Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2019

CORINGA - Direção de Todd Phillips - PARTE 2 - a crítica

Entre o riso e o choro: a violência desnudando o mundo das aparências Por Marco Fialho "Só espero que a minha morte faça mais centavos do que a minha vida"                          Arthur "Coringa" Fleck Um primeiro fato deve ser considerado de cara: "Coringa" não é exatamente sobre o personagem Coringa. Coringa é o veículo, isto é, o meio pelo qual habilmente Todd Phillips realiza um estudo sobre os mecanismos de exclusão de uma sociedade profundamente calcada na desigualdade. E como a violência se revela o motor de suas engrenagens de poder. Não à toa, foi a violência um dos aspectos mais comentados e reiterados pelos críticos mais ruidosos do filme. A violência em "Coringa" é o simbólico, é o sintoma, é o fato, o cru, não o cerne da coisa. Não compreender isso é patinar e cair na superfície, sem realmente atingir as contraditórias entranhas propostas pela narrativa do diretor. A violência é uma armadilha, nada mais. Há a construção

CORINGA - Direção Todd Phillips - PARTE 1, o filme e a indústria

Uma análise do "Coringa" sem o "Coringa" Por Marco Fialho Quando uma obra de cinema é produto de uma adaptação literária, dos quadrinhos ou qualquer outra inspiração artística, o primeiro passo para que ela possa lograr é o da subversão, pela simples razão que ela precisa constituir-se como obra própria, como algo em si e não meramente como uma transposição em busca de uma fidelidade a todo o custo. Porém, há que se enxergar nessa nova obra o sentido da inspiração ou da adaptação. Enfim, existe nesse caminho sempre algo de tortuoso e complexo. "Coringa", de Todd Phillips dá conta desse desafio, desse diálogo conflituoso entre o que se faz e o que se espelha. Daí o seu filme se diferenciar drasticamente de todas as outras adaptações da própria DC e Marvel. E esse diferencial primeiro está no aspecto imagético mesmo. Tudo o que vemos em "Coringa" é uma outra maneira de representação do quadrinho, e numa certa ótica o seu apagamento no plan

ONDE QUER QUE VOCÊ ESTEJA - Direção de Bel Bechara e Sandro Serpa

O drama de vidas comezinhas Por Marco Fialho Apesar dos recentes e imensos esforços do novo Governo Federal para extinguir o cinema brasileiro, fica patente que nos dois últimos anos a produção brasileira se expandiu. Hoje a multiplicidade de temas, abordagens e estilos narrativos é visível, e isso é algo a se comemorar, sem dúvida. A proliferação de filmes de gênero como "As boas maneiras", "A sombra do mal", 'Bacurau"; os inusitados como "Inferninho"; os documentários políticos como "Democracia em vertigem", "Espero tua (re)volta" e "O processo"; os documentários etnográficos surpreendentes como "Chuva é cantoria na aldeia dos mortos", "Ex-pajé"; os poéticos como "Estou me guardando para quando o carnaval chegar"; os filmes de família como o estupendo "Benzinho e os filmes extraordinários mineiros como "Temporada" e "No coração da noite". Sem falar nas di

ACONTECEU NA QUARTA-FEIRA - Direção Domingos de Oliveira

O duplo e o múltiplo em Domingos de Oliveira Por Marco Fialho Pode-se dizer que "Aconteceu na quarta-feira" é mais um típico filme de Domingos de Oliveira. A verdade é que em sua derradeira obra, ele reafirmou coerentemente tudo que realizou no cinema em sua carreira, em especial em seus últimos filmes. Por isso agora, mais uma vez pode-se amar ou odiá-lo, como sempre acontece. "Aconteceu na quarta-feira" é em si uma grande ode ao teatro, ao jogo da vida e do cinema. Uma brincadeira com todas as artes que imitam a vida e seus sortilégios. Uma obra na qual sequer precisava dos créditos de direção, porque o estilo textual de Domingos está impresso em cada cena, em cada palavra ali proferida. Visto após a sua recente morte é como um ato de saudade, por saber que não ouviremos aquela voz e os pensamentos vigorosos em relação ao ato de viver. A presença da sua musa Priscilla Rozenbaum e de seu alter ego Ricardo Kosovski (visivelmente esforçando-se para aproxima