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Mostrando postagens de novembro, 2024

A FAVORITA DO REI (2024) Dir. Maïwenn

Texto de Carmela Fialho e Marco Fialho A Favorita do Rei é um drama histórico baseado na biografia de Jeanne du Barry, escrito, dirigido e protagonizado por Maïwenn, que conta com Johnny Depp como Luis XV. Ambientado na corte de Versalhes, Jeanne foi uma jovem cortesã que ascendeu a condição de amante do rei e após a morte da rainha, passou a morar na corte e desfrutar declaradamente da função de preferida do monarca Luis XV. Para tanto, foi arranjado um casamento de aparência com nobre Du Barry e através de sua influência junto ao rei, alcançou status de nobreza, apesar da sua origem humilde. Como todo filme de época, as questões palacianas assumem o centro da narrativa enfatizando os preconceitos sociais, principalmente no que se refere à questão de aceitação dessa mulher que não tinha origem nobre, embora desfrutasse de prestígio junto ao rei. Portanto, o filme se desenvolve nessa linha tênue entre apoios e rejeições que Jeanne recebeu durante o período que viveu na corte até a mor

DIAMANTE BRUTO (2024) Dir. Agathe Riedinger

Texto por Marco Fialho Diamante Bruto é um filme de personagem, no caso, a jovem Liane, uma menina que almeja ser famosa a qualquer custo. O maior acerto da diretora Agathe Riedinger é na escolha da atriz Malou Khebizi como sua protagonista, ela encarna Liane com uma dedicação de impressionar, com a devida coragem que a personagem exige, embora isso não garanta o completo sucesso na sua empreitada.  Liane vem de uma família desestruturada, cuja mãe, a colocou numa instituição assistencial, um tipo de internato, e agora não demonstra muito carinho tanto por ela quanto pela filha mais nova. Essa mãe se dedicando mais a sair com homens que pouco fazem por ela, tanto que nem chegam a aparecer na tela. Diamante Bruto pode ser considerado um bom retrato da chamada geração Z, mesmo que se perca em cenas por demais expositivas e que pouco questionem criticamente o contexto social de onde essa personagem Liane emerge.  Em todos caso, Diamante Bruto tem como mote acompanhar essa personagem contr

A FANFARRA (2024) Dir. Emmanuel Courcol

Texto por Marco Fialho O que mais me chamou a atenção no drama A Fanfarra , foi a abordagem extremamente sensível e envolvente que o diretor Emmanuel Courcol imprime em sua narrativa. Lentamente, somos levados e embalados na proposta de redenção do personagem Thibaut (Benjamin Lavernhe), um maestro consagrado, que abruptamente se depara com uma grave doença, que mudará radicalmente o rumo de sua vida.  A virada na história ocorre quando Thibaut descobre que sofre de leucemia e precisa de um doador, que preferencialmente deve ser um irmão ou irmã. A revelação da doença leva a muitas outras revelações e a mais importante a de que foi adotado quando criança. Thibaut precisa ir atrás de seu irmão verdadeiro e nessa guinada da história começa um outro filme, com o inesperado encontro com Jimmy (Pierre Lottin), seu irmão de sangue. O diretor Emmanuel Courcol explora esse momento como um renascimento para o personagem Thibaut, que passa a ver o mundo sob outro viés, o de uma amizade que só te

SELVAGENS (2024) Dir. Claude Barras

Texto por Marco Fialho O filme  Selvagens é uma animação em stop motion, que se utiliza de maquetes para construção dos cenários e massinha para a feitura dos personagens. O nível de acabamento impressiona pela beleza plástica e profusão de cores que o diretor Claude Barras, o mesmo que realizou em 2016, o belíssimo Minha Vida de Abobrinha ,   compõe para a sua nova obra.  Se compararmos Selvagens com a sua obra anterior, podemos notar uma grande evolução na parte técnica da obra, entretanto, quanto ao roteiro, Minha Vida de Abobrinha é mais consistente e ousada na sua proposta, por explorar uma complexidade maior no desenvolvimento da história. Já em Selvagens , o diretor adentra na temática ambiental, o que não deixa muitas brechas existenciais, por se obrigar a realizar uma obra onde estabelece uma ideia de vilania mais direta que simplifica mais a história. Assim, os personagens bons são bons e os maus são maus, perdendo o seu arco mais complexo.  Barras conta a história de Kéria,

