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Mostrando postagens de outubro, 2024

MEU BOLO FAVORITO (2024) Dir. Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha

Texto por Carmela Fialho e Marco Fialho O filme iraniano Meu Bolo Favorito , dirigido pelo casal Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha, representa uma crítica a sociedade iraniana ditatorial dominada pelo Estado Islâmico, que polícia diariamente a vida da população civil e sufoca manifestações de afeto e desejos. Em 2022, o casal dirigiu o ótimo O Perdão , um dos melhores filmes daquele ano. Mahin (Lily Farhadpour) é uma mulher solitária e viúva, de setenta anos, que viveu toda a sua vida no Irã e passou por todas as mudanças políticas que prejudicaram decididamente a situação das mulheres. Sua vida se resume a uma casa muito bem organizada, um jardim construído com muito esmero, que dispõe de ervas comestíveis. Os únicos hobbies de Mahin é fazer crochê e ver televisão. A filha e os netos não moram no Irã, o marido faleceu há 30 anos e as amigas que via com frequência, agora se encontram cada vez mais raramente. A solidão é sua maior companheira e as tarefas rotineiras só agravam sua co

O QUARTO AO LADO (2024) Dir. Pedro Almodóvar

Texto por Marco Fialho Pedro Almodóvar vem durante anos investindo em atualizar o melodrama. Em O Quarto ao Lado , creio que ele atingiu o seu auge nesse aperfeiçoamento ou a sua perfeição se assim preferirmos. Sim, foram anos de persistência, de se burilar o estilo. Desde Carne Trêmula (1997), o diretor iniciou um processo de amadurecimento justamente quando começa a introduzir elementos do melodrama em sua obra, mesmo que ainda o humor estivesse sempre presente e muitas vezes discussões em torno de identidades de gênero.   Pode-se dizer que o inusitado marcou essa fase que adentrou os anos 2000 com força, com Tudo Sobre a Minha Mãe  (1999), Fale Com Ela (2002), Má Educação (2004), Volver (2006), Abraços Partidos (2009), A Pele Que Habito (2011). Quando em 2013 Almodóvar voltou para a comédia com Os Amantes Passageiros (2013), muitos achavam que ele largaria o projeto de atualizar o melodrama para voltar às comédias mais escrachadas. Entretanto, o seu trabalho seguinte, Julieta (2016)

COBERTURA CINEFIALHO DO FESTIVAL DO RIO 2024

O QUARTO AO LADO (2024) Dir. Pedro Almodóvar Crítica:  O QUARTO AO LADO (2024) Dir. Pedro Almodóvar (cinefialho.blogspot.com) __________ MEU BOLO FAVORITO Dir. Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha  A HORA DO ORVALHO (2023)  Dir. Marco Risi Crítica:  A HORA DO ORVALHO (2024) Dir. Marco Risi (cinefialho.blogspot.com) __________ O CASTIGO (2022) Dir. Matías Bize Crítica:  O CASTIGO (2022) Dir. Matías Bize (cinefialho.blogspot.com) ____________   EMILIA PÉREZ (2024) Dir. Jacques Audiard  Crítica:  EMILIA PÉREZ (2024) Dir. Jacques Audiard (cinefialho.blogspot.com) __________ TODAS AS ESTRADAS DE TERRA TÊM GOSTO DE SAL Dir. Raven Jackson Crítica:  TODAS AS ESTRADAS DE TERRA TÊM GOSTO DE SAL (2023) Dir. Raven Jackson (cinefialho.blogspot.com)

