Texto por Marco Fialho
Em Gladiador 2, o diretor Ridley Scott levanta um discurso para lá de defasado, já que o cerne de sua proposta é a de restauração de um Império Romano decadente, que se desvirtuou do caminho original e ideal ditado pelos grandes líderes do passado. O roteiro do filme se impõe como se fosse possível a portentosa e arrogante Hollywood, reescrever a história a sua revelia.
Mesmo que o Império Romano se situe no tempo séculos e mais séculos atrás de nós, é inevitável não ler Gladiador 2 como uma referência mais do que direta à política dos Estados Unidos ou pelo menos como uma maneira estadunidense de pensar o mundo. Não deixa de ser um certo vício doentio o de acharem que só existe a forma deles de se conceber o mundo e como isso limita as produções vindas desse país.
Mas enquanto cinema o que dizer de Gladiador 2? Pode-se dizer que esse é um produto altamente descartável, com algumas cenas que chegam às raias do constrangimento, como a da morte de Arishat (Yuval Gonen), esposa de Lucius, que ocorre logo no início do filme e onde vemos o encontro dela com uma espécie de mensageiro da morte. Aqui soma-se imagens mal realizadas com uma ideia simplória de como usar elementos simbólicos em uma obra de arte. E tem mais, Gladiador 2 parte de um personagem que nada mais é do que um degradado e o filme acompanha o seu processo de redenção.
O fato é que Gladiador 2 é tão sem graça, que o melhor dele é Macrinus, o vilão, interpretado por um Denzel Washington mais uma vez inspirado e que rouba a cena do ator Paul Mescal, um Lucius bem genérico, que não chega a entusiasmar, muito por conta de um roteiro raso que desde a primeira cena já aponta onde o personagem chegaria. Se pensarmos nos jovens irmãos imperadores da trama, ambos são pensados como bobocas drogados, tratados pelo roteiro como idiotas de carteirinha e visualmente saídos de um filme de zumbi.
Ridley Scott é tão primário em seu roteiro que não cansa de reiterar a ideia de Império dos sonhos, o que nos leva sem refugo à ideia tão acalentada do sonho americano. Só que a comparação é descabida e forçada. Parece mentira, mas não é. O absurdo é esse mesmo. Contudo, poderíamos dizer que Gladiadores 2 tem efeitos especiais fantásticos, mas até isso não corresponde ao que vemos em tela, pois eles já foram vistos em tantas outras superproduções hollywoodianas, até de pretensão menor do que esta. E a cena dos tubarões, mais uma viagem megalomaníaca de Hollywood, de querer extrapolar o mundo do Império Romano com as bizarrices de uma indústria exibicionista, ridícula e sem vergonha. Ridley Scott já foi um cineasta bem mais sério do que vemos agora, uma pena se submeter a tantos desvarios vazios e exibicionistas.
Gladiadores 2 parte de uma ideia de um Império Romano dividido pela ambição de maus governantes e oportunistas de plantão como Macrinus, que manipula o sistema por dentro, comercializando gladiadores para ganhar dinheiro nas arenas de lutas, inclusive no Coliseu. O grande problema dos filmes de heróis estadunidenses reside em eles pensarem qualquer território como analogia ao seu país, fazendo sempre crer que qualquer semelhança não é mera coincidência. Depois de 20 minutos de projeção, podemos dizer que já dá um fastio danado na boca do estômago. E lembrando que até xarope demais pode matar.
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