Texto por Marco Fialho
Com Santino, o diretor Cao Guimarães volta a seu território de conforto ao realizar um documentário sobre um homem do interior e sua idiossincrasias perante ao mundo. Mais uma vez, o que mais impressiona é a maneira como Cao filma seus personagens, como ele deixa transparecer uma explícita admiração a esse ser chamado Santino, um homem que luta com todas as forças para se integrar à natureza. Confesso que Cao é um dos meus cineastas preferidos, mesmo que Santino não esteja entre os seus trabalhos mais potentes.
Em vários momentos a câmera de Cao mostra a surpresa e a delicadeza do cineasta em capturar a natureza em sua forma mais bruta e bela. De alguma maneira, o filme é também sobre as veredas do norte de Minas, região que o diretor insistentemente tenta resgatar a própria noção de humanidade. Santino não é somente um homem exemplar, é também um homem comum, com defeitos e com dificuldade de lidar com o mundo e com a própria família.
Curioso como Santino é igualmente sobre a perplexidade de Cao sobre o personagem, e isso fica evidente pelas perguntas que o diretor faz a ele e a sua esposa. Santino conhece as plantas e ervas com detalhes, o que fascina a todos, inclusive a um grupo de adolescentes que vai ouvi-lo falar sobre a mãe natureza, mas ao mesmo tempo há uma desconfiança da esposa sobre o seu conhecimento.
Santino é uma espécie de homem que fascinaria o poeta pantaneiro Manoel de Barros, com suas invenções e prosas sobrenaturais sobre a natureza, seres míticos e outras "inutilidades" que dizem muito sobre o mundo naquelas veredas mineiras. Santino acredita que pode colaborar para despertar as pessoas para uma conscientização da força da mãe natureza e uma maior qualidade de vida no planeta. Mora nas veredas por opção, não quer viver numa cidade grande.
Na verdade, tudo nesse universo das veredas nos seduz, mas isso acontece porque Cao cria uma atmosfera para que tudo isso aconteça. A beleza poética da vida se encontra com um cineasta disposto a revelações e a descobrir mundos que o mundo não conhece, ou finge não conhecer.
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