A HISTÓRIA DE SOULEYMANE (2024) Dir. Boris Lojkine

Texto por Marco Fialho O grande mérito do diretor Boris Lojkine ao realizar  A História de Souleymane pode ser atribuído à capacidade de juntar o cotidiano acelerado do protagonista, um refugiado vindo da Guiné, a uma câmera igualmente dinâmica, disposta a seguir o destino trágico de um personagem e sua luta pela sobrevivência em um país estrangeiro.  A câmera do diretor Boris Lojkine registra com realismo a vida difícil que leva Souleymane (o ótimo Abou Sangare), um jovem que tenta se fixar em solo francês como exilado político, fomentado por um militante de um partido de oposição ao governo da Guiné, que lhe cobra para dar essa "assistência". Souleymane precisa decorar um discurso para replicar numa entrevista que fará no setor de imigração, que decidirá sobre o seu futuro. Todas as cenas do filme partem da rotina suada de Souleymane, com a câmera quase que a mercê de suas ações. Como refugiado, ele não pode trabalhar com o seu nome, mas aluga a identidade de um camaronês,

MEGA CENA (2024) Dir. Maxime Govare

Texto por Marco Fialho Mega Cena , dirigido por Maxime Govare, é uma comédia que brinca com algumas situações-limites que levam os personagens do trágico ao paraíso e depois novamente ao trágico. Esse estado cíclico é o que permeia as várias histórias envolvendo bilhetes premiados de loteria.  O filme investe na ideia do dinheiro que vem fácil vai fácil, na mesma medida. Apesar do absurdo de algumas histórias, tudo aqui faz muito sentido, porque vivemos numa sociedade onde o dinheiro ocupa o centro do universo cotidiano. A grande maioria das pessoas depende de empréstimos ou vive se apertando para chegar no final do mês. Essa realidade é que torna Mega Cena atrativo como obra, por levantar situações onde os personagens se deparam com a concretização de seus sonhos. Mas é bom alertar que o filme não adota um humor pastelão, mas sim ácido. O diretor Maxime Govare ri de situações que mostram o que as pessoas podem fazer por dinheiro. Por isso, Mega Cena  leva ao extremo situações que pode

1874, O NASCIMENTO DO IMPRESSIONISMO (2024) Dir. Hugues Nancy e Julien Johan

Texto por Marco Fialho Um filme sobre o movimento impressionista francês na pintura é sempre um acontecimento que atrai a atenção dos amantes das artes em geral. O híbrido de documentário e ficção 1874, o Nascimento do Impressionismo , dirigido pela dupla Hugues Nancy e Julien Johan, traz uma boa dose daqueles filmes feitos para canais especializados em arte, em especial uma voz em off como principal veio narrativo.  O filme inclusive se utiliza dessa monocórdica voz em off em seus 94 minutos de duração, o que deveras causa um cansaço no espectador. O curioso na construção de 1874, o Nascimento do Impressionismo é a mistura desse viés mais convencional com um mais ficcional, que não chega a se caracterizar como personagens dentro de uma história, mas que são utilizados como uma representação visual do ato de pintar dos artistas. Apenas em pouquíssimos ensejos, vemos os pintores esboçando uma representação textual, o que deixa essa ideia muito no meio do caminho, já que logo a seguir

O CONDE DE MONTE CRISTO (2024) Dir. Matthieu Delaporte e Alexandre De La Patellière

Texto por Carmela Fialho O filme O Conde de Monte Cristo é um drama aventura baseado no romance homônimo de 1844 de Alexandre Dumas. O filme foi escrito e dirigido por Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière, e estrelado por Pierre Niney no papel de Edmond Dantès. Essa nova versão para essa famosa história é visualmente primorosa, em especial no trabalho de reconstituição de época, direção de fotografia e direção de arte. O épico investe em personagens carismáticos e planos aéreos bem cuidados com o objetivo de mostrar a grandiosidade das cenas no mar, castelos e propriedades rurais dos nobres. As intrigas do poder político e econômico assumem a trama principal, onde o Conde de Monte Cristo é um misto de herói e vilão que pretende se vingar de sua prisão injusta, fruto de articulações jurídicas dos poderosos nobres franceses que invejavam a sua ascensão à condição de capitão e de desposar uma das mais bonitas jovens da nobreza. O Conde de Monte Cristo conta com atuações marcan

