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Mostrando postagens de janeiro, 2018

ARÁBIA - Direção de Afonso Uchôa e João Dumans

O cinema como matéria do existir Crítica de Marco Fialho Há muito tempo um filme não me mobilizava tanto quanto "Arábia". O que passa à nossa frente é de grande impacto, uma profusão de sentimentos e de encontros. E é justamente por meio de um encontro inusitado e casual entre um rapaz e um caderno repleto de anotações que somos apresentados a um personagem. Curiosamente já havíamos visto esse personagem, mas ele parece apenas nascer para nós a partir da leitura de seus pensamentos, ou melhor, a partir da sua fabulação sobre a sua vida, como se a nossa parca existência precisasse desse processo de autofabulação para poder existir. E  isso para mim é o que mais fascina em "Arábia", fazer necessário o próprio existir do cinema por meio da nossa memória, como bem diz nosso Cristiano o que fica é a nossa lembrança de tudo que vivemos. E devido a isso essa obra nos soa tão pulsante, pois ela nos fala fundamentalmente do cinema, do seu processo para existir, da neces

LOU - Direção Cordula Kablitz-Post

Personagem ousada em narrativa quadrada Crítica de Marco Fialho O que mais nos impele a continuar seguindo "Lou" até o fim é a incrível história dessa personagem fascinante, revolucionária e atualíssima chamada Lou Salomé, uma filósofa e pensadora inquieta. Suas atitudes e ideias conseguem soar emancipatórias tanto na sua época (final do Século 19 e início do 20) quanto hoje. Não à toa essa mulher impressionou homens extraordinários como Friedrich Nietzsche, Sigmund Freud e Rainer Maria Rilke. Pena que o pensamento de Lou não seja muito explorado pela diretora Cordula Kablitz-Post, que privilegia nitidamente mais suas posturas como mulher do que como pensadora.  Por conta disso, o ponto alto de "Lou" é justamente seu elenco. O maior destaque fica a cargo da atriz Katharina Lorenz, que interpreta Lou na fase adulta. Sua atuação, além de convencer, faz com que nós espectadores consigamos acompanhar a sua trajetória. Merece destaque também o trabalho da atriz

THE SQUARE - Direção de Ruben Östlund

Um museu de distorções Crítica de Marco Fialho Polêmica e cinema são duas palavras em uma parceria constante. Realmente elas combinam pra valer. Mas há nessa relação também alguns limites de razoabilidade. "The Square" para o meu gosto passa do ponto, e muito. Algo que vem me surpreendendo nos últimos anos é o quanto a sutileza vem sendo desprezada por muitos cineastas, em especial alguns europeus, historicamente bem atentos a esse aspecto. Me alarma ainda de "The Square" ter recebido o prêmio máximo em Cannes, a cobiçada Palma de Ouro. Na trama básica de "The Square", Christian é um administrador de museu que após ter seu celular roubado toma atitudes que acabam causando mais problemas em sua vida. Em paralelo, o museu contrata uma empresa de marketing numa tentativa de criar estratégias para conquistar mais público para sua próxima exposição chamada de "O quadrado". Logo no início do filme somos expostos a uma entrevista de Christian,