Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de abril, 2019

AMOR ATÉ AS CINZAS - Direção Jia Zhang-Ke

O progresso decadente da China por trás de Qiao e Bin Por Marco Fialho "Amor até às cinzas", novo filme do cultuado diretor chinês Jia Zhang-Ke, é por demais traiçoeiro. Há nele algo de escorregadio e isso não está propriamente explícito na trama. É necessário se pensar um pouco sobre seus personagens, pois eles são todos tão nebulosos que nos criam uma barreira, um distanciamento para com eles. Não à toa assistimos a diversas traições durante o transcorrer da história. Entretanto, a maior traição mesmo vem de Jia, pela forma como ele insere os personagens na trama. A impressão que temos continuamente é que tudo que vemos não é exatamente o que é, e esse parece ser o ardil proposto pela narrativa de Jia Zhang-Ke. Jia Zhang-Ke se impõe como um manipulador exemplar em "Amor até às cinzas" ao misturar artesania e autoralidade de uma só vez. Imprime minuciosamente sua visão acerca de uma China corroída por dentro, mas como se a sua própria narrativa também estive

CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS - Direção Renée Nader Messora e João Salaviza

A humanização de Ihjãc Por Marco Fialho No ano passado vimos "Ex-pajé", intrigante filme-denúncia de Luiz Bolognesi sobre um pajé da etnia Paiter Suruí, que abre mão de sua tradicional função religiosa para virar um varredor de chão em um templo evangélico, por ser convencido pelos brancos que suas práticas culturais e espirituais anteriores eram demoníacas. Agora em 2019, nos chega aos cinemas "Chuva é cantoria na aldeia dos mortos", dirigido pelo casal Renée Nader Messora e João Salaviza, que apesar de não ter o caráter de denúncia de "Ex-pajé", aborda também o tema da religiosidade em outra etnia indígena, os Krahô, só que adotando um viés mais poético e psicológico. Entretanto, essa reincidência de temáticas não deve ser desconsiderada, pois em ambos os casos estão presentes o etnocídio dos povos indígenas pela cultura branca colonizadora. Por essas qualidades, "Chuva é cantoria..." foi agraciado com o prêmio "Un certain regard&quo

O CENSOR - Direção Cavi Borges, Patrícia Niedermeier e Alexandre Varella

Sexo é expressão e a censura é pornográfica! Por Marco Fialho Há mais de um ano criei essa página de blog e até o momento todos os textos e palavras aqui proferidas  foram dedicadas integramente ao cinema. Agora posso dizer garbosamente que este humilde espaço tão dedicado à impura sétima arte está sendo devidamente desvirginado por uma peça teatral (e aqui o desvirginado soa muito mais do que uma simples e casual palavra). Mas como não poderia ser diferente esse sacrilégio, ainda assim, vem espirrado pelo cinema, afinal de contas estamos aqui para falar da peça, ou melhor, da peça-filme, tal e qual a define o próprio diretor Cavi Borges (vale registrar que a direção é  codividida com o ator Alexandre Varella e a atriz Patrícia Niedermeier). Sim, nada mais cinematográfico do que isso, nosso maior agitador carioca ser um dos partícipes que nos fará mergulhar em outros mares, o das artes cênicas. Então, agora que meu escafandro já está em seu devido lugar, mergulhemos, por que a ca

EM TRÂNSITO - Direção de Christian Petzold

O encontro fatal entre o século 20 e o 21 Por Marco Fialho Christian Petzold vem se firmando como um dos diretores mais consistentes do momento. Depois de "Bárbara" (2012) e de "Phoenix" (2014), ele nos brinda com o criativo "Em trânsito", filme em que desenvolve uma trama que requer toda a atenção do público por conter camadas de tempo que dialogam magistralmente. E é o ardil do tempo o maior diferencial dessa obra, a faceta desafiadora que instiga a pensar sobre as possíveis aproximações entre duas épocas históricas distintas. O mais curioso nesse jogo temporal montado por Petzold é a forma como ele se estabelece. Não há idas e vindas no tempo, o enredo se desenvolve linearmente, supostamente em um tempo presente. A ocupação alemã na França transcorre em paralelo à problemática dos refugiados africanos de hoje, ambas coabitam no mesmo espaço, na Marselha de nossos dias. O que os diferencia é apenas nosso olhar, que estranhamente se depara com ca