AINDA ESTOU AQUI (2024) Dir. Walter Salles

Texto por Marco Fialho Tem filmes que antes de tudo se estabelecem como algo simbólico e mais do que falar de uma época, talvez sua força advenha de um forte diálogo com o tempo presente. Para mim, é o caso de Ainda Estou Aqui , de Walter Salles, representante do Brasil na corrida do Oscar 2025. Há no Brasil de hoje uma energia estranha, vinda de setores que entoam uma espécie de canto do cisne da época mais terrível do Brasil contemporâneo: a do regime ditatorial civil e militar (1964-85). Esse é o diálogo que Walter estabelece ao trazer para o cinema uma sensível história baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. Logo na primeira cena Walter Salles mostra ao que veio. A personagem Eunice (Fernanda Torres) está no mar, bem longe da costa, nadando e relaxando, como aparece também em outras cenas do filme. Mas como um prenúncio, sua paz é perturbada pelo som desconfortável de um helicóptero do exército, que rasga o céu do Leblon em um vôo rasante e ameaçador pela praia. Essa é

COBERTURA CINEFIALHO DO FESTIVAL VARILUX DE CINEMA 2024

Aqui nessa página você encontra todas as críticas realizadas pelo CineFialho para os filmes da 15° Edição do Festival Varilux de Cinema Francês - 2024. O SUCESSOR (2024) Dir. Xavier Legrand Crítica: https://cinefialho.blogspot.com/2024/11/o-sucessor-2024-dir-xavier-legrand.html?m=1 __________ A FANFARRA (2024) Dir. Emmanuel Courcol Crítica:  A FANFARRA (2024) Dir. Emmanuel Courcol (cinefialho.blogspot.com) __________ A HISTÓRIA DE SOULEYMANE (2024) Dir. Boris Lojkine Crítica:  A HISTÓRIA DE SOULEYMANE (2024) Dir. Boris Lojkine (cinefialho.blogspot.com) __________ BOLERO, A MELODIA ETERNA (2024) Dir. Anne Fontaine Crítica:  https://cinefialho.blogspot.com/2024/11/bolero-melodia-eterna-2024-dir-anne.html?m=1 __________ O ROTEIRO DA MINHA VIDA (2024) Dir. David Teboul  Crítica: https://cinefialho.blogspot.com/2024/11/o-roteiro-da-minha-vida-2024-dir-david.html?m=1 __________ MEGA CENA Dir. Maxime Govare Crítica: https://cinefialho.blogspot.com/2024/11/mega-cena-2024-dir-maxime-govare.html

MALU (2024) Dir. Pedro Freire

Texto por Marco Fialho Malu enquanto obra   acompanha apaixonadamente sua protagonista, que caminha desafiadora em uma linha tênue e cortante entre a insanidade pela qual lutou toda a vida para transformar um país constantemente em frangalhos, e a lucidez de saber que a vida é feita de dureza e perdas. Perante o recrudescimento nos últimos anos do conservadorismo no país, a personagem Malu   investe intransigente e coerentemente contra ele com tintas fortes e contundentes, sem perdoar a nada nem a ninguém, mesmo que a personagem tenha pagado um alto preço pelas suas escolhas. Os anos são os de 1990, mas bem que poderiam ser qualquer um dos nossos últimos anos. Por isso, a nossa fascinação por Malu (uma estupenda Yara de Novaes) é inevitável e a beleza do caos intrínseca à  Malu  ser terrivelmente cativante. A todo momento oscilamos tal como a personagem da filha Joana (Carol Duarte, sempre brilhante na sua interpretação) entre querer estar perto e se afastar dela. Malu não é para os fr

MADAME DUROCHER (2024) Dir. Andradina Azevedo e Dida Andrade

Texto por Marco Fialho Madame Durocher trata da primeira mulher aceita oficialmente como parteira no Brasil e a primeira a ser aceita pela Academia Brasileira de Medicina, isto depois da intervenção direta do Imperador D. Pedro II. Para contar essa importante história sobre um pioneirismo envolvendo um protagonismo feminino, as diretoras Andradina Azevedo e Dida Andrade criaram uma narrativa fluente em tom novelesco, com um acabamento cinematográfico cuidadoso.  Confesso que essa opção por uma narrativa que lembra os filmes seriados me incomoda, em especial, por ir empilhando cenas perfeitamente organizadas e delimitadas em blocos temáticos propositadamente identificáveis. A narrativa se liga por elementos de causa e efeito, assim todas as cenas estão conectadas por uma linha compreensível, quase didática para os espectadores.  Contudo, existe uma força impressionante e inegável nessa história, mesmo que o roteiro mecanize a montagem que segue cronologicamente sem deixar brechas ou mar