TODAS AS ESTRADAS DE TERRA TÊM GOSTO DE SAL (2023) Dir. Raven Jackson

Texto de Marco Fialho Todas as Estradas de Terra Têm Gosto de Sal , da diretora Raven Jackson, narra poeticamente a vida de Mack ( Kaylee Nicole Johnson ), uma menina e mulher negra que viveu e cresceu às margens do Rio Mississipi. Nota-se desde a primeira cena, o talento fotográfico de Raven, esse que é um ofício no qual a diretora possui um lastro como profissional. Esse é o seu primeiro filme como diretora e ao que tudo indica, retrata algo muito pessoal e orgânico.  O filme me remeteu muito a um álbum de fotografias, com o seu um quê de nostalgia e solidão. Os planos são longos de modo a estender a dimensão temporal das cenas. Há ainda um visível elemento cíclico onde a água (da chuva e do rio) e a terra (as estradas e o barro) estão não só presentes como se tornam recorrentes durante toda a trama. A diretora Raven Jackson opta por um caminho muito mais sensorial para contar a sua história do que construir cenas muito explicativas, os tempos se embaralham, a trama alterna entre pas

EMILIA PÉREZ (2024) Dir. Jacques Audiard

Texto por Marco Fialho A primeira impressão que queria deixar acerca de Emilia Pérez , filme dirigido por Jacques Audiard, exibido em Cannes e escolhido para abrir o Festival do Rio 2024, é o da ousadia. O diretor edifica corajosamente um musical melodramático de grande impacto sensorial, mesmo que haja algumas irregularidades quase inevitáveis dentro do formato narrativo proposto.  A ideia de inserção musical é introduzida na narração de maneiras diferentes, ora como verdadeiros videoclipes ora como prolongamento cantado e intimista em forma de diálogos. Creio que esta última se adequa melhor dado à moldura melodramática pretendida, por ser mais orgânica. Já as inserções de videoclipes deixam mais engessada a proposta, além de evidenciar um corte na linha narrativa em benefício de uma espetacularização do filme.  De repente, Rita Moro Castro (Zoë Saldaña) surge interagindo com outros personagens dançando e performando quando a cena representava algo de dramático, e ali, no musical, tu

O CASTIGO (2022) Dir. Matías Bize

Texto por Marco Fialho O Castigo , dirigido por Matías Bize, é um drama de grande impacto dramatúrgico e cinematográfico. O diretor transforma seu fiapo de história em um grande teatro a céu aberto. A história do casal Ana (Antonia Zegers) e Mateo (Nestór Cantillana), cujo filho de sete anos desaparece em um região de floresta na Argentina, logo depois que os pais o abandonam para lhe dar um castigo, lança uma intriga familiar densa desde o começo, que só vai se intensificando a cada novo momento.  A decisão de Matías Bize de filmar tudo em um único plano-sequência é o grande achado do filme. Apesar do cenário ser amplo, o de uma estrada cujo entorno é todo de uma floresta, há uma sensação de sufocamento incessante, pois a câmera está sempre a registrar a angústia do casal. A estrada e a beira da floresta (a câmera jamais adentra tão fundo nela) formam o palco dos 87 minutos que para os espectadores voam. Essa falta de interrupção da câmera (não há um corte feito em um fundo preto ou b

A HORA DO ORVALHO (2024) Dir. Marco Risi

Texto por Carmela Fialho A Hora do Orvalho , do diretor italiano Marco Risi (filho do consagrado diretor Dino Risi), desenvolve a narrativa a partir de dois jovens infratores que recebem como pena trabalhar em uma casa de repouso de idosos. O filme busca retratar as mudanças de atitudes dos dois jovens desde a chegada na casa de repouso até completar um ano de serviços prestados na entidade. O filme é um drama que procura abordar temas existenciais como a velhice, o suicídio, o uso exagerado das drogas na juventude, doenças incuráveis como o alzheimer, com pitadas de poesias e uma envolvente trilha sonora de Leandro Piccioni, discípulo do saudoso mestre Ennio Morricone. O encontro das gerações acaba acontecendo em cenas poéticas como a chegada da neve no inverno, as festas do natal e virada do ano, além de bailes regado a danças e músicas da época em que os idosos eram jovens.  O diretor Marco Risi se utiliza de intertítulos para assinalar as estações do ano marcando a temporalidade