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Mostrando postagens de fevereiro, 2019

HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO - Direção de Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman

Entre as dimensões do "real" e do simulacro: o homem-aranha da diversidade Por Marco Fialho Só como introdução e antes de entrar na análise propriamente dita, gostaria de fazer um breve comentário. Quem acompanha o meu blog com constância, sabe como não costumo analisar os filmes chamados de blockbuster. Mas me senti disposto a não só fazê-lo aqui, como desafiado mesmo em refletir sobre essa intrigante animação chamada "Homem-aranha no aranhaverso". Desde que ouvi esse título confesso que gostei de um certo estranhamento que ele traz consigo, essa repetição do nome aranha, pouco usual e ainda tudo o que o cercava, um personagem negro, ser uma animação, e claro, o estranho título.  Ao trazer o "Homem-aranha no aranhaverso", dirigido pelo trio  Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman,  a Sony Pictures, associada à Marvel, nos oferece uma história potente bem roteirizada e com um acabamento imagético impressionante, embalados por uma animação c

PODERIA ME PERDOAR? Direção de Marielle Heller

O êxtase interpretativo de Melissa McCarthy Por Marco Fialho "Poderia me perdoar?", dirigido por Marielle Heller, é mais um típico caso de injustiça do Oscar, com apenas três indicações (atriz, ator coadjuvante e roteiro adaptado). Merecia bem mais. O filme faz lembrar aqueles grandes clássicos de Hollywood, onde se destacam o roteiro, a fotografia, a carpintaria da direção e atuações impecáveis dos atores. Talvez o único senão seja esse encaixe muito azeitado e redondo, sem um parafuso sequer frouxo. Enfim, falta algo de imperfeição, um quê de imprecisão humana no fazer artístico. O fato de ser uma história verídica aliada a uma produção esmerada, pode ter colaborado para essa sensação de que tudo está muito certinho demais. Apesar de tudo está certinho demais no desenvolvimento narrativo e na técnica, o que mais compensa de ver são as devidas ranhuras inerentes aos personagens, o que torna "Poderia me perdoar" um drama envolvente. Um filme realizado por um

SE A RUA BEALE FALASSE - Direção de Barry Jenkis

A força do estético e do político em Barry Jenkis Por Marco Fialho Mother, mother, mother There's too many of you crying Brother, brother, brother There's far too many of you dying To bring some lovin' here today. You know we've got to find a way                                                What's on going - Marvin Gaye  Depois de impressionar o mundo com "Moonlight", Barry Jenkis nos oferta sua nova pérola, o rebuscado "Se a rua Beale falasse", inspirado no livro de James Baldwin, um dos grandes pensadores dos direitos civis nos Estados Unidos. Não adianta mais querer tratar Barry Jenkis apenas como mais um diretor promissor. Nesse seu novo trabalho ele reafirma a visão empoderada do seu cinema, inclusive como uma realidade comercial latente. Devido ao grande potencial que o filme nos apresenta, somado ao fato do diretor já ter ganhado um Oscar de melhor filme, como explicar seu quase apagamento nos principais prêmios d

NO PORTAL DA ETERNIDADE - Direção Julian Schnabel

Schnabel e a construção do olhar de Van Gogh Por Marco Fialho Muitos filmes já foram feitos sobre Van Gogh. O personagem Van Gogh parece fascinar o cinema tanto os diretores quanto os atores que o representaram. "No portal da eternidade", dirigido por Julian Schnabel (O escafandro e a borboleta e Basquiat) é o mais recente a explorar essa enigmática personalidade, que em vida não conseguiu o devido reconhecimento. Schnabel também esbarra nesse episódio do insucesso, mas possui o mérito de não tornar esse momento o centro de sua visão sobre Van Gogh. O diretor escolhe a etapa final da vida de Van Gogh como foco, quando o pintor vai rumo ao sul da França tentar encontrar um caminho para o seu trabalho artístico.      Talvez o grande mérito de "No portal da eternidade", ao contrário de tantos outros já realizados, seja o de apostar muito mais na construção do olhar de Van Gogh do que o de afirmar ou reafirmar fatos específicos já contados e recontados de sua vi

