Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2024

MARCELLO MIO (2024) Dir. Christopher Honoré

Texto por Marco Fialho Marcello Mio , dirigido por Christopher Honoré, pode ser lido como uma irreverente história sobre Marcello Mastroianni, ou simplesmente, como uma piada de mau gosto. Fica ao critério do freguês. Mas o fato é que aqui pouco se vê Mastroianni realmente representado, pelo menos com a dignidade que ele merecia. A audácia e a sua personalidade única ficam longe de aparecer em Marcello Mio.    O que, ao meu ver, o diretor Christopher Honoré faz é reafirmar a sua recente pouca inspiração em trabalhos como o decepcionante  Inverno em Paris (2022). Em  Marcello Mio ele conta com a colaboração de Chiara Mastroianni, filha de Marcello e Catherine Deneuve, como sua protagonista. E é bom que se diga que a atriz nada tem a ver com os pontos negativos desta obra.  Marcello Mio mostra o quanto é difícil para Chiara Mastroianni ser filha de dois ícones do cinema europeu. Numa encenação com a diretora Nicole Garcia, essa pede para Chiara ser mais Marcello q...

LUBO (2024) Dir. Giorgio Diritti

Texto por Marco Fialho Um dos maiores méritos de Lubo , filme dirigido por Giorgio Diritti, é trazer a temática do preconceito contra o povo cigano durante o período da 2ª Guerra Mundial, normalmente mais centrado ou na discussão do nazifascismo ou no extermínio dos povos judaicos, o que torna esse filme mais valioso ainda.  O filme centra a narrativa na figura do cigano Lubo (Franz Rogowski), que é convocado pelo governo suíço para proteger às fronteiras contra uma possível invasão alemã, depois que deu início o conflito mundial. Longe da esposa e dos três filhos, Lubo fica sabendo que os filhos foram para doação e a mulher assassinada ao tentar proteger os 4 filhos (um deles ainda na barriga). Lubo fala da desintegração que ocorre a partir dessa tragédia familiar. O objetivo do protagonista passa a ser o da vingança e da tentativa de descobrir o paradeiro dos seus filhos.  Lubo é um filme pensado para ser cruel, a partir de um personagem fraturado pela história humana. Numa ...

LIDANDO COM OS MORTOS (2024) Dir. Thea Hvistendahl

Texto por Marco Fialho  Lidando com os Mortos , estreia em longas ficcionais da jovem diretora norueguesa  Thea Hvistendahl, é um instigante drama com terror, ou, se preferir, um terror dramático narrado a partir de poucos diálogos e imagens impactantes. Imagina se algum morto de sua família um dia qualquer retorna a sua casa, sem aparente razão? Essa é a premissa que a diretora parte para recriar a vida de três famílias diferentes em um verão em Oslo.   O filme não pretende estabelecer respostas prontas, ou muito menos definitivas, sobre questões que envolvem as famílias e suas relações antigas com os mortos. Perdas e memórias fazem parte do espectro do contexto das mortes.  Thea Hvistendahl  monta o seu ