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Mostrando postagens de janeiro, 2019

CAFARNAUM - Direção de Nadine Labaki

O apelo sentimental de Nadine Labaki "Cafarnaum", terceiro longa dirigido pela jovem diretora libanesa Nadine Labaki (do insosso Caramelo, 2007), tem como protagonista Zain, um menino de 12 anos de idade que vive em condições precárias em uma favela. Acompanhamos a saga dele por uma penosa sobrevivência nesse "caos" (utilizado inclusive como título do filme), onde a numerosa família também luta para se manter em meio à pobreza. O filme está indicado ao Oscar 2019, na categoria de melhor filme estrangeiro. A abordagem proposta por Nadine para a construção cênica e dramatúrgica de "Cafarnaum" transita pelo sensacionalismo e não consegue aprofundar os temas propostos pelo enredo. Há uma primazia dos recursos cênicos que apenas salientam a dramaticidade da trama, que se alavanca mais pela emoção do que por uma ideia de reflexão. Ao assistir ao filme ficamos sim indignados, mas nunca somos levados a pensar sobre, mas somente a sentir as emoções das situaçõ

Balanço da 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes (2019)

Balanço da 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes Por Marco Fialho obs. somente foram acompanhados e analisados os filmes de longa-metragem. PRIMEIRO DIA - NOITE DE ABERTURA - 18/01 VAGA CARNE Logo na cerimônia de abertura da mostra podemos vislumbrar o quanto de instigante ela seria ao longo de seus 8 dias norteada pela temática "Corpos Adiante", pensada pelos curadores, mas inicialmente idealizada por Cléber Eduardo. Tudo começou com uma homenagem à Grace Passô, seguida à exibição do filme "Vaga Carne", inspirado no seu sucesso teatral e dirigido por ela em parceria com o cineasta Ricardo Alves Jr.. O filme foi produzido pela Universo Produções, organizadora do evento. O tempo para realização da obra foi de aproximadamente um mês. O desafio era imenso, pois como transcodificar  de uma linguagem para outra uma obra tão complexa em um espaço de tempo tão diminuto? Isso talvez possa justificar algumas imprecisões do filme, possuidor de qu

BOI DE LÁGRIMAS - Direção de Frederico Machado

Fragmentos do nosso fracasso e de nossa resistência Por Marco Fialho Quem conhece e acompanha o conjunto da obra cinematográfica de Frederico Machado sabe o quanto ela se afina com autoralidade e com o experimento. Agora em “Boi de Lágrimas” esse viés se mostra mais evidente e extremado do que nunca. Nas outras obras do diretor o experimental sempre rondava o narrativo, mas agora não, o narrativo é que se esvai por quase completo, até se insinua aqui e acolá entretanto sem efetivamente se impor. O que predomina em “Boi de Lágrimas” é a faceta impressionista de sua narrativa, uma colagem de diversas linguagens e de elementos expressos em som e imagem. O filme dialoga diretamente com o aspecto caótico não só da política, mas também de uma discursividade mais ampla, de cunho sócio-cultural e religiosa. Discursos do passado de Sarney se misturam vividamente e contraditoriamente às palavras de ordem vindas das manifestações contra o Governo Temer. No todo, as imagens aparecem s

TEMPORADA - Direção de André Novais Oliveira

Densidade na simplicidade Temporada, segundo longa do diretor mineiro André Novais Oliveira, da produtora Filmes de plástico, foi o grande vencedor do 51° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e com muita justiça. A sua estrutura narrativa pode até, enganadoramente, aparentar ser de uma simplicidade extrema, todavia ela constitui a própria estratégia de construção fílmica de Novais, conforme já havia esboçado em Ela Volta na Quinta, seu primeiro longa. Na verdade, o esforço do cinema que Novais vem percorrendo é o de tentar reconstruir o cotidiano, sempre de pessoas simples e que vivem nas periferias. Há nessa proposta um requinte fora do comum, a cada plano do filme sente-se isso, em especial se pensarmos nos corpos que habitam esse território, cotidianamente, desprezados e invisibilizados pelo sistema econômico e social. O que o cinema de Novais faz é potencializar essas corpos, os promovendo ao protagonismo, terreno onde jamais transitam, a não ser como eventuais bandidos

ASSUNTO DE FAMÍLIA - Direção de Hirokazu Koreeda

O afeto como redenção Por Marco Fialho Quem acompanha furtivamente a cativante filmografia do cineasta japonês Hirokazu Koreeda e perdeu seu filme anterior, "O terceiro assassinato", uma trama repleta de mistérios e suspense pode estranhar o inusitado "Assunto de família", seu último trabalho, laureado com a Palma de Ouro em Cannes em 2018. Em "Assunto de família" há uma visível mistura das consagradas e habituais tramas familiares afeitos ao diretor, mas com uma guinada inesperada que descamba para uma investigação policial. Quando Koreeda realiza esse deslocamento, o filme não só ganha em interesse para o espectador como também em alternativas de visões sobre o mundo e nossos valores. É como se ele nos tirasse de um determinado olhar domesticado sobre a família e nos colocasse diante de uma nova lente que revela impasses mundanos surpreendentes. Não há julgamentos dele enquanto diretor, o que nos faz repensar a visão de como são constituídos