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Mostrando postagens de maio, 2018

A GUERRA DO PARAGUAY - Direção de Luiz Rosemberg Filho

A Guerra do Paraguai acabou?  Crítica de Marco Fialho A guerra do Paraguai é uma das páginas que mancham a história do Brasil, um marco histórico a ser refletido para que nossas relações com países vizinhos e conosco mesmos sejam profundamente transformadas. Difícil pensar esse filme de Luiz Rosemberg Filho sem ter em mente o livro clássico do escritor Julio José Chiavenato, “Genocídio Americano: a Guerra do Paraguai”, pois nele a tragédia com o país vizinho é ampliada ao revelar as fragilidades de nossa organização social. Inevitável para quem leu esse livro não tê-lo como um espectro ao assistir ao filme de Luiz Rosemberg Filho.     Ao promover o encontro de um soldado brasileiro com uma trupe teatral de hoje, Luiz Rosemberg Filho nos coloca em frente a um tenebroso espelho, passível de revelações nada agradáveis de serem vistas. Trata-se de um confronto desconfortável, que nos mostra facetas obscuras de nossa formação social, sobretudo a violência, o genocídio, a intoler

A CÂMERA DE CLAIRE - Direção de Hong Sang-soo

O registro da alteridade no cinema de Hong Sang-soo - Crítica de Marco Fialho Em “A Câmera de Claire”, Hong Sang-soo aborda um de seus temas preferidos, o da metalinguagem, o que inclusive o próprio título do filme já sugere. O fato do filme se passar em pleno Festival de Cannes também evidencia sua afeição por essa sua abordagem. Incrível como esse filme é concebido com uma naturalidade atroz. Tudo parece estar rigorosamente no seu lugar, até as tragédias cotidianas inesperadas, como a da demissão da personagem de Kim Min-hee. A personagem Claire (Isabelle Huppert) revela-se uma típica flâneur , aberta aos encontros casuais e à alteridade. O diretor consegue fazer tudo soar muito espontâneo, os diálogos são tão banais que reforçam ainda mais essa concepção do todo. É claro que a presença do talento de Isabelle Huppert ao lado desse outro encanto que é Kim Min-hee valoriza por demais o filme. A química entre elas é fundamental para a fluência da mise-en-scéne de Sang-soo funcione

O PACTO DE ADRIANA - Direção de Lissette Orozco

Crítica de Marco Fialho Nas entranhas de uma família ou da ditadura de Pinochet? Desorientado. É assim que saímos desse perturbador "O Pacto de Adriana", filme que aborda a ditadura chilena do General Augusto Pinochet. O que mais nos prende ao filme não é só o relevante tema da ditadura chilena, mas sim a narrativa e o drama da jovem diretora, Lissette Orozco, que a princípio tem como objetivo provar a inocência de sua tia, Adriana Rivas, acusada por muitos de ser torturadora durante o regime ditatorial do Governo Pinochet, quando esta trabalhava na DINA (Diretoria de Inteligência Nacional), uma espécie de polícia secreta, comandada e criada com mão de ferro por Manuel Contreras, um dos homens mais cruéis desse período obscuro da história chilena. O grande trunfo do filme é a sua montagem, que tem como objetivo construir o próprio processo doloroso no qual a diretora mergulhou tanto na história secreta de sua família quanto na de seu próprio país, um duplo e duro ace

UMA MULHER FANTÁSTICA - Direção de Sebastián Lelio

Crítica de Marco Fialho A fascinante Daniela Vega e a fantástica Marina Quem assistiu “Glória”, filme de 2013, do diretor chileno Sebastián Lelio sabe de sua habilidade e talento em desenvolver narrativas centradas em uma única personagem. Em “Glória”, há a explosão irrefutável de Paulina Garcia ao estrelato, dada à beleza de sua performance no filme. Analisando desse ponto de vista, em “Uma Mulher Fantástica” o resultado não é diferente. A personagem Marina é de um vigor tal que é impossível assistir ao filme e ficar indiferente. A entrega da atriz Daniela Vega é de uma magnitude poucas vezes vista no cinema. Não por acaso, por onde passou o filme atropelou preconceitos e angariou adeptos fervorosos. Festivais, salas de cinema, nada resistiu à fúria terna da garçonete/cantora Marina. Até mesmo o Oscar, maior premiação do mercado de cinema de Hollywood se curvou ao furacão que é essa mulher chamada Marina/Daniela Vega. Friso as duas, personagem e atriz, já que há uma di

ESPLENDOR - Direção de Naomi Kawase

Crítica de Marco Fialho Para além da imagem, a luz Em um mundo cada vez mais tomado pela brutalidade nas relações, Naomi Kawase ("O Segredo das Águas" e "O Sabor da Vida") vem demonstrando filme a filme que prefere ir na contramão, ao propor um cinema onde a delicadeza e a sutileza insistem como valores válidos para a humanidade. E "Esplendor" reafirma a caminhada artística da cineasta.  Dos últimos trabalhos realizados, "Esplendor" talvez seja o que mais se aproxime da ideia de cinema de Kawase, já que aqui ele está como protagonista, ou no mínimo, temas e questionamentos que lhe são caros em outras obras transpassam os personagens do filme, como o da natureza do olhar e das imagens. Durante o transcorrer da obra, Naomi nos desafia a pensar sobre o que é o olhar, o que o define, como os sujeitos se constroem e se relacionam por meio dele.  Mas outro viés também presente em "Esplendor" é o da construção de narrativas. Não casua