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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

MÃES PARALELAS (2021) Direção de Pedro Almodóvar

Viver a dor é também renascer Texto de Marco Fialho Alguns podem ter ficado surpresos com a pitada política de "Mães Paralelas", o mais recente trabalho de Pedro Almodóvar. Vale ressaltar que talvez seja mais acertado falar referência histórica ao invés de pitada política. Sim, esse viés não é tão comum aos filmes desse tão importante cineasta madrilenho. Se "Mães paralelas" discute origem é bom aqui lembrarmos da origem artística de Almodóvar, pois talvez possa ajudar no diálogo com essa obra que certamente ficará marcada na carreira dele.   É de bom tom, e talvez até necessário, regredirmos à época da ditadura fascista do General Franco (1936-1975) para poder refletir e relacionar Almodóvar com esse determinante fato histórico, crucial para a vida cultural espanhola do Século XX. Dá para medir a força política dessa ditadura que  sobreviveu a uma forte oposição (bom lembrar da Guerra Civil espanhola - 1936/39) e a ter conseguido ficar de pé até com o fim fascismo

COW (2021) Direção de Andrea Arnold

O que revela o olhar de Luma? Texto de Marco Fialho  Filmes que possuem animais como protagonistas não são tão raros assim. Tanto no documentário quanto na ficção os exemplos são diversos ("Cavalo de guerra" (2011), "Beethoven" (1992), "Professor Polvo" (2020), para citar alguns). Mas quando assistimos a "Cow", dirigido por Andrea Arnold, notamos de cara que ali temos algo de especial, que algo nos prende ali naquela história. O que seria esse imã a fixar nossa atenção cada vez mais na vida corriqueira de Luma, uma vaca aparentemente como outra qualquer? O nome desse imã é cinema, a capacidade que esse aparato tem para nos fisgar para qualquer acontecimento quando seus instrumentos são utilizados com a destreza adequada, que é o caso exemplar de "Cow". Cabe salientar que Andrea Arnold escolhe narrar a história de Luma como não-ficção, apesar de não abrir mão de estratégias ficcionais clássicas, como a da identificação. Pelo fato da dire

ATAQUE DOS CÃES (2021) Direção de Jane Campion

Sinopse: Phil (Benedict Cumberbatch), um fazendeiro durão trava uma guerra de ameaças contra a nova esposa (Kirsten Dunst) do irmão (Jesse Plemons) e seu filho adolescente (Kodi Smit-McPhee) - até que antigos segredos vêm à tona.  A sutileza como estratégia para revelar o cão Texto de Marco Fialho Em 1993, a diretora neozelandesa Jane Campion ganhou o mundo do cinema com o belíssimo "O piano". De desconhecida tornou-se uma referência como cineasta. O reconhecimento por "O piano" possibilitou a chegada de sua obra anterior, o potente "Um anjo em minha mesa" (1990), uma obra fortíssima que ratificou a importância de Campion como artista. O trabalho mais recente dela, "Ataque dos Cães" traz o selo da poderosa plataforma Netflix, onde foi produzido e está sendo distribuído, e com uma repercussão surpreendente, obtendo um sucesso arrebatador. O filme foi adaptado por Campion a partir do livro homônimo de Thomas Savage. De certa maneira, "Ataque d

NA IDADE DA INOCÊNCIA (1976) Direção de François Truffaut

A crônica de uma França antiquada Por Marco Fialho Em seu primeiro longa, “Os incompreendidos” (1959), François Truffaut abordou o tema do final da infância e entrada na adolescência, em especial dentro do universo escolar e em reformatórios, com visíveis tintas autobiográficas. Dezessete anos depois, em 1976, com “Na idade da inocência”, o cineasta francês retornaria parcialmente ao tema, mas dessa vez expandindo mais a pluralidade de personagens juvenis e adultos, centrando sua atenção mais no cotidiano de uma pequena cidade francesa chamada Thiers. A narrativa escolhida por Truffaut muito se assemelha a de um cronista social. Esse perfil de crônica do filme lhe confere uma leveza impressionante, que também pode ser visto em outra obra sua, “O homem que amava as mulheres”. O que Truffaut realiza cena a cena é um painel vigoroso de uma França antiquada em permanente conflito com uma visão de modernização americanizada e fútil, sem consistência, apesar de apelativa. O sonho das férias

TITANE (2021) Direção Julia Ducournau

Sinopse: Após sofrer um acidente de carro, Alexia precisa implantar uma placa de titânio na cabeça. Em recuperação, ela evita seus pais em favor do carro. Já adulta, Alexia ainda está apaixonada por carros e atua como  showgirl  sensual em um salão de automóveis, exibindo a cicatriz na cabeça e uma tatuagem profana no peito. Simultaneamente, ocorre uma série de crimes inexplicáveis enquanto um pai reencontra o filho que estava desaparecido há 10 anos. Titane a a toxidade ambígua no filme e do filme Texto de Marco Fialho Desde a exibição no Festival de Cannes, onde foi agraciado pelo júri oficial com a Palma de Ouro, que Titane  vem despertando sentimentos antagônicos, uns odeiam, outros amam. Como assisti ao filme somente agora, algumas semanas depois do lançamento na Plataforma MUBI, pude observá-lo também tentando entender o porquê o filme suscitou tamanhas reações tão díspares.  Se  Titane não me encantou (bem longe disso), tão pouco me acendeu uma ojeriza instantânea. Melhor do que