Texto por Marco Fialho
Ouro Verde tem como mote a luta pela preservação ambiental de Martin (Félix Moati) um jovem francês, que vai à Indonésia para poder terminar sua pesquisa sobre o tema, quando se depara com Nila (Julie Chen), uma corajosa ativista que tenta defender a preservação da floresta em meio a um ataque ostensivo de uma milícia que representa os interesses escusos de uma indústria que impõe o desmatamento na exploração do óleo de palma.
Contado assim, o filme parece possuir um grau de ação política de grande intensidade, só que na realidade o filme se perde na história do estudante branco europeu preso injustamente em um país onde a elite política é retrógrada e injusta, com um sistema judicial para lá de atrasado e arcaico. Evidente que a prisão do rapaz por tráfico de drogas foi forjada e isso sabemos desde o início. E sabemos disso ainda porque já vimos acontecer em tantos outros filmes, desde o sucesso de O Expresso da Meia-Noite, lá em 1978, que retratava o drama de um jovem dos Estados Unidos sofrendo numa prisão turca.
Além de seguir um caminho tão pouco promissor, o da prisão de um europeu em um país tomado por um governo autoritário, os recursos cinematográficos não são os mais animadores. Ouro Verde em muitos momentos parece ter sido produzido como série e depois reeditado para caber em um formato de cinema, e isso pode ser notado em alguns cortes abruptos típicos de séries, do tipo no próximo episódio teremos mais emoções, fora algumas telas pretas que são também bem comuns nas narrativas seriadas.
Não que Ouro Verde se aparte de todo de uma ideia política, não é esse o problema central do filme. O que mais impacta é uma necessidade eurocêntrica de abordar uma problemática local, sem realmente explorar os seus meandros. A indústria do óleo de palma envolve interesses internacionais que estão muito além da Indonésia. Os principais ativistas da história, que deveriam ser os protagonistas, são Timo (Best Tangwongsiri) e Nila, ambos colocados em segundo plano pelo roteiro, o primeiro, é logo assassinado, e a segunda, sequestrada e desaparece por longas cenas, só reaparecendo no final da trama, mas sem grande relevância. Essas são opções do roteiro que prefere acompanhar o martírio de Martin e da sua mãe Carole (Alexandra Lamy), essa sim, a maior protagonista da história, tentando salvar o filho da sentença de morte.
Ao final, Ouro Verde não vai além de um suspense político, com um bom acabamento imagético (e um som incomodativo bem padrão desse tipo de filme), onde o enfoque antes de ser realmente político, é de uma mãe buscando libertar o filho de um bando de indonésios loucos (basta ver como eles são representados no filme), que condenaram o seu filho à morte, enquanto os maiores vilões (os mega empresários europeus, donos de uma indústria poderosa) são distintos e promovem as injustiças com toda a classe do mundo e são protegidos pela própria embaixada francesa. Tem momentos em que cheguei a pensar: "tudo bem ser canalha, desde que seja na elegância, o que não dar para suportar são esses exóticos vilões indonésios com cara de mau".
Ouro Verde mesmo que aponte alguns bastidores das negociatas dos grandes grupos econômicos e políticos, acaba por centrar a atenção na libertação de Martin e se contenta com isso. Quando isso se encerra, o ciclo do filme se encerra junto, o que entrega a real motivação do filme. O drama de Nila fica à deriva, sua vida, sua história e sua luta, porque afinal, quem mais sofre o cotidiano dessa exploração é a população da Indonésia. Martin estava ali ocasionalmente e mesmo assim tornou-se o protagonista da história.
Esse tipo de enfoque cinematográfico, na minha concepção, exala preconceito, e já está deveras gasto e chega a ser desestimulante para o público, que depois do filme, já espera aqueles letreiros informativos ambientalistas e com pinta de denúncia, que tentam acrescentar algo que o filme realmente não mostrou, ou foi incapaz de produzir. Os habitantes da Indonésia terminam sendo isso, estatística, número e não personagens que possuem uma história e uma luta por uma vida melhor. São eles que Ouro Verde despreza, e invisibiliza, com sua visão eurocêntrica do mundo.
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