Texto por Carmela Fialho
O filme Prisão nos Andes, do diretor chileno Felipe Carmona Urrutia é tão soturno quanto a sua temática, que aborda a casa-prisão de luxo onde viviam cinco militares da alta patente que exerceram o poder e comandaram a tortura durante a ditadura de Pinochet no Chile.
O diretor optou por uma fotografia escura e sombria, com muitas cenas ocorridas durante o período da noite e dentro da casa-prisão de luxo aos pés da Cordilheira dos Andes, cujo objetivo é passar um clima de tensão constante entre os prisioneiros de alta patente e os carcereiros de baixa patente. O clima de tortura tanto física como psicológica permeia todos os momentos do filme.
A narrativa se desenvolve abordando o cotidiano dos cinco militares condenados que comandavam diariamente os militares de baixa patente, que os serviam como cuidadores com ameaças constantes inclusive ao diretor da prisão militar. O tratamento dispensado aos prisioneiros é totalmente invertido nessa casa- prisão, os militares condenados por tortura têm privilégios com tratamento de luxo recebendo periodicamente artigos encomendados como perfumes, bebidas, livros e comidas diferenciadas. O auge dessa afronta acontece numa festa no dia da independência do Chile, com direito da presença de um pianista e o direito de terem liberadas bebidas sofisticadas e caras.
A virada do filme ocorre quando um dos militares preso concede uma entrevista, divulgada em rede nacional, se vangloriando de seus privilégios na casa-prisão, como uma forma de enfrentamento à sociedade chilena, a ministra da Justiça e a Comissão de Justiça que os julgou e os condenou à prisão. O orgulho e a vaidade desses militares, que outrora tiveram poder, acaba levando ao fim dos privilégios e mudança nas condições do cárcere. A casa-prisão é desativada e eles são transferidos.
A cena da transferência da prisão nos Andes é marcante ao retratar os comandantes condenados comentando várias torturas e mortes de importantes figuras da esquerda chilena, discutindo detalhes sórdidos sem nenhum arrependimento, pelo contrário, até exibindo orgulho e prazer. Logo depois, em uma cena simbólica e grotesca, eles estão em um banquete com várias iguarias comendo vorazmente, uma analogia animalesca ao poder que exerceram durante a ditadura chilena.
Podemos entender o filme como um drama soturno, pois acompanhamos dentro da casa-prisão uma série de assassinatos brutais cometidos pelos militares de baixa patente e o clima constante de ameaças dos militares torturadores aos seus carcereiros, inclusive com momentos de agressão física. A importância do filme reside no fato de denunciar os privilégios da elite militar da ditadura de Pinochet, mesmo após a condenação, e manter viva na memória as atrocidades dos regimes ditatoriais em tempos de avanço da ultradireita na nossa sociedade atual.
Louca prá ver
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