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DIAMANTE BRUTO (2024) Dir. Agathe Riedinger


Texto por Marco Fialho

Diamante Bruto é um filme de personagem, no caso, a jovem Liane, uma menina que almeja ser famosa a qualquer custo. O maior acerto da diretora Agathe Riedinger é na escolha da atriz Malou Khebizi como sua protagonista, ela encarna Liane com uma dedicação de impressionar, com a devida coragem que a personagem exige, embora isso não garanta o completo sucesso na sua empreitada. 

Liane vem de uma família desestruturada, cuja mãe, a colocou numa instituição assistencial, um tipo de internato, e agora não demonstra muito carinho tanto por ela quanto pela filha mais nova. Essa mãe se dedicando mais a sair com homens que pouco fazem por ela, tanto que nem chegam a aparecer na tela. Diamante Bruto pode ser considerado um bom retrato da chamada geração Z, mesmo que se perca em cenas por demais expositivas e que pouco questionem criticamente o contexto social de onde essa personagem Liane emerge. 

Em todos caso, Diamante Bruto tem como mote acompanhar essa personagem contraditória, que gosta de se exibir e Aghate Riedinger deixa a câmera bem solta nos espaços de modo a facilitar o enquadramento em Liane, abusando dos closes e planos próximos do rosto, assim como dos planos detalhes do corpo da personagem.

Chama bastante atenção a maneira como a diretora e a atriz Malou Khebizi montam a personagem conturbada de Liane. O figurino é visto como algo fundamental para a construção de Liane, de sua ousadia, com shorts curtos, decotes que mostram a intervenção nos seios, planos com ênfase na boca, fora nos apliques que ela usa no cabelo, os seus sapatos com brilho e com saltos altos, que dão a ela um certo ar de exotismo. A maquiagem também se destaca como característico da personagem, fora as sobrancelhas desenhadas que ela exibe. A parte visual dela é chamativa e determinante para sua definição como indivíduo. 

Liane busca desesperadamente o sucesso no instagram, com fotos sensuais e sempre voltadas para para atrair a atenção masculina. Esse perfil insólito, de sua página chama a atenção de uma produtora de um famoso reality show, que a convida para uma entrevista de seleção. Depois de ser sabatinada pela produtora, ela precisa esperar pelo resultado e a maior parte do filme retrata Liane nessa espera, na promessa do sucesso ou do fracasso e a angústia infinita de ser selecionada ou não para o programa tão sonhado pela menina.      

Diamante Bruto se compõe muito por essa espera, que dura um mês, mas que deixa Liane desesperada e à flor da pele, afinal, essa é o seu maior objetivo de vida: ficar famosa. O filme se desenha numa linha tênue entre as dificuldades materiais da família (a mãe não paga o aluguel há três meses) e a promessa de riqueza e da tão sonhada fama. Ter seguidores, ser influencier e ser notada por uma rede banhada pela impessoalidade do voyeurismo é a grande meta, mesmo que na vida real você conheça pouquíssimas pessoas. O sucesso nas redes sociais é o que importa, o que te faz parecer vivo. Há um quê de ilusão que escapa da direção. Agathe Riedinger trabalha mais os comentários absurdos (tanto os elogiosos quanto os xingamentos) com a utilização de letreiros grandes na tela. 

O pretendente de Liane, Dino (Idir Azougli), que ela conheceu no internato, paira sobre a história como mais uma promessa. O maior impeditivo da concretização do namoro entre eles reside no fato dele ser muito real e palpável. Liane é antes de tudo uma personagem típica do nosso tempo, uma menina que prefere a irrealidade e o fugidio das redes sociais à concretude da vida, que ela inclusive quer negar e deixar para trás. 

A sexualidade de Liane, em especial, precisa ser aqui pensada, pois a moça, fora das câmeras, não esboça um pingo de prazer com Dino nem por outros homens ou sequer mesmo quando ela tenta se masturbar. O gozo aqui está definitivamente em outro lugar. O que mais me incomodou em Diamante Bruto foi perceber que a direção de Agathe Riedinger se compraz com o universo da personagem, não inserindo até a última cena nenhuma perspectiva crítica sobre ela ou suas atitudes. 

A passividade da direção e do roteiro se afirmam na última cena quando a personagem consegue seu objetivo e nos deixa um leve sorriso de felicidade dentro de um avião rumo aos seus sonhos pueris. Uma mulher literalmente nas nuvens. Fiquei em vão a esperar pelo inferno das falsas promessas que o capitalismo sabe muito bem prometer e jamais entregar, mas a sensação que fiquei foi que a diretora me dizia que vale à pena sofrer sacrifícios porque o sucesso vem quando acreditamos muito nele. Saí de Diamante Bruto com a terrível sensação de que o sistema mais uma vez ganhou pela narrativa.          

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