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Mostrando postagens de maio, 2022

O UNIVERSO É TUDO, O QUINTAL É UM (CRÔNICA nº 2)

Diz-se que cada ser humano é um universo em si, embora o mesmo possa ser dito também de um lugar qualquer, por menor que ele seja. Penso aqui em um quintal, um gracioso quintal. Poderia dizer até que é um jardim, mas qual seria a diferença entre um e outro visto que essa diferença possa ser ínfima, ou mesmo de difícil precisão? Talvez a diferença seja mais organizativa do que de forma, já que em um quintal cabe um jardim enquanto o inverso jamais seria possível. Um quintal é anárquico, uma balbúrdia, uma festa de vida e alegria, nele cabe um universo, ou melhor conforma-se um universo. Ali tem tudo, coabitam famílias de bichos, invasores diversos e a escuridão, o mistério noturno. Nele há um desenho cubista traçado por árvores frutíferas portentosas a ofertar suntuosas sombras nos dias de calor. Meu quintal é assim, receptivo e convidativo, prestes a me sorrir com uma manga, uma acerola ou um cajá-manga. Nos dias mais festivos me brinda com um limão galego para uma caipirinha relaxante

Músicas que habitam em mim n° 3 Calabouço

Música e política - Parte 1: Sergio Ricardo e o cala-boca do Calabouço Sempre fui extremamente ligado em política, de tal forma que nem lembro como esse elo começou, embora intuitivamente eu desconfie que essa minha relação primordial está fortemente entrelaçada com a música. Meus pais militavam na política e como desdobramento a música com um viés político estava no espectro de atenção deles, e assim, em casa ouvíamos LPs de artistas como Geraldo Vandré (1968), Sergio Ricardo, Carlos Lyra e um disquinho do CPC da UNE (ver ilustração abaixo) que tinha uma música, que ouvida hoje beira até o cômico, mas que à época eu achava o máximo: "Subdesenvolvido"  (1) Carlos Lyra - Canção do Subdesenvolvido - YouTube .       Na altura do campeonato, os leitores já puderam sentir que a força da presença da música na vida de cada um (no caso em mim) é o tema maior desta coluna, de como ela evoca lembranças e doces tempos já vividos e por mais que as experiências musicais sejam extremamente

UM FLÂNEUR EM BÚZIOS (CRÔNICA Nº1)

Entre cães, crianças, fragatas, um cavalo prateado e outros óbices Texto de Marco Fialho Mais do que tudo, o que um cronista precisa mesmo é do mundo. Constatei isso quando andei viajando pela bela península de Búzios. Nessas paragens pude observar e ficar a pensar sobre a natureza da crônica. A divagar cheguei a conclusão de que o cronista precisa mais do outro do que de si mesmo. Não importa muito o que se deva ou não fazer, mas sim o que está a viver o outro. Eis que então chegamos a outro ponto chave para o cronista: ele se realiza pelo outro. Muito antes do espectador do cinema, o cronista já era um voyeur nato, um flâneur (na acepção dada por Walter Benjamin*) aquele dado a saber como o outro vive e como está a agir. Para o cronista não importa o que pensa o observado. O que está em jogo é o viver do outro, nada mais. Nada mais o escambau, pois isso é muito, não é mesmo? O cronista é um ser paciente, um tipo de fotógrafo que espera o momento exato para tirar uma foto. É sabedor