Marco Fialho "O Hotel Royal" é um filme feminista, bem construído sobre duas jovens amigas canadenses com espírito aventureiro, Hanna (Julia Garner) e Liv (Jessica Henwick), que vão tirar férias e aceitam um emprego para ajudar a bancar a diversão, em um longínquo hotel em uma região desértica e mineradora da Austrália, dominada por homens rústicos.  Esse é apenas o mote para se contar a epopeia dessas duas jovens destemidas que vão em busca do perigo e do risco. O machismo estrutural está na base dessa história, pois os homens são antes de tudo violentos e olham as mulheres como objetos sexuais a serem exploradas. O clima de embriaguez completa o bar onde ambas terão que trabalhar e administrar uma fúria masculina incontrolável, fica sempre a impressão de que algo pode acontecer a qualquer instante.  A história de "O Hotel Royal" vai rapidamente avançando para o precipício da loucura que essas mulheres terão que enfrentar. Entretanto, a direção de Kitty Gr

OS DELINQUENTES (2023) Dir. Rodrigo Moreno

Texto de Marco Fialho "Os Delinquentes", dirigido por Rodrigo Moreno, é o representante argentino na corrida de uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro. Essa é uma obra ousada, grandiosa em algum sentido, pela ousadia narrativa e de montagem. As três horas de duração assinalam bem as reviravoltas que a trama dá, sem se perder em atropelos, com as cenas e com o ritmo que elas precisam ter. As primeiras imagens do filme sugerem que "Os Delinquentes" vai seguir os caminhos do clássico argentino "Nove Rainhas" (2000), de Fabián Bielinsky, em que tramoias são feitas pelos personagens em meio a uma Argentina em franca crise financeira. Aqui, todo o início leva a crer que teremos algo afinado com isso, mas Rodrigo Moreno aos poucos leva a sua história para rumos inusitados e surpreendentes.  Na verdade, várias expectativas são quebradas no decorrer das três horas de filme e esse é o próprio motor do filme, se mover de acordo com as imprevisibilidades que ocor

NO ADAMANT (2023) Dir. Nicolas Philibert

Texto de Marco Fialho "No Adamant" é um documentário francês, dirigido por Nicolas Philibert, ganhador do Urso de Ouro no último Festival de Berlim. O título se refere ao nome do barco que acolhe pessoas com transtornos mentais, situado às margens do Rio Sena.  O filme mistura o modo observacional e depoimentos de alguns pacientes, dados diretamente para a câmera. Nas cenas observacionais, acompanhamos reuniões e conversas entre os próprios pacientes ou entre alguns administradores e oficineiros. O diretor Nicolas Philibert não fornece nenhuma cena explicativa sobre o trabalho realizado no Adamant, apenas vai perfilando cenas com as atividades desenvolvidas no local.  A proposta de tratamento psiquiátrico adotado no Adamant é diferenciada e nada convencional. Lá os pacientes frequentam oficinas de música, de desenho, de pintura, de dança, de gastronomia, dentre outras opções, além de organizarem um cineclube e um bar. Há uma similitude muito grande com as ideias da doutora br

LIMBO (2023) Dir. Ivan Sen

Texto de Marco Fialho Pode-se dizer que "Limbo", filme australiano dirigido por Ivan Sen, é uma dessas obras aparentemente estáticas e impenetráveis. Essa é a ideia que o diretor parece querer construir acerca de uma sociedade onde uma hierarquização, dominada pelo racismo aos aborígenes, se impõe às relações humanas e impedem que haja uma efetiva harmonia.  "Limbo" narra a ida de Travis, um investigador de polícia, a uma pequena e estranha cidade onde encontramos pessoas que moram dentro das montanhas, tipo umas cavernas, para analisar se vale reabrir ou não um caso de desaparecimento de uma aborígene, Charlotte, ocorrido há mais de 20 anos.  O diretor Ivan Sen desde o início assinala que "Limbo" não será um convencional filme policial, com investigações surpreendentes e grandes reviravoltas na história. Ele prefere ir por um caminho bem diferente, bem mais tortuoso e oblíquo. A começar pela fotografia, marcada por um frio preto e branco acinzentado que f

