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Mostrando postagens de novembro, 2019

AZOUGUE NAZARÉ - Direção de Tiago Melo

A resistência alvissareira pela cultura O cinema pernambucano está sempre a nos pregar peças! Mesmo depois do estrondoso sucesso de público de "Bacurau", nosso novo clássico arrebatador e de "Estou me guardando para quando o carnaval chegar", a belíssima e singela obra de Marcelo Gomes, eis que outra pérola nos chega para nos embasbacar novamente: "Azougue Nazaré", de Tiago Melo. Um primor de filme sob vários aspectos e perspectivas. Procurarei desenvolver algumas delas neste texto. Antes mesmo de falar do filme, se faz necessário frisar o quanto insensível o mercado exibidor se mostrou em relação a "Azougue Nazaré". Um filme que na segunda semana em cartaz, só está sendo exibido em duas salas, que ficam em extremos geográficos de difícil acesso, O IMS-RJ (Instituto Moreira Salles), no alto da Gávea e no Cine Arte UFF, em Icaraí, na cidade vizinha de Niterói. Cabe salientar que essas duas salas são hoje um oásis no Estado do Rio de Janei

BIXA TRAVESTY - Direção de Kiko Goifman e Cláudia Priscilla

Renomeando os corpos: o empoderamento do X e do Y Crítica de Marco Fialho publicada na ocasião da exibição do filme no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro de 2018. O último filme a ser exibido na mostra competitiva foi Bixa Travesty e temos que dizer bem claro, causou, e muito por aqui nas terras poderosas do Planalto Central. O poder agora é outro, é o da afirmação de identidade, ou de sua total dúvida, destruição ou mesmo o da desconstrução do próprio gênero humano. Como bem afirmou a personagem Linn da Quebrada em seu discurso, durante a apresentação do filme, "eu vim pra vencer, destruir. É claro que eles estão com medo, eu também estaria no lugar deles!". Se muitos dizem que o filme documentário precisa de personagens fortes, esse não é o problema de Bixa Travesty, de Kiko Goifman e Cláudia Priscilla. Linn domina a cena do início até o último suspiro desse filme que é pura dinamite. Linn parece ter o controle de tudo e como uma âncora centraliza tudo nela.

ÓRBITAS DA ÁGUA - Direção de Frederico Machado

A imagem-corpo e a música-alma   Por Marco Fialho       Um filho acompanhado de uma mulher volta para a casa em região ribeirinha após o pedido do pai. Chegando lá se confronta com seu nebuloso passado e terá que decidir sobre o seu futuro. Esse é o fio de história que Frederico Machado nos apresenta em "Órbitas da água", dividida em três partes: órbitas, lodo e água. Tudo o mais são peças e fragmentos a serem conectados pelos espectadores no decorrer de pouco mais de uma hora de duração. O filme é o quarto longa de Frederico e o que fecha a trilogia dantesca ("Exercício do caos" e "O Signo das tetas"), inspirada na obra poética de seu pai, o poeta Nauro Machado.    Órbitas da água é dos filmes de frederico Machado em que mais ele se expressa pelos corpos de seus atores e o aspecto sensorial é mais acentuado pelos planos e enquadramentos escolhidos. Visivelmente há uma preocupação permanente em despertar sensações nos espectadores. Os sons são

PARASITA - Direção de Joon-Ho Bong

A radiografia de uma sociedade podre Por Marco Fialho Muito se tem comparado "Parasita" e "Bacurau". Mas essa analogia não passa da página dois. As diferenças são bem mais acentuadas do que as semelhanças. Se os dois filmes misturam gêneros, "Parasita" passeia mais pelo humor, enquanto "Bacurau" pelo faroeste filtrado por Glauber Rocha. O gosto pelo slasher sim, pode ser um traço em comum entre as duas obras. Já a crítica proposta pelo filme coreano tem um fundo mais social enquanto o do brasileiro um cunho mais político. Um fala de união de um grupo, o outro de um traço mesquinho encruado no âmago da sociedade. Entretanto, o nosso foco aqui é "Parasita", filme de Joon-Ho Bong (O Hospedeiro, Mother e Okjia). A obra pode ser dividida em dois momentos, um bloco inicial, quando a família do Sr. Kim, vai ocupando todos os postos de trabalho na casa do Sr. Park. Nessa parte, o tom cômico prevalece. Em um segundo bloco, quando a figura

UM DIA DE CHUVA EM NOVA YORK - Direção Woody Allen

A homenagem nostálgica de Allen ao cinema, ao jazz e a Nova York Por Marco Fialho Desde que a Amazon colocou "Um dia de chuva em Nova York" na geladeira, ou melhor, no freezer, os fãs de Allen ficaram sem os seus filmes anuais. Allen processou a mega empresa de entretenimento e conseguiu reaver seu filme, mesmo sem ter a garantia que o exibirá nos Estados Unidos. Allen o lançará em outras bandas, entre elas felizmente está o Brasil. Como Allen jamais foi condenado pelas denúncias que Mia Farrow capitaneia já há alguns anos, a atitude da Amazon soou muito mais como um ato hipócrita de censura (especialmente pressionada pela campanha do Me Too contra Woddy Allen). Enfim, com um ano de atraso o público brasileiro poderá assistir o novo Allen. E "Um dia de chuva em Nova York" pode não ser o seu melhor dos últimos tempos, mas traz um resgate surpreendente do diretor de um tipo de comédia romântica tão afeito a ele, mas abandonado nas suas últimas produções. Esse é

O IRLANDÊS - Direção Martin Scorsese

A máfia e o sentido da vida Por Marco Fialho Recentemente, o diretor Martin Scorsese se meteu numa polêmica sem fim ao afirmar que, na sua visão, os filmes da Marvel não podiam ser encarados como cinema, mas como peças promocionais para atrair público para os parques temáticos da Disney e afins. Claro que célebre diretor norte-americano exagerou na medida. Mas a melhor resposta que ele podia dar seria outra, seria a de fazer um filme, um cinema com C maiúsculo para não restar dúvida de qual terreno a discussão estava partindo. Decerto existe múltiplas definições de cinemas e a exclusão de qualquer uma delas seria arbitrária, mesmo que concordássemos que o cinema dominante (que chega a ocupar até 90% das salas comerciais) não seja um bom exemplo de pluralidade de abordagens tanto na esfera do narrativo quanto no da construção do seu conceito imagético. Basta lembrar o que foi em 2019 o fenômeno "Vingadores Ultimato" nesse quesito, o quanto esse filme fechou espaços para o