Texto por Marco Fialho
Talvez O Segundo Ato, filme dirigido por Quentin Dupieux, seja o primeiro a adentrar de fato, de forma direta, na discussão da Inteligência Artificial no que tange a direção de um filme. Durante toda a filmagem, Dupieux brinca com camadas da relação entre atores e o seu ofício, já que aqui os personagens são atores, que fazem por sua vez papéis de atores.
O elenco estelar, composto por Louis Garrel, Lea Seydoux, Vincent London, já se mostra em si algo curioso, por esses famosos atores fazerem papéis também de atores. Várias brincadeiras com o cinema são realizadas, como a que simula o convite de Paul Thomas Anderson a um dos personagens, o que desperta o ciúme de outros, o que joga com essa espera que os atores tem por trabalhar com diretores importantes. Mas como fica então o cinema dirigido por uma inteligência artificial? Dupieux, de certo, debocha um pouco de tudo isso.
O Segundo Ato é composto por alguns longos planos sequências de conversas entre os personagens sobre a natureza da interpretação, inclusive sobre o que pode e não pode ser dito na frente das câmeras. Nesse ponto, há um quê de deboche bem ao estilo do diretor, que gosta de flertar com as concepções consagradas de cinema que o público também é uma das peças da engrenagem do que é ou deve ser um filme.
Essa ideia de Dupieux é realmente interessante, apesar de arriscada, pois essas camadas que explora não criam nenhuma identidade com o público. Fiquei com a impressão de que Dupieux se perde em meio às suas próprias armadilhas, ao decepar o interesse do público com diálogos pouco cativantes. Talvez o que ele prove é o quanto a chatice do seu filme venha da própria inteligência artificial que está no comando, embora essa estratégia seja por demais arriscada para o resultado final do seu filme.
A cena em que o personagem do garçom se mata pela segunda vez, em um segundo ato, pode ser uma síntese acerca da própria natureza desse filme, e converse com acena anterior, quando Garrel discute sobre o que é realidade e ficção na vida dos atores. Inclusive, há uma discussão sobre o ato de depreciação do próprio trabalho do ator. Isso fica evidente na cena em que o personagem de Vincent London esboça discutir com a inteligência artificial e essa o ignora por completo.
Mas Quentin Dupieux avança com seu risco ao mostrar, no final, o longo trilho utilizado na cena inicial onde Garrel está convidando o amigo para dar em cima de uma mulher que o perturba para namorar. Aquele trilho em si lança uma reflexão imediata sobre a humanização de uma filmagem, afinal, somente pessoas poderiam ter armado aqueles vários metros de trilhos, jamais a inteligência artificial.
Mas Dupieux é esperto, ele filma esses trilhos cinematográficos como se fossem trilhos de trens, o que remete tanto aos caminhos do cinema quanto à origem do cinema. Os meus pensamentos foram de imediato para 1895, quando um trem veio ao encontro das pessoas numa tal sessão organizada por uns tais irmãos Lumiére. É o cinema, arte tecnológica por natureza, se reinventando sem parar, independente das vans razões humanas.
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