O TÚNEL DE POMBOS (2023) Dir. Errol Morris

Texto de Marco Fialho "O Túnel dos Pombos" é um dos documentários mais sinistros que assisti nos últimos tempos e muito devido ao curioso estilo que o experiente documentarista Errol Morris imprime ao seu filme. Primeiro porque o personagem é em si mesmo muito suspeito, nebuloso, escorregadio e muito misterioso. Estamos a falar sobre o espião britânico David Cornwell ou o escritor John Le Carré? Talvez esse seja um documentário em que, ao final, fiquemos com mais dúvidas do que tínhamos no início do filme.  A primeira impressão que temos é que não estamos assistindo a um documentário qualquer, a construção cinematográfica de Errol Morris impressiona em vários aspectos, desde a concepção imagética até a sonora. A sensação de realismo não existe nunca no filme, a começar pela fotografia lúgubre que toma conta da entrevista e depois por uma trilha musical que lembra os filmes de suspense ou espionagem. Logo na primeira cena, não sabemos se a conversa entre Morris e Cornwell é so

NA ÁGUA (2023) Dir. Hong Sang-Soo

Texto de Marco Fialho "Na água" talvez seja o filme mais inusitado da carreira do coreano Hong Sang-Soo, pelo menos dos últimos anos 10 anos, e olha que a produção de filmes do diretor é uma das mais abundantes, embora essa obra se utilize de um elemento mais insólito ainda para compor o seu novo trabalho, a imagem desfocada. "Na Água" foi exibido na mostra Enconteurs , no último Festival de Berlim. Esse é o filme mais simples, singelo e intimista que Sang-Soo já produziu, inclusive ele concentra em suas mãos boa parte das funções artísticas, como direção, roteiro, montagem, fotografia, composição, além da produção. O filme narra a história de um jovem ator que resolve se enveredar para a direção, mesmo que não saiba bem o que quer filmar. Tudo gira em torno desse personagem e sua relação com uma atriz jovem e um cinegrafista. Ainda que Sang-Soo tenha dois momentos dos personagens em torno de uma mesa, bebendo e comendo, a intensidade não é nem um pouco comparável c

COBERTURA DA 47° MOSTRA DE SÁO PAULO 2023 (on line)

FREMONT Dir. Babak Jalali COTAÇÃO: 9 Crítica: https://cinefialho.blogspot.com/2023/10/fremont-2023-dir-babak-jalali.html?m=1   ______________ O HOTEL ROYAL Dir. Kitty Green COTAÇÃO: 8 Crítica:  O HOTEL ROYAL (2023) Dir. Kitty Green (cinefialho.blogspot.com) _______________ NO ADAMANT Dir. Nicolas Philibert  COTAÇÃO: 6 Crítica:  NO ADAMANT (2023) Dir. Nicolas Philibert (cinefialho.blogspot.com) ________________ LIMBO Dir. Ivan Sen COTAÇÃO: 7   Crítica:  LIMBO (2023) Dir. Ivan Sen (cinefialho.blogspot.com) ________________ O TÚNEL DOS POMBOS Dir. Errol Morris COTAÇÃO: 9 Crítica:  O TÚNEL DE POMBOS (2023) Dir. Errol Morris (cinefialho.blogspot.com) ________________  NA ÁGUA Dir. Hong Sang-Soo COTAÇÃO: 6 Crítica:  NA ÁGUA (2023) Dir. Hong Sang-Soo (cinefialho.blogspot.com) _________________ AFIRE Dir. Christian Petzold COTAÇÃO: 8 Crítica:  AFIRE (2022) Dir. Christian Petzold (cinefialho.blogspot.com) ________________ ANATOMIA DE UMA QUEDA Dir. Justine Triet COTAÇÃO: 7   Crítica:  https://c

