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Mostrando postagens de abril, 2020

MORTE EM VENEZA (1971) Direção de Luchino Visconti

O encontro de Visconti com Mahler Por Marco Fialho As suas mãos onde estão? Onde está seu carinho? Onde está você? Se eu pudesse buscar Se eu soubesse onde está Seu amor, você. Um dia há de chegar Quando, eu não sei Você vai procurar Onde eu estiver Sem amor, sem você Letra da canção "Suas mãos", composta por Antonio Maria. Luchino Visconti amava literatura. Vários de seus filmes foram adaptados de importantes romances. "Morte em Veneza", baseado no romance homônimo de Thomas Mann, foi um deles, e nele, nos deparamos com seu habitual estilo refinado de filmar, só que aqui mais misterioso do que nunca e por demais interiorizado. Sua versão cinematográfica vai para além da mera reconstituição de época e da adaptação descritiva, pois esse é um filme para ser captado pelas bordas, para se apreender os inúmeros sentimentos que o atravessam. Assim como em uma sinfonia, existe algo que está para além das notas, um espírito a ser construído por cada ouvi

ME CUIDEM-SE (2020) Direção de Cavi Borges e Bebeto Abrantes

Poetizando o isolamento Por Marco Fialho Quem achou que o inquieto Cavi Borges ficaria em casa sossegado, aproveitando para usufruir de um merecido descanso, por conta do isolamento social recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) devido à pandemia do coronavírus, se enganou, e muito. Rapidamente, ele e Bebeto Abrantes se reuniram (cada um em sua casa) para a realização do filme "Me cuidem-se" que reflete o momento insólito e difícil que vivemos como sociedade durante a primeira semana do isolamento social. Em quase trinta minutos de filme, Cavi e Bebeto retratam a situação de 3 cidades no Rio de Janeiro (São Gonçalo, Nova Iguaçu e Rio de Janeiro) sob o ponto de vista de 8 pessoas. Vemos as ruas, as rotinas, como cada um encara esse isolamento compulsório. Involuntariamente, o filme versa sobre as diferenças impostas ora pelas individualidades ora pela questão social de onde se mora. Por isso, "Me cuidem-se" parte de uma ideia que intercala o social

ERA UMA VEZ NA AMÉRICA (1984) Direção Sergio Leone

O triste retrato da ilusão humana Por Marco Fialho "... As mãos doentes entre os dentes Entre os dentes de um cão O corpo fino, cristais O quarto limpo, metais Entre os dentes da paixão Chão, caixão, escada Apenas um jogo de palavras Entre tudo e nada Entre os dentes podres da canção" Trecho da letra da canção "Vinhos finos...cristais" (1971) de Paulinho da Viola "Era uma vez na América" pode ser visto como um anti-épico de Leone. Isto porque toda a grandiosidade que vemos em alguns momentos é apenas ilusória. Temporalmente, o filme se estrutura de forma descontínua, Leone foge sistematicamente da espetacularização como estratégia narrativa, embora fiquemos sempre com a impressão que o espetáculo em algum momento eclodirá e nos deixará encantados. Entretanto, a cada nova cena Leone vai caminhando para um indeterminismo e isso por uma razão bem clara, o que ele quer é realizar um tratado filosófico sobre um homem simples de Nova York, e mais especif

1900 - Direção Bernardo Bertolucci

O inventário de uma Itália patriarcal Por Marco Fialho "Filho do senhor vai embora, tempo de estudos na cidade grande Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante Não esqueça, amigo, eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará Quando volta já é outro, trouxe até sinhá mocinha pra apresentar Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá Já tem nome de doutor, e agora na fazenda é quem vai mandar E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha"                                      Trecho da canção "Morro Velho", de Milton Nascimento (1966)  Quando se juntam muitos talentos em torno de um projeto como o foi para realizar "1900" cria-se uma imensa expectativa sobre o seu resultado. Imagina reunir em um mesmo filme, o diretor e roteirista Bernardo Bertolucci, o fotógrafo Vittorio Storaro, o maestro Ennio Morricone e os atores Robert De Niro, Gérard Depardieu, Dominique Sanda e Burt Lancaster em

O CINEMA E AS ARTES CÊNICAS - Dicas de filmes para quarentena

Por Marco Fialho As Artes Cênicas estão na base do cinema e isso é um fato. Desde a sua origem, a genética do cinema está inoculada por elas. O teatro, o circo e a dança sempre estiveram presentes no cinema e hoje ainda estão. De Meliès, passando por Griffith, Chaplin, Keaton, Fellini e tantos outros, essas três artes centenárias contaminaram e se misturaram ao cinema. A própria popularização do cinema muito se deve a arte transbordante e circense de Charles Chaplin e seu Carlitos. O próprio impulsionador da narrativa cinematográfica, David W. Griffith, veio do teatro. Meliès pensava seu cenário e enquadramento como um palco de teatro. O peso das primeiras câmeras impunham a imobilidade, ficando para os atores a mobilidade dentro desse palco delimitado pelo enquadramento fixo da câmera. Mas essa relação entre cinema e artes cênicas germinou tanto que durante toda a história do cinema seus ecos foram ouvidos, o que resultou em muitas vezes obras ora cativantes ora densas, prov