Texto de Carmela Fialho e Marco Fialho
A Favorita do Rei é um drama histórico baseado na biografia de Jeanne du Barry, escrito, dirigido e protagonizado por Maïwenn, que conta com Johnny Depp como Luis XV. Ambientado na corte de Versalhes, Jeanne foi uma jovem cortesã que ascendeu a condição de amante do rei e após a morte da rainha, passou a morar na corte e desfrutar declaradamente da função de preferida do monarca Luis XV. Para tanto, foi arranjado um casamento de aparência com nobre Du Barry e através de sua influência junto ao rei, alcançou status de nobreza, apesar da sua origem humilde.
Como todo filme de época, as questões palacianas assumem o centro da narrativa enfatizando os preconceitos sociais, principalmente no que se refere à questão de aceitação dessa mulher que não tinha origem nobre, embora desfrutasse de prestígio junto ao rei. Portanto, o filme se desenvolve nessa linha tênue entre apoios e rejeições que Jeanne recebeu durante o período que viveu na corte até a morte de Luís XV de varíola, quando ela foi expulsa de Versalhes e confinada em um convento.
Maïwenn se utiliza de uma narração em off para descrever alguns momentos da vida de Madame du Barry, mas estranhamente a abandona, volta e abandona novamente, e na maior parte do tempo, apenas vemos a história transcorrer convencionalmente a nossa frente. Apesar do design de produção ser caprichado, na maior parte do filme, falta algum tipo de eloquência narrativa ou até mesmo nos enquadramentos, que não chegam a se destacar ou chamar a atenção para algum viés original da história. A própria trilha musical parece deslocada da imagem, como se o enredo fosse mais para o contemporâneo, o que chega a incomodar o acompanhamento do espectador.
O elemento mais interessante do filme está no fato da direção sublinhar o protagonismo de uma mulher que conseguiu se impor mesmo em situações adversas, através de atitudes irreverentes para a sua época e que chegou inclusive a usar roupas masculinas, lançando moda ao usar vestidos com listras e cabelos sem perucas. A parte que merece uma maior atenção é bem perto do fim, quando Luis XV se despede de Madame du Barry e ela solta um "eu te amo". O Rei retribui a confissão e reconhece que as formalidades são como uma forma de prisão, como se quisesse dizer que o excesso de privilégio e ritos palacianos apenas aprisionam o humano que se esconde por trás de tanto aparato institucional.
As atuações de Maïwenn como Jeanne du Barry e Johnny Depp como Luis XV até funcionam bem, mas no todo, a narrativa não chega a empolgar o espectador. Parece que estamos assistindo a mais um filme de época baseado nos romance palacianos já bastante batidos. A ausências de surpresas fazem de A Favorita do Rei uma obra linear e sem grandes momentos visuais ou narrativos, embora muito bem acabada e boa de assistir. Talvez, o vazio daquelas existências superficiais tenha contagiado tanto o filme, que saímos do cinema sem algo a mais que nos faça refletir mais profundamente sobre aquele mundo.
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