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Mostrando postagens de setembro, 2021

SOLARIS (1972) Direção de Andrei Tarkovski

Sinopse: O cosmonauta e psicólogo Kris Kelvin (Donatas Banionis) é enviado à estação espacial Solaris, para investigar o que levou a tripulação à loucura. Ao chegar ao local, ele começará uma viagem inesperada aos recessos da sua própria consciência. O homem e seus espelhos Texto de Marco Fialho Com "Solaris", Tarkovski dá uma guinada na carreira ao se enveredar pela primeira vez no universo filosófico da metafísica e de maneira irreversível. O filme é baseado no livro homônimo, publicado em 1961, do famoso escritor polonês de ficção-científica Stanislaw Lem, embora guarde diferenças inconciliáveis com a obra de Tarkovski, em especial no enfoque mais voltado para o Planeta Terra e seus habitantes, o que torna a questão alienígena no Planeta Solaris quase imperceptível na trama do filme. O que Tarkovski faz é subverter a obra literária, criando uma obra cinematográfica a partir dela, dentro da crença do diretor de que o cinema deveria buscar uma autonomia de linguagem em relaç

ANTENA DA RAÇA (2020) Direção de Luís Abramo e Paloma Rocha

Glauber e a transformação do mundo de hoje Texto de Marco Fialho Como Glauber Rocha veria o mundo de hoje? Como reagiria com a sua arte? Manteria a verve que tão bem o caracterizava? São perguntas que ficam no ar, nos circundando, assim que terminamos de assistir ao potente documentário "Antena da raça", dirigido por Luís Abramo e Paloma Rocha. Entender o Brasil, decifra-lo historicamente (tarefa das mais complexas até hoje) por meio das interrogações glauberianas, da luta que ele travou tanto nas artes quanto fora delas para reformar as estruturas socioeconômicas desse país continental.                 A grande proeza de "Antena da raça" está em como ele consegue se estabelecer como um organismo vivo, sobretudo pela maneira como trata da relação entre passado e presente. Os petardos de Glauber desferidos no programa de TV "Abertura" que realizou entre o período de abertura política no Brasil em 1979 e 1980, se voltam contra os nossos dias, nos interrogam

ZIMBA (2021) Direção de Joel Pizzini

Sinopse: O filme aborda a trajetória artística e existencial do ator e diretor de teatro, Ziembinski, que ao denunciar o nazismo com a peça “Genebra” de Bernard Shaw é obrigado a fugir da Polônia. Após sua fuga, chega por acaso, ao Brasil onde se encontra com Nelson Rodrigues e monta Vestido de Noiva (1943), que revoluciona as artes cênicas no país. Narrado em primeira pessoa, a partir de vasto material de arquivo e com participações das atrizes Nathalia Timberg, Camila Amado e Nicette Bruno, o filme recupera performances de Ziembinski no cinema, novelas e teleteatros através de um diálogo cine-teatral. Apelido carinhoso recebido no país que o adotou, "Zimba" celebra a arte e o ideário do primeiro encenador “brasileiro", criador do teatro moderno e inovador da televisão latino-americana. A história encantadora de um polonês bem brasileiro Texto de Marco Fialho Uma das contribuições que o documentário pode dar à humanidade é a de trazer à luz personagens que passaram pela

ANDREI RUBLEV (1966) Direção Andrei Tarkovski

Sinopse:   Na Rússia medieval, do início do século XV, Andrei Rublev, um monge pintor de ícones é escolhido para criar os afrescos da Catedral da Anunciação, no Kremlin. Ao longo da missão, ele é confrontado com as violências do mundo, questiona a própria fé e ao salvar uma jovem, termina matando seu agressor. Depois de ano recluso em silêncio, Rublev será despertado pela crença de um jovem obstinado. Andrei Rublev e a arte como redentora do mundo perverso sob os auspícios da igreja ortodoxa russa Texto de Marco Fialho "Em muita sabedoria, há muito sofrimento, aquele que aumenta sua sabedoria, aumenta seu sofrimento" Teófanes, artista grego, mestre de Andrei Rublev "Andrei Rublev" (1966), é o segundo longa-metragem de Andrei Tarkovski, onde nota-se um esforço imenso do diretor em trilhar por um caminho mais autoral (aqui entendido como desenvolvimento de elementos estilísticos próprios). Se o resultado em si ainda não é pleno, pois há um quê de irregular na proposta

A INFÂNCIA DE IVAN (1962) Direção Andrei Tarkovski

Sinopse: Durante a Segunda Guerra, Ivan (Nikolai Buryaev), um menino de 12 anos, trabalha como espião no front soviético, cruzando as linhas inimigas para coletar informações dos nazistas.  Entre o realismo e o impressionismo: a dura realidade da guerra e o idealismo do onírico em Tarkovski   Texto de Marco Fialho Apesar de "A infância de Ivan" (1962) ser o primeiro longa de Andrei Tarkovski e de ser uma obra de grande impacto visual e sonoro, ela apresenta características diversas em relação as 6 obras posteriores do diretor russo. Há, por exemplo, um lirismo inserido no protagonista deste filme de estreia que depois não mais será resgatado. Tarkovski irá trilhar caminhos mais nebulosos e misteriosos, para não dizer herméticos, em busca de uma linguagem própria, com uma digital muito peculiar. O lirismo posterior estará presente mais na própria abordagem do diretor. A narrativa em "A infância de Ivan" esbarra na clássica, embora o diretor tente continuamente se esq

DE VOLTA PARA CASA (2019) Direção de Wayne Wang

Sinopse: O jovem escritor Chang-Rae começa seu dia cuidando sozinho de sua mãe com câncer, enquanto, ao longo de um dia, prepara para a família um jantar tradicional do Ano Novo coreano que aprendeu com ela. Antes de seu pai e sua irmã voltarem para casa, uma visita inesperada e encontros em seu bairro em São Francisco desafiam seus sentimentos de ser o filho de seus pais. A materialidade de uma memória melancólica e afetuosa  Texto de Marco Fialho Pode-se dizer que Wayne Wang é um diretor muito experiente, apesar de inconstante. No currículo acumula filmes marcantes - Clube da felicidade e da sorte (1993), Cortina de fumaça e Sem fôlego (ambos de 1995), Mil anos de oração e A princesa de Nebraska (ambos de 2007) e algumas concessões comerciais - Em qualquer outro lugar (1999), Meu melhor amigo (2005) e As férias da minha vida (2006). Com o seu mais recente trabalho, "De volta para casa"(2019), ele retorna ao cinema que o consagrou e que melhor expressa sua trajetória, a do i