Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de março, 2020

BECO - Direção de Camilo Cavalcante

A verdade e suas armadilhas Por Marco Fialho Camilo Cavalcante se notabilizou por seus curtas, até que em 2014 realizou seu primeiro longa: A história da eternidade, um filme ficcional que apesar de recente pode ser considerado um novo clássico de nosso cinema. "Beco" é o seu segundo longa e dessa vez  sua aposta é em um documentário sobre o Beco dos infernos, no popular bairro de Afogados, em Recife. Enquanto documentário, "Beco" transita por atalhos interessantes, entre depoimentos e mapeamento visual do ambiente retratado. A cada nova cena somos convidados a adentrar na atmosfera do local, seja pelas imagens reveladoras, seja pela sonoridade que nos envolve, com suas músicas sensuais que nos chegam pelos aparelhos de TV e as inúmeras jukebox espalhadas pelos inúmeros bares do beco. A cada cena, o homem simples e sua maneira própria de se expressar e estar no mundo são desnudados. A câmera mostra rostos em planos próximos, visivelmente talhados pela dificul

UMA VIDA OCULTA - Direção de Terrence Malick

"É melhor sofrer injustiça do que cometê-la" Por Marco Fialho Desde "A árvore da vida" (2011), Terrence Malick devia um filme realmente consistente, à altura do seu talento como diretor. Cineasta que iniciou a carreira na década de 1970 com dois filmes primorosos, "Terra de ninguém" (1973) e "Cinzas do paraíso" (1978), ficou vinte anos inativo até ressurgir com o filosófico filme de guerra "Além da linha vermelha" (1998), que o colocou, com justiça, novamente em evidência. Agora com "Uma vida oculta" (2019), Malick volta ao tema da guerra e nos brinda com um filme melancólico, belo e represado de vida. É um filme de atmosfera, onde suas três horas de duração são propícias para a criação do clima pretendido pelo diretor.                E logo nas primeiras cenas reconhecemos "Uma vida oculta" como uma legítima obra de Malick. Seu estilo inconfundível está presente o tempo todo, mas aqui de maneira mais controla

LIBERTÉ - Direção de Albert Serra

Os corpos pela liberdade    Por Marco Fialho "Liberté", novo filme do inusitado diretor catalão Albert Serra não é uma obra de fácil acesso. Ela desafia a paciência do espectador com planos lentos, longos e repetitivos. A temática da libertinagem também se constitui em outro elemento de difícil digestão. Cenas de escatologia, sexo bizarro e tantas outras esquisitices inundam a tela, ininterruptamente. As provocações de Serra à contemporaneidade são notórias. O filme se passa antes da revolução francesa, mas o título remete ao seu famoso lema "Liberdade, Igualdade e fraternidade". A liberdade aqui enfatizada é a dos corpos. Liberdade que só é vivida em plenitude na escuridão da noite.                   A trama se desenha com nobres franceses, adeptos da filosofia libertina, que depois de expulsos pelo reinado de Luis XVI, almejam  levar para Alemanha polêmicas e audaciosas práticas sexuais. O estranhamento na obra de Albert Serra pode ser visto também em seus