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STOP MAKING SENSE (1984) Dir. Jonathan Demme


Texto por Marco Fialho

Para comemorar 40 anos da filmagem de Jonathan Demme do célebre show Stop Making Sense, do Taking Heads, a A24 traz para os cinemas brasileiros uma cópia restaurada do filme. Intessante como o diretor optou por praticamente não mostrar muito o público, o deixando aparecer sobretudo pelo som de alguns momentos de aplausos.

Vale lembrar a importância de Talkink Heads e seu líder David Byrne para a história do pop/rock mundial, e porque não, para a própria música brasileira, já que é bem conhecido o diálogo em especial com Caetano Veloso, que resultou em um show chamado Caetano Veloso e David Byrne Live At Carnegie Hall, em 2012.  

A filmagem do show Stop Making Sense, de 1984, contou com uma performance cinematográfica de Jonathan Demme igualmente engenhosa, com suas câmeras pensadas rigorosamente música a música de maneira a extrair a força e a pulsação que é inerente a este show dos Talkink Heads. Demme captura a performance perfeita da banda, dando ênfase a de David Byrne e o seu domínio cênico no palco, suas danças e movimentações hipnotizantes. A que ele contracena com um abajur é fantástica, além de muito bem filmada. Sem esquecer dos excepcionais figurinos, que apesar de preservarem o tom pastel, sobressaem pelo designer das roupas, a destacar uma que David Byrne veste um terno geométrico e bastante folgado.

A direção de Jonathan Demme é marcada desde a primeira cena, quando David Byrne entra no palco e o diretor sublinha os pés do músico. Logo entendemos essa opção ao ver Byrne colocar um gravador no chão, um objeto mais cênico do que efetivamente musical, já que o som que ouvimos não vem exatamente dele. 

A partir de então, vamos vendo um palco sendo montado a nossa frente, com a equipe de produção arrastando steps pelo palco e trazendo instrumentos, como a bateria, para finalizar a organização do cenário. Mas a verdade é que sem a força rítmica e melódica do Talking Heads Stop Making Sense como filme não funcionária, mas não temos como negar que a montagem de Jonathan Demme pode ser vista como impecável ao não deixar o filme perder um segundo sequer o seu ritmo. A inserção que o Talking Heads faz do funk em suas músicas, garantem um balanço inebriante a cada nova música executada. Todas maravilhosas e envolventes.

Antes que me perguntem se vale a pena ir ao cinema para ver Stop Making Sense, que nada mais é do que um show, realço que não é esse um show qualquer, e sim um espetáculo sonoro de alto impacto sensorial de artistas em seu auge, entregando uma performance musical e cênica extraordinárias. 


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