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Mostrando postagens de setembro, 2019

A TORRE DAS DONZELAS - Direção de Susanna Lira

O difícil amálgama da dor com a poesia Por Marco Fialho O segundo dia do Festival de Brasília (15/10/2018) mostrou que esse ano o clima do festival seria mais para acalorado do que para calmaria. O público deu indícios de que participaria politicamente de forma efusiva. Parece que a efervescência eleitoral tomou conta de vez e reverberou nas reações aos filmes. A própria curadoria do festival optou em ressoar o momento político e promoveu escolhas incisivas e em consonância com os anseios vindos da plateia. A maior prova desse magnetismo foi a exibição do primeiro longa da mostra competitiva, o filme Torre das Donzelas, que arrancou muitos aplausos durante a projeção e olha que foram 8 minutos de palmas de consagração ao final, em especial quando a diretora Susanna Lira expôs os rostos das 30 entrevistadas que passaram pela prisão e tortura no Presídio Tiradentes (SP) no período de exceção durante a ditadura civil-militar iniciada em abril de 1964. E toda a comoção da platei

O FIM DA VIAGEM, O COMEÇO DE TUDO - Direção Kiyoshi Kurosawa

A aventura do sonhar e do viver Por Marco Fialho Para quem conhece o universo denso e pesado do diretor Kiyoshi Kurosawa, famoso sobretudo pela atmosfera de horror de seus filmes, pode estranhar esse "O fim da viagem, o começo de tudo", um drama de personagem, intimista, com toques de aventura, suspense e musical. O carisma da atriz Atsuko Maeda nos envolve a cada cena, interpretando a jovem impetuosa, mas ao mesmo tempo assustada repórter Yoko. Yoko vive um conflito. Ela precisa realizar reportagens pitorescas sobre o desconhecido Uzbequistão, cuja língua ela não domina sequer o mínimo e em seu tempo livre se atira em vôos cegos nos recantos desse estranho país, com visíveis ranços machistas e cercado por exóticas mitologias envolvendo animais. Kiyoshi Kurosawa vai despretensiosamente construindo uma história singela, crítica aos formatos superflúos do jornalismo de variedades (que diga-se de passagem não é só um fenômeno japonês), ao mesmo tempo em que tece um un

VISION - Direção de Naomi Kawase

O encantamento over de Vision Por Marco Fialho Um dos temas favoritos da cineasta japonesa Naomi Kawase é o da necessidade da espécie humana se reconectar com a natureza, se assumindo como parte integrante dela. E "Vision", seu mais recente trabalho caminha justamente reafirmando essa direção tão comum em sua carreira. Depois dos cativantes "O Segredo das águas" (2014), "Sabor da vida" (2015) e "Esplendor" (2018), a diretora nos brinda com uma obra que flerta com o sobrenatural, sem esquecer de sua marca registrada, o encantamento. E é sempre por seu intermédio que Kawase tenta nos atrair para os seus mágicos filmes. Entretanto, dessa vez talvez seja essa a maior fragilidade de "Vision", o de trabalhar explicitamente com esse encantamento, com Kawase esforçando-se desmedidamente, desde as primeiras cenas, para evidenciá-lo. A força do encantamento em Kawase sempre se deu por consequência da própria vida, como um acontecimento, um