Texto de Marco Fialho
Twisters, dirigido por Lee Isaac Chung, como um bom filme de Hollywood não consegue se separar da ideia de heroísmo. Parece que, se algum personagem não assumir essa faceta edificante, ele nada pode ser. É uma condicionante do ato de existir desse cinema, querer encorajar cada cidadão a ser diferenciado, tendo o germe de quem está sempre apto a fazer a diferença. E claro, ainda tem os traumas do passado, esse elemento que gera motivação ou até mesmo culpa nos protagonistas.
Porém, como realizar um filme de catástrofe sem inserir heróis. Twisters trata desse tema que também é muito propício aos efeitos especiais, afinal, como retratar a destruição de um tornado no cinema sem o auxílio da tecnologia, dos recursos tão avançados que se dispõe? E nesse quesito, o filme é uma baita realização, não só pela imagem em si, mas igualmente pelo som muito bem construído.
Twisters poderia até ser mais um blockbuster alucinado, com muita ação e correria, estrondos e nada mais. Mas é até louvável que o roteiro lembre de abordar uma certa indústria da catástrofe, de poderosos que se aproveitam das destruição e da falência alheia para lucrar e se dar bem. Muito embora, a história aqui se restringe aos peixes pequenos, aos funcionários que concretizam compras de terrenos dizimados por uma bagatela. O chefão, um político, aparece poucas vezes, é praticamente um figurante na história. Sim, mas poderia sequer o filme abordar esse viés crítico e de denúncia.
Tem ainda a loucura dos caçadores de tornados, uma espécie de cowboys ávidos por domar o fenômeno mais enlouquecido e demolidor da natureza. São figuras que beiram o exótico, que usam da catástrofe como oportunidade mediática, para vender camisetas e as suas próprias imagens nas redes. Contudo, como um filme hollywoodiano existe o herói, aliás, a heroína Kate (Daisy Edgar-Jones), uma pesquisadora inicialmente intuitiva, mas depois uma estudiosa desse estranho fenômeno da natureza. Isso é também interessante, o fato de se ter aqui uma mulher como protagonista de um filme de ação, já que Kate é uma espécie de Furiosa dos ventos. Para acompanhá-la em meio aos tornados tem Tyler (Glen Powell, o astro do momento), um dos cowboys ávido por aparecer nas redes sociais, embora confesse ter achado Glen Powell por demais enfadonho, besta e forçando a barra com caras e bocas em demasia.
O ponto forte de Twisters é saber se apoiar na atuação carismática de Daisy Edgar-Jones e saber valorizar as boas cenas de ação, bons efeitos visuais e sonoros, além de conseguir aliar a tudo isso um toque de crítica política na história. Mesmo que algumas conversas sobre os tornados sejam para iniciados no tema, elas facilmente se misturam à trama e não causam cansaço. Considero importante frisar a denúncia que o filme faz em relação a políticos espertalhões que se aproveitam da situação de catástrofe para aumentar a sua riqueza e a influência política. Ao final, Kate é a grande heroína e Tyler se submete a ela, que não se dobra facilmente a ele.
Apesar de remeter a Twister (1996), essa não é uma continuação, embora seja aproveitado o título anterior como chamariz para Twisters. A Hollywood dos últimos anos não consegue seguir sem os vínculos das franquias, que na maioria das vezes são forçadas, como essa não deixa de ser. A busca pela bilheteria a qualquer custo é bem evidente, até quando o filme talvez nem precisasse dessa forçada de barra. É o caso de Twisters, que pode até necessitar das eternas figuras dos heróis dos filmes de Hollywood, mas não de ser mais uma apelativa franquia a chegar no mercado.
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