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Mostrando postagens de agosto, 2019

BACURAU - Direção de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles

Ninguém solta a mão de ninguém! Por Marco Fialho "São muitas horas da noite São horas de bacurau Jaguar avança dançando Dançam caipora e babau Festa do medo e do espanto De assombrações num sarau..." Trecho de "Bicho da noite" do compositor Sérgio Ricardo, canção integrante da trilha musical de "Bacurau". O que mais importa em obra de arte não é a sua literalidade, mas o que ela significa e representa para além do que é narrado, mostrado e dito. No cinema, mais do que contar uma história, um filme cresce quando ele em si se transforma em um imensa metáfora sobre um determinado momento histórico, ou fazer, como "Bacurau" faz brilhantemente, por em evidência e xeque toda a história de um país. Pode parecer muito o que digo aqui, mas é exatamente o que acontece nos 130 minutos de sua exibição, condensar o lastro histórico do nosso país a partir de suas práticas e relações sociais. Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles assim o fa

NO CORAÇÃO DO MUNDO - Direção de Gabriel Martins e Maurílio Martins

A periferia como protagonista de si mesma Por Marco Fialho Quem já acompanha o trabalho realizado pelo coletivo e produtora mineira Filmes de plástico não se assustou com a força cinematográfica existente em "No coração do mundo", apenas constatou o quanto seus filmes reafirmam a "marca" desse grupo de artistas de Contagem. Mas o bom desse coletivo é que ele não é excludente e nem tão pouco fechado em si mesmo. A prova disso é a inserção em sua equipe de artistas como Grace Passô, Leo Pyrata e a galera do coletivo alumbramento do Ceará, aqui representado por Guto Parente (diretor do recente e surpreendente "Inferninho", em parceria com Pedro Diógenes). Essa deve ser a vantagem de pensar as artes a partir de um coletivo, a ideia de que agregar para somar é um caminho frutífero para atividades como o cinema, ofício que por sua natureza envolve sempre muitas pessoas. A prova disso é que o cineasta mais reconhecido da Filmes de plástico, André Novaes O

FADO TROPICAL - Direção Cavi Borges

Mar português Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.                                                        Fernando Pessoa O cinema como manifesto da vida Por parecer banal, a primeira imagem de "Fado Tropical" pode até passar despercebida pela maioria dos espectadores, por isso vale aqui resgatá-la. Nela temos um simbólico mar, esse mesmo que sempre nos separou e nos uniu, o entre, o que atesta as dualidades de nosso conturbado processo civilizatório. Vemos a personagem Isabel de Bragança (Patrícia Niedermeier) de frente para esse marzão. Impossível nessa aparente simples imagem não lembrarmos de Camões e de Pessoa, e