ANATOMIA DE UMA QUEDA (2023) Dir. Justine Triet

Texto de Marco Fialho "Anatomia de uma Queda", da diretora Justine Triet, foi agraciado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2023. Esse fato pode atrair muitas expectativas em relação ao filme, o que pode frustrar muitos espectadores. Não que a obra deixe a desejar, mas pode decepcionar quem espere algo de extraordinário ou fora do comum, o que decididamente ele não é.  A grosso modo, "Anatomia de uma Queda" é um filme de tribunal bem corriqueiro na sua construção, que parte de uma morte para se desdobrar em aspectos investigativos,  dramas irreconciliáveis, intrigas e uma boa dose de suspense.  Na trama, Sandra é uma escritora alemã bem-sucedida, casada com Samuel, um professor francês que sonha em ser também um escritor. Eles tem um filho, Daniel, um menino que ficou cego após um momento de displicência do pai, fato que mergulha o casal em uma crise interminável.  Depois de um incidente fatal, o filme dá uma virada e passa a trabalhar com a perspectiva da

20.000 ESPÉCIES DE ABELHAS (2023) Dir. Estibaliz Urresola Solaguren

Texto de Marco Fialho Desde que a discussão sobre gênero tomou grandes proporções e ataques pela extrema direita no Brasil, o tema ganhou maior atenção e cuidado. "20.000 Espécies de Abelhas" contribui e muito para esta conversa que precisamos ter sobre gênero no Brasil e no mundo.  O filme, dirigido por Estibaliz U. Solaguren, retrata dias fundamentais de Lucia, uma menina de 8 anos que nasceu em um corpo masculino e enfrentará a tudo e a todos para reafirmar este fato. Em um momento do filme, Lucia pergunta se teria algum jeito dela morrer e renascer novamente como menina. Essa pergunta é fundamental por tornar irrevogável os sentimentos de Lucia. Nada a fará voltar nesse sentido e quando ela coloca isso frontalmente, estamos a discutir o amor próprio e o direito de cada um se ver como o seu coração é, e não como outros o queiram determinar. Um dos pontos mais nevrálgicos de "20.000 Espécies de Abelhas" é o da aceitação social, isto é, o que as pessoas de seu conv

MAL VIVER e VIVER MAL (2023) Dir. João Canijo

Texto de Marco Fialho "Mal Viver" e "Viver Mal", dirigidos por João Canijo, são dois filmes que até podem ser vistos em separados, mas que foram feitos para serem apreciados um seguido do outro, como um díptico, já que sua filmagem contempla visões diferentes dos mesmos momentos, passados entre os donos de um hotel e os seus hóspedes no decorrer de uma diária. A grosso modo podemos dizer que em "Mal Viver" vemos a história pelo viés dos donos, já "Viver Mal" pelos olhos dos hóspedes. Entre os dois episódios, "Mal Viver" é melhor estruturado, por ter ideias mais bem realizadas do que "Viver Mal", este último fica pulverizado pelas diversas histórias que não consegue amarrar com tanto êxito. Claro que há no todo uma ousadia formal da proposta que deve ser sublinhada, e devemos reconhecer que não se trata mesmo de uma abordagem fácil de se executar. Fiquei a me perguntar, ao término de "Viver Mal" se realmente era neces

VILAREJO EL ECO (2023) Dir. Tatiana Huezo

Texto de Marco Fialho Tem documentários que nos vislumbram tão distantes de nossa experiência urbana, que parecem ficções. Esse é o caso de "Vilarejo El Eco", dirigido com toda a sensibilidade do mundo por Tatiana Huezo. Eu diria que é um filme sobre ser, uma aula de humanidade, de alma e de beleza. Ficamos extasiados a tal ponto que pensamos que aquelas existências ali postas em tela são invenções de um passado remoto, não mais possíveis de existirem nesse mundo regido pela ambição desenfreada. Em El Eco não parece haver guerras, só um sentido humanitário maior e um sentimento infindo de solidariedade.   Eu fiquei me perguntando, durante a projeção, se era possível ainda haver no interior do México, um dos países mais violentos do mundo, com seus cartéis de drogas, um lugar assim, com capacidade de contemplar a vida serena (apesar que nem sempre é assim, afinal, de perto ninguém é normal), em especial, a velhice daquela vovozinha, cercada pelo tempo, não só o seu, mas também

