Texto por Marco Fialho
Um filme sobre o movimento impressionista francês na pintura é sempre um acontecimento que atrai a atenção dos amantes das artes em geral. O híbrido de documentário e ficção 1874, o Nascimento do Impressionismo, dirigido pela dupla Hugues Nancy e Julien Johan, traz uma boa dose daqueles filmes feitos para canais especializados em arte, em especial uma voz em off como principal veio narrativo.
O filme inclusive se utiliza dessa monocórdica voz em off em seus 94 minutos de duração, o que deveras causa um cansaço no espectador. O curioso na construção de 1874, o Nascimento do Impressionismo é a mistura desse viés mais convencional com um mais ficcional, que não chega a se caracterizar como personagens dentro de uma história, mas que são utilizados como uma representação visual do ato de pintar dos artistas. Apenas em pouquíssimos ensejos, vemos os pintores esboçando uma representação textual, o que deixa essa ideia muito no meio do caminho, já que logo a seguir voltamos à narração em off. Essas imagens ficcionais não acrescentam frescor nem realismo à narrativa, apenas permeia de artificialismo o filme. o que mais o trava do que o dinamiza.
O filme, sem dúvida, conta com muitos conteúdos, embora haja a predominância de um história mais para o factual e presa à cronologia. Um dos problemas de ordem mais teórico é não se ter acesso às fontes de onde o texto do filme é desenvolvido, o que faz com que o resultado soe como algo extraído de notícias de jornal da época, que mais lembram informações retiradas de uma enciclopédia ou de algum livro que faz aqueles compêndios gerais de arte. A luta deles contra o academicismo não é tão aprofundada como merecia, já que era o central do movimento, que batia de frente com os concursos artísticos dos salões, onde as novas formas não eram ainda bem aceitas.
O que mais me atraiu no filme são os vários quadros dos artistas que aparecem durante à narrativa, que acendem uma vontade imensa de ver mais obras fantásticas desses artistas maravilhosos. Outra parte interessante do filme são as relações entre os artistas e as guerras do final do século XIX, uma externa com a Prússia, outra interna com a Comuna de Paris, que impactou a vida dos personagens que vivenciavam o surgimento do impressionismo. Outro aspecto interessante é a inclusão de Berthe Morisot, única integrante feminina do movimento, bem menos conhecida do que Renoir, Monet, Manet, Degas, Pissarro e outros.
Ao final, as escolhas dos diretores Hugues Nancy e Julien Johan de mesclar o documentário mais clássico com partes ficcionais são os maiores entraves que impedem o filme de fluir e prejudicam a fruição do filme, em especial, porque ambos os formatos não funcionam a contento, o que o deixa sempre no meio do caminho. Por mais que a tarefa de reconstituir os primeiros momentos que alavancaram o movimento impressionista ser concretizado, a validade das informações ficaram devendo uma consistência mais teórica que embasasse a abordagem adotada. Ao meu ver, esses artistas maravilhosos e talentosos mereciam um retrato mais estimulante e criativo do que esse documentário entrega.
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