ESTAÇÃO DO DIABO - Direção Lav Diaz

    A implacável ladainha de Diaz Por Marco Fialho Apesar de seus filmes serem sempre longos, o filipino Lav Diaz vem conseguindo exibi-los no Brasil, mesmo que com sessões reduzidas e pouco público disposto a assistir odisseias cinematográficas longuíssimas, com obras que chegam a ter mais de 600 minutos. Por isso "Estação do diabo", com seus 234 minutos pode ser considerada uma obra curta para o padrão do diretor. Um dos motores da filmografia de Lav Diaz está na sua estreita relação com a política das Filipinas, sempre presente, algumas vezes na linha de frente, outras em segundo plano em seus filmes. Em "Estação do diabo" a política aparece de maneira bem explícita no enredo, inclusive nos créditos iniciais, onde ele expõe o contexto no qual a história do filme transcorrerá, o governo ditatorial de Ferdinando Marcos e o período da Lei Marcial, implantado em 1972, sob o pretexto de combater uma suposta guerrilha comunista. Mas a história se passa mesm

FEVEREIROS - Direção de Marcio Debellian

Um bálsamo para tempos difíceis Um dos maiores problemas detectados nas cinebiografias é a paixão do realizador pelo seu ídolo e seu desejo e angústia em querer abarcar tudo sobre seu objeto. Esse embaçamento inicial traz com frequência consequências desastrosas para o resultado final dos filmes, pois quem quer falar de tudo termina por não aprofundar os diversos temas e tempos abordados. Desse mal "Fevereiros", dirigido por Márcio Debellian (O vento lá fora, 2014 - também estrelado por Bethânia), não sofre, mesmo sendo evidente a paixão de Debellian à sua personagem. O diretor consegue magnificamente restringir sua temática e a desenvolve com a devida atenção. Seu interesse é trabalhar a beleza inerente à religiosidade sincrética brasileira, tendo a rainha Maria Bethânia como fio condutor. Debellian propõe traçar um arco cultural entre a Bahia e o Rio de Janeiro, aproveitando dois ensejos específicos: a festa da purificação em Santo Amaro e  o desfile da Mangueira em h

CLÍMAX - Direção Gaspar Noé

Imagens destrutivas de um ególatra Paira sempre no ar uma desconfiança quando um determinado cineasta começa a cuidar mais do seu marketing pessoal que do seu fazer artístico. Gaspar Noé pode tranquilamente figurar nessa lista, em especial quando a ideia de choque se insinua deliberadamente. Em Love 3D isso já estava posto (só que de maneira mais branda) e agora em "Clímax" a evidência se consolida. Exibicionismo narrativo, exagero dramático e câmera labiríntica são exemplos notórios do egocentrismo pernicioso de Gaspar Noé. Há um quê de artifício estandardizado cinematograficamente, um grafismo pedante e verborrágico que muitas vezes beira o gratuito. Em "Clímax", Noé nos empurra goela abaixo uma estética agressiva, que passa longe do metafórico, escrita por uma câmera prepotente que escolhe qual personagem resolve acompanhar, como se a humanidade dos personagens pouco importasse ao realizador. Muitos podem dizer que ele retrata o vazio, os escombros da soci

A FAVORITA - Direção de Yorgos Lanthimos

Um Lanthimos mais contido do que o habitual      O grego Yorgos Lanthimos ("O Lagosta", "O sacrifício do cervo sagrado", "Dente canino", entre outros) é conhecido por seu estilo cinematográfico único, onde a ousadia visual, diálogos cortantes e a bizarrice comportamental do humano, em especial da família burguesa, são inerentes ao seu processo de construção dramatúrgica e narrativa, sempre buscando atingir o público com o estranhamento. Por isso, existe sempre em seus filmes algo de incomum, como a incorporação substantiva de animais nas suas tramas, o que suscita paixões e rejeições à sua filmografia que comumente se desvia de qualquer noção mínima de sutileza. Talvez um diferencial de "A favorita", e que vale citar aqui no início dessa análise, esteja no fato de ser o primeiro filme de época da carreira de Lanthimos. Dentro desse quadro estilístico apresentado acima, podemos dizer que "A favorita" é seu filme que mais se aproxim