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Mostrando postagens de dezembro, 2020

SOMBRAS QUE ASSOMBRAM: O CONTURBADO CONTEXTO DO EXPRESSIONISMO NO CINEMA ALEMÃO DOS ANOS 1920 (Artigo)

Artigo escrito por Marco Fialho IMPULSOS IRRACIONAIS - O EXPRESSIONISMO COMO TEMA* Roger Cardinal, um dos mais conceituados estudiosos do expressionismo nas artes o descreve sinteticamente como um encontro da criatividade do artista com os seus impulsos emocionais e instintivos mais profundos. A expressão da obra adquire então um caráter subjetivo, pois a forma artística resulta das angústias humanas do indivíduo criador (1). Enquanto no final do Século XIX os grandes impérios nacionais exibiam seus poderios, em paralelo, ideias contrárias eram desenvolvidas a contrapelo e serviam de perfeita antítese filosófica. Autores como Charles Badeulaire, com suas Flores do mal, e Friedrich Nietzsche, com seu ensaio irracionalista Assim falou Zaratustra, estremeciam a pseudo harmonia imperialista. Já no início do Século XX, o mundo assombrou-se com as obras de Freud, seus estudos complexos sobre a libidinosa psique humana; e mais adiante Franz Kafka, já em 1915, investe nos processos de aprision

O GOLEM (1920) Direção de Paul Wegener – 1920

O monstro de barro expressionista * Por Marco Fialho Antes que qualquer análise seja realizada é necessário uma breve explicação sobre o significado do título do filme. Golem é um ser artificial mítico , associado à tradição mística do judaísmo , particularmente à cabala , que pode ser trazido à vida por meio de um processo mágico . E o filme de Wegener inicia com um Imperador de um determinado reino, que não fica claro qual era, mas parece situá-lo na Idade Média, baixando um decreto contra os judeus que perturbavam a ordem pública com seus rituais místicos, ordenando que os mesmos deixassem o reino urgentemente sob pena de serem severamente punidos. Enquanto isso o líder espiritual judaico já prevê lendo a cabala e os mapas astrais que a posição das constelações mostra que se trata de um momento delicado para o seu povo e vê a necessidade de chamar o golem para defendê-lo. O líder espiritual, uma espécie de rabino, concebe rapidamente o ser de barro inanimado, e aguarda o ins

O HOMEM QUE RI (1928) Direção de Paul Leni

O Homem que ri e a monstruosidade do outro Por Marco Fialho Apesar de O homem que ri ter sido produzido nos EUA, pela Universal Studios, em 1928, o filme conserva ainda traços característicos do expressionismo alemão. Seu diretor, o talentoso cenógrafo Paul Leni, já havia realizado na Alemanha o clássico O gabinete das figuras de cera , e viria a falecer um ano depois de realizar essa madura obra de arte chamada O homem que ri . O lastro expressionista já acontece na própria escolha da temática, a de um homem com deformação no rosto. Apesar de não ser um filme de terror, o filme trata em especial da criação de um monstro. O mais impressionante no filme é o fato da monstruosidade não ser do monstro, mas sim de quem o deformou. Durante o filme esse personagem luta contra a própria imagem, pois um homem possuir uma aparência de estar rindo o tempo todo é inevitavelmente trágico. O filme baseia-se na obra homônima do escritor romântico francês Victor Hugo. A escolha de Leni por

METRÓPOLIS (1927) Direção de Fritz Lang

Na imagem o espetáculo, na mensagem a conciliação Por Marco Fialho Metrópolis é sempre lembrado como um filme conciliador, uma obra que busca um mundo harmônico entre o mundo do trabalho e dos empresários. Apesar dessa crítica ainda ser coerente, o que mais marcou esse trabalho visionário e ousado de Fritz Lang é o apuro visual, traço típico da estética expressionista. Bom frisar que Lang enquanto realizador não foi um expressionista exemplar, apesar de ser excessivamente relacionado a sua estética. Diretores como Robert Wiene, Paul Leni e Paul Weneger, até Murnau em determinados aspectos, traduziram bem mais o universo estético do expressionismo, mas é evidente que Metrópolis traz também importantes elementos característicos que valem a pena ser mencionados. A magnitude visual de Metrópolis , produzido em 1927, é assustadora, até par

FAUSTO (1926) - F. W. Murnau

Murnau e o flerte com o romantismo alemão Por Marco Fialho* Se Fausto for comparado à A última gargalhada , Nosferatu e Aurora , três outras obras de Murnau, sua potência estética pode ficar abalada. Definitivamente, Fausto não é a obra-prima desse cineasta fantástico que morreu prematuramente aos 42 anos de idade, mas configura-se como característica do cinema alemão dos anos 20 e da sua estética expressionista e situa-se muito acima de tantas obras realizadas na época. Na história do filme, Fausto é um velho cientista seduzido pelo demônio, Mefistófeles, interpretado com a competência de sempre por Emil Jannings. Primeiro o cientista obtém poderes para curar a peste, mas como seus poderes vinham das forças obscuras, ele não conseguia curar perante a imagem da cruz e logo o povo o vê como encarnação do diabo e o rechaça. Depois Fausto é seduzido para ter de volta a juventude e o diabo lhe apresenta a imagem de uma linda princesa e promete intervir para fazê-la ficar apaixonada por