Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de junho, 2022

AS VINHAS DA IRA (1940) Direção de John Ford

Sinopse: Inspirado no clássico livro de John Steinbeck, o filme narra a história de uma família de trabalhadores rurais durante a Grande Depressão de 1929. Buscando oportunidades de uma vida melhor, Tom Joad, após cumprir pena, leva a sua família em uma pequena camionete de Oklahoma para Califórnia, onde dizem ser um lugar mais próspero e de maiores oportunidades. Durante a viagem, eles se deparam com a nova realidade, ao mesmo tempo que descobrem que o lugar para onde estão indo pode ser pior do que o deixado para trás.   John Ford e a incorporação do homem comum à história dos Estados Unidos Texto de Marco Fialho Após ter trabalhado com Henry Ford no magnífico "A mocidade de Lincoln" (1939), John Ford retoma a parceria com o ator em "As vinhas da ira", com base no clássico da literatura de John Steinbeck. A história do filme se passa no auge da Grande Depressão no final dos anos 1920, onde uma família de arrendatários é expulsa de suas terras no norte dos Estados

AMIGO SECRETO (2022) Direção de Maria Augusta Ramos

Dando continuidade ao processo das farsas Texto de Marco Fialho O objetivo da diretora Maria Augusta Ramos é claro: desfazer a série de farsas que se montou na política brasileira a partir de 2013. Primeiro foi "O Processo"; agora, "Amigo Secreto". Confesso que depois do esclarecedor e minucioso "O Processo" (2018) assistir a "Amigo Secreto" me trouxe uma leve decepção, pelo menos do ponto de vista cinematográfico. Se o filme anterior de Maria Augusta Ramos se revelou de uma potência narrativa, onde diretora adentrou nos bastidores do impeachment da Presidenta Dilma com riquezas de detalhes, que só mesmo um documentarista pode captar, em "Amigo Secreto" os fatos nos chegam sem um grande impacto, talvez tenha faltado um frescor que havia em "O processo", que não senti nesse novo trabalho da diretora. Assim, gestos e outras sutilezas inesperadas que enriqueciam cada sequência do filme anterior, nesse de agora não pude ver de man

MÚSICAS QUE HABITAM EM MIM - Nº 4 - Pergunte ao João - Clementina de Jesus: convidado especial Carlos Cachaça

Músicas que habitam em mim, n° 4 Spotify – Clementina De Jesus: Convidado Especial Carlos Cachaca Um quintal furta-cor em Irajá ao som de Quelé Dizem que a memória costuma nos trair. Pode até ser, mas quando penso na casa dos meus avós maternos, que hoje já não existe mais, me vem à cabeça imagens muito precisas e fortes. Passava muitos dos dias das minhas férias escolares por lá, fora todos os finais de semana da minha infância. Domingo era sinônimo de casa de vó e vô, e esses momentos eram ansiosamente aguardados. Lá aprendi a jogar bola para poder chegar na escola e impressionar a galera. Lá o almoço com carne assada, batatas coradas, arroz e feijão era sagrado, não tinha erro. E não se pode esquecer da enorme peça de goiabada da sobremesa. Sim, porque meu avô comprava a quilo no Centro uma peça inteira que vinha embrulhada em um papel pardo rústico. Esse papel era comum em qualquer mercearia, que chamávamos então de vendinha, muito comum no subúrbio carioca nos anos 1960 e 1970. Ja

RASTROS DE ÓDIO (1956) Direção John Ford

Sinopse: Ethan Edwards (John Wayne) é um homem que parte em busca de vingança contra os povos nativos que exterminaram sua família e, ao mesmo tempo, tenta resgatar com vida sua sobrinha.  Quando o cinema revela o Velho Oeste como mito Texto de Marco Fialho Quando muitos já acreditavam no ocaso do faroeste, John Ford realiza uma das maiores obras da história do cinema, "Rastros de Ódio". A película marca a volta do diretor ao Monument Valley , seu cenário predileto, para narrar uma surpreendente história de vingança.  Ford conta basicamente com uma equipe que o acompanha há pelo menos dez anos, com destaque para o maestro Max Steiner, que apresenta uma das belas trilhas musicais já compostas para o cinema; e para o fotógrafo Wilton C. Hoch, que nos oferece imagens inacreditáveis do Monument Valley . O roteiro de Frank S. Nugent explora diversas ambiguidades ao dosar revelações e omissões de informações no decorrer da narrativa. Mas em "Rastros de Ódio" as atenções e

NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS (1939) Direção de John Ford

Sinopse:  Nove pessoas são obrigadas a embarcar em uma perigosa diligência através do Arizona, cada um com seu motivo pessoal para realizar tal viagem. Lotado de clássicas cenas do western, desde combates com os povos nativos até duelos na cidade, Ford explora com eficiência as paisagens naturais do Monument Valley  para instaurar uma nova forma de contar uma história de faroeste. O nascimento mítico da ideia fordiana do Velho Oeste               Texto de Marco Fialho "No Tempo das Diligências" é uma das obras mais aclamadas de John Ford, considerada uma obra-prima do faroeste: um fascinante e revolucionário road-movie do mais famoso diretor do gênero western . Um filme fundamental para o estabelecimento das diversas mitologias que envolveram a ideia de Velho Oeste, por isso uma obra seminal.   O filme traça um painel da sociedade norte-americana que imigrava para o oeste no final do século XIX. Na carruagem, que tem o destino o oeste selvagem e inóspito, viajam um banqueiro

A COLECIONADORA (1967) Direção de Eric Rohmer

Sinopse: Em Saint-Tropez, dois amigos, um pretenso colecionador de arte e um artista, encontram Haydée, uma rapariga bela e livre, conhecida por "colecionar" amantes de passagem. Rohmer: um cronista perplexo com o feminismo Texto de Marco Fialho Em um primeiro momento pode parecer no mínimo estranho que iniciarei uma aproximação analítica entre a crítica de cinema e a crônica por um filme que é autodenominado pelo seu criador de conto. Cabe então uma questão de ordem de que as fronteiras aqui são mesmo o eterno problema epistemológico dessa aproximação. O conto é uma prosa curta, assim como a crônica também o é. Mas digamos que o diferencial da crônica esteja na atualidade de uma ideia, sendo ela referenciada no passado ou no presente. Etimologicamente, crônica vem do grego, khrónos ( relacionado ao tempo), o que dialoga com o que foi definido acima. O tempo também é um componente fundamental do cinema, lembrando que para Tarkovski o registro do tempo está na origem do própri

FAROESTE CABRUNCO (2022) Direção Victor Van Ralse

Texto de Marco Fialho A fábula e o acerto de contas com a história O município de Campos hoje é mais conhecido pelo recente domínio da família do ex-governador Anthony Garotinho. Mas esse mal falar pode ser ampliado se reportado a um fato histórico muito anterior, a de que Campos dos Goytacazes foi a última localidade a acatar a abolição dos pretos escravizados lá no final do século  XIX. Isto se explica pelo passado ainda mais remoto de Campos trazer consigo a herança colonial da monocultura do açúcar. Todo esse ligeiro introito é para poder situar a discussão que o curta-metragem "Faroeste cabrunco", dirigido por Victor Van Ralse, traz à baila nos seus vinte e poucos minutos, pois é nesse debate cabuloso que o filme pode ser inserido.  Pode-se dizer que "Faroeste Cabrunco" é uma espécie de fábula que vai direto ao assunto, que nos poupa de grandes preâmbulos costumeiros e isto é bem interessante. Ouso dizer que o filme nasce de um desejo de justiça do diretor Van

ERA UMA VEZ NO OESTE (1968) Direção de Sergio Leone

Leone e a desconstrução dos mitos épicos e cinematográficos do Velho Oeste Texto de Marco Fialho Depois que John Ford realiza "No tempo das diligências", no ocaso dos anos 1930, o faroeste atingirá um período de grande sucesso perante ao público. As décadas de 1940 e 1950 serão de ápice do gênero. O chamado cinema de faroeste nada seria se não fosse pelas hábeis mãos de dois diretores fundamentais, que estabeleceram os códigos seguidos por uma legião de cineastas: John Ford e Howard Hawks. Essa dupla ratificou os preceitos básicos tanto narrativos quanto estéticos, além de continuarem significar e resignificar ano após ano os principais códigos do gênero. Porém, foi justamente no momento em que o faroeste perdia mais sua energia vital lá pelos anos 1960, que surgiu o chamado "Western Spaguetti", que mesmo realizado na Europa, revisitou e revisou alguns dos cânones sagrados revigorando um gênero que parecia perecer. Nomes como Sergio Sollima, Giulio Petroni, Giuliano