Texto de Marco Fialho
Divertimento é um filme que trata da relevante temática da inserção da mulher na regência de orquestras na França. Ainda pode ser acrescido que a personagem Zahia (Oulaya Amamra) vem das camadas mais humildes da França, de uma escola de música situada em uma região metropolitana de Paris. O filme parte de uma história verídica, o que torna tudo mais urgente de ser contado.
Se tem algo que se destaca em Divertimento é a agilidade e fluência na qual a história se desenvolve. Tanto a montagem quanto a direção são pontos coerentes e se articulam com muita competência. Outro destaque é o elenco que apesar de numeroso, afinal o filme se passa numa escola, com muitos personagens coadjuvantes participando das cenas. A protagonista, interpretada por Oulaya Amamra, esbanja carisma e desenvoltura ao segurar o papel de Zahia com leveza e determinação. Sua irmã gêmea, Fettouma (Lina El Arabi), violoncelista, serve como um ótimo apoio para discussões, conversas e diversão com Zahia.
A direção de Marie-Castille Mention-Schaar não arrisca nunca, apostando sempre em uma mise-en-scène bem azeitada, decupada com esmero que só uma boa narrativa clássica sabe conceber. Se o filme se ajeita ao som da boa música erudita, a câmera baila entre atrizes e atores, em um jogo cênico funcional a buscar planos comunicativos. A opção por uma câmera leve impede que o filme cai em um esquematismo, mesmo que a construção narrativa não traga grandes novidades ou surpresas.
Divertimento tem imbricações sociais bem interessantes ao promover uma discussão de classes de maneira soft, sem grandes aprofundamentos, mas ao mesmo tempo, sem deixar de marcar posição acerca do recado que quer passar. Aqui temos uma mulher jovem, determinada em se tornar maestra e disposta a enfrentar as piadas classistas dos coleguinhas da escola acostumada a ter apenas alunos e alunas de situação financeira mais confortável.
O filme de Marie-Castille não perde de vista que o ponto central de sua trama é a carreira de Zahia e o desafio de enfrentar os olhares de reprovação por ela ser maestra. Quando um maestro consagrado vê o talento inato de Zahia para o ofício tudo muda de figura. A direção consegue o grande mérito de segurar, com o devido entusiasmo, o público em seus 110 minutos, mesmo que de antemão já saibamos o fim da história.
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