MENU PRAZER: LES TROISGOIS (2023) Dir. Frederick Wiseman

Texto de Marco Fialho O primeiro registro que vale a pena registrar acerca das quase quatro horas de "Menu prazer: Les Troisgois" é que os minutos passam suaves pelos nossos sentidos. O diretor Frederick Wiseman desnuda todo o processo que envolve o trabalho de uma família que está no ramo da alta gastronomia francesa há quase um século.  Frederick Wiseman sai um pouco do método observacional para assumir uma câmera mais próxima dos personagens e realizar uma montagem mais dinâmica que dê conta da agitação que é uma cozinha de um restaurante cuja excelência é um pré-requisito para a sua própria existência. Wiseman, salta por meio da montagem de uma panela a outra, de um preparo a outro, sem titubear, registrando o corre-corre dos cozinheiros.            O documentário é cuidadoso ao refazer os passos diários necessários para o sucesso dosem estudos e práticas em seus empreendimentos da família, os cuidados necessários como a escolha dos diversos fornecedores envolvidos, como

DOENTE DE MIM MESMA (SYK PIKE) 2023 - Dir. Kristoffer Borgli

Texto de Marco Fialho O filme parte de uma premissa absurda. Signe (Kristine Kujath Thorp) não se conforma com o sucesso midiático do namorado (Eirik Saether), um artista visual contemporâneo que cria arte a partir de objetos roubados. Tudo aqui é doentio e bizarro. Signe começa a se autoagredir até chegar a deformidade. Sua transformação facial é de tal ordem que ela acaba chamando a atenção da mídia.  O filme critica uma sociedade egocêntrica, profundamente infantilizada, em que as pessoas se submetem a diversos absurdos para chamarem a atenção. Depois de um certo momento, lá para o último terço, o filme não consegue mais desenvolver o próprio absurdo a que se propôs e perdendo consideravelmente o ritmo inicial.  A postura da direção me parece muito cômoda em relação aos fatos bizarros alinhavados. Tudo é tratado com muita naturalidade. Tem uma cena esdrúxula em que ele faz um discurso em meio a um jantar da alta sociedade e Signe justamente começa a passar mal nessa hora, ele não só

O PEQUENO CORPO (2023) Dir. Laura Samani

Texto de Marco Fialho "Pequeno Corpo" surpreende pela tenacidade da jovem Ágata (Celeste Cescutti) a enfrentar todos os demônios sociais para poder enterrar com dignidade o seu bebê que nasceu morto, e que a igreja não quer batizar porque não chegou a nascer.  A diretora Laura Samani narra a saga de Ágata com extrema sensibilidade, enorme senso de sororidade e empatia. O filme confronta a delicadeza na abordagem da personagem com a imensa brutalidade social. É como se Samani pegasse na mão de Ágata, a conduzisse com sentimento de solidariedade a sua dor e ao próprio dogma. Se a igreja ignora friamente o dogma, Ágata não. E a insistência dela lembra a da tragédia grega de Antígona, que precisa enterrar o corpo do irmão, considerado por Creonte, rei de Tebas, um traidor.  Ágata não aceita que seu filho seja enterrado como um indigente, sem nome como se não existisse. O filme é muito sobre esse processo de Ágata fazer o seu filho existir, não deixar que a intolerância a convença

CONTO DE FADAS (2023) Dir. Aleksandr Sokurov

Texto de Marco Fialho "Conto de Fadas" é o mais novo trabalho do cineasta russo Aleksandr Sokurov. Apesar do título sugerir algo no mundo da fantasia romântica, o que vemos em si são personagens históricos como Hitler, Stálin, Mussolini, Jesus Cristo e Churchill vagando pelo purgatório, em uma referência direta à obra de Dante Alighieri. Falar de grandes nomes da história não deixa de ser uma marca de Sokurov como cineasta, basta pensar nas obras que fez a partir de Hitler, Hiroito e outros.         O filme do mestre russo se utiliza da tecnologia deep fake , que se aproveita de imagens de arquivo para simular novas situações, fazendo personagens já mortos moverem a boca, parecendo estar em uma conversa. Assim, vemos Stálin falando em um caixão, enquanto Cristo responde numa mesma perspectiva, igualmente deitado a conversar com o líder russo. As conversas que se seguem com os outros líderes não passam de trocas de alfinetadas, que tentam provocar um humor que soa sem graça.  

CASSANDRO (2023) Dir. Roger Ross Williams

Texto de Marco Fialho "Cassandro", drama biográfico mexicano, dirigido por Roger Ross Williams, tinha todos os ingredientes para ser um filmaço, um ator protagonista fantástico (Gael Garcia Bernal) e um tema interessantíssimo (um homem gay em meio a um ofício profundamente masculinizado). Porém, "Cassandro" não passa de um filme ok, correto, com alguns momentos bem filmados aqui e ali, que no todo se revela esquecível, pela total falta de ousadia narrativa do diretor, que escolhe narrar convencionalmente uma história que merecia bem mais. "Cassandro" é o nome profissional de Saúl Armendáriz, um homem gay que pretende ser alguém na luta livre. No enredo, ainda utilizando o nome artístico de El Topo, ele encontra uma treinadora jovem que o incentiva a trocar o nome para Cassandro, o exótico retirado de uma novela mexicana chamada "Kassandra". Sua postura nos ringues muda, tornando-se mais irônico ao salientar trajes mais afeminados e grandiosos, o

LEME DO DESTINO (2023) Dir. Julio Bressane

Texto de Marco Fialho Julio Bressane é um dos cineastas brasileiros de maior inventividade hoje no Brasil, e como impressiona a sua capacidade de se reinventar. "Leme do Destino", filme mais recente do diretor é mais uma aula de como fazer cinema com baixo orçamento e mantendo um enorme controle artístico. O filme é mais um primor do diretor, um elixir para os olhos e os sentidos dos espectadores.         O filme começa com uma longa conversa entre duas mulheres sobre sexo, casamento, fidelidade, relacionamento, entre outros assuntos, regados a doses de cachaça. As mulheres são interpretadas por Simone Spoladore (uma escritora) e Josie Antello. O magnetismo delas em cena é surpreendente, ambas, não só estão soberbas em seus papéis como se deixam conduzir pelo olhar afiado de Bressane. A presença da bebida em cena permite um trabalho de liberação dos corpos, uma espontaneidade estupenda e uma química maravilhosa.  Em "Leme do Destino", Bressane vai da teoria à prátic

PRISCILLA (2023) Dir. Sofia Coppola

Texto Marco Fialho A primeira nota a ressaltar sobre "Priscilla" é o quanto o filme tem a marca, o selo Sofia Coppola. Tanto o uso constante dos planos detalhes quanto os movimentos de câmera, além de recursos musicais muito característicos da diretora, estão  presentes em "Priscilla". Sofia Coppola dedica o seu filme inteiramente a sua personagem e a delimita em suas emoções contidas, com planos executados com precisão milimétrica. Coppola mostra-se hábil no exercício de sua mise-en-scène, construindo uma personagem sólida cena a cena e demonstrando o quanto a câmera tem o poder de posiciona-la perante ao mundo.  Uma das grandes sacadas de Sofia Coppola é  situar Priscilla Presley (Cailee Spaeny) dentro de um universo glamouroso e aprisionante. Na verdade, a diretora desconstrói em menos de duas horas a vida glamourosa da menina que como tantas sonhavam em casar com o maior nome do pop mundial, o cantor Elvis Presley.  Algo que incomoda em "Priscilla" é a