UMA CARTA A THOMAS HOBBES OU O NOSSO LOBO DO LOBO DO HOMEM DE CADA DIA (Crônica)

Texto por Marco Fialho   Prezado Sr. Thomas Hobbes, Sei que o Sr. viveu no já longínquo século XVII e em seu prestigioso Leviatã  disse que o homem era o lobo do homem, numa referência de que nós humanos somos os maiores inimigos de nós mesmos e propôs o Estado como uma instância de mediação entre os homens, para conter a nossa incontida fúria humana. Caetano Veloso, que o Sr. infelizmente não teve a oportunidade de conhecer, com a sua inteligência e perspicácia tragou para o seu belíssimo e sagaz poema musical Língua  o seu pensamento, propondo que devoremos o lobo humano que existe em nós, mas em nome de uma transformação filosófica visando uma superação mais ontológica do que histórica. Essas questões me levaram a seguinte reflexão: o que Sr. pensaria do nosso mundo atual? Essa sentença me abre um imenso vazio no peito, dado à impossibilidade de se descobrir, sobretudo porque o Sr., que foi um arguto filósofo inglês do seu tempo, não chegou a viver de fato o sistema capitalista tal

BOLERO, A MELODIA ETERNA (2024) Dir. Anne Fontaine

Texto por Marco Fialho Apesar do título apelativo brasileiro, Bolero, a Melodia Eterna , lembrando que o original é apenas Boléro , o filme dirigido pela cineasta Anne Fontaine é marcado por um requinte e um acabamento visuais de grande qualidade. Não que o tom adotado seja o do exagero, muito pelo contrário, na maior parte do tempo há precisão na execução.  O filme de Anne Fontaine esmiúça os preâmbulos da concepção do famoso Bolero de Ravel, além de mostrar as mudanças na rotina de vida do compositor Maurice Ravel depois do sucesso de seu Bolero. Há um visível cuidado da direção nessa reconstrução tanto de época quanto de personagens, todos muito bem desenhados e interpretados, com destaque para o ator Raphaël Personnaz, em um trabalho de composição espetacular, com uma contenção impressionante.  Apesar do trabalho de Fontaine ser impecável, há dois momentos questionáveis, mesmo que sejam de alguma forma compreensíveis. Me refiro ao começo e ao final. No começo, Anne quer mostrar ver

O SUCESSOR (2024) Dir. Xavier Legrand

Texto por Marco Fialho obs. me esforcei para não mencionar nenhum spoiler importante, apenas dados que já se encontram na sinopse do filme.     Depois de surpreender com  Custódia , filme de 2017, o próximo trabalho de Xavier Legrand era aguardado com grandes expectativas. Só agora em 2024, que o diretor traz a público O Sucessor . A primeira palavra que me vem a cabeça após assisti-lo é perturbador. Legrand demonstra ser um arquiteto talentoso, tanto como construtor de planos quanto como criador de tensão e condução da atenção. Sem pressa, o diretor vai enredando o espectador na sua trama maquiavélica.  Elias (Marc-André Grondin) é um estilista de moda em franca ascensão, está prestes a assinar uma grande coleção na companhia que trabalha, quando recebe a notícia da morte do pai, que mora no Canadá, depois de mais de 20 anos sem vê-lo. O título do filme já traz diversas leituras possíveis ao instigar de qual sucessão o filme está a tratar, se é a do trabalho ou a do pai. Como já havia

O ROTEIRO DA MINHA VIDA (2024) Dir. David Teboul

Texto por Marco Fialho No documentário  O Roteiro da Minha Vida , o diretor David Teboul propõe um estudo que traça uma relação direta da vida do diretor François Truffaut com a sua obra. A infância conturbada do diretor francês ganha relevância na narrativa, ocupando metade da duração do filme.  Além das imagens de arquivo, Teboul se utiliza de narrações de cartas trocadas com os pais e com artistas como Jean Genet, todas narradas por atores e atrizes consagrados, como Isabelle Huppert e Louis Garrel. As cartas dão um toque diferente à construção do filme, e que lembram muito as próprias narrativas de Truffaut, que também gostava muito de inseri-las em seus filmes. Na primeira parte, a estrutura proposta por David Teboul funciona muito bem, quando o diretor centra a narrativa em especial na infância de Truffaut e no seu longa de estreia Os Incompreendidos (1959), momento em que a temática autobiográfica toma relevo. As nuances percebidas pelo diretor aqui são visíveis e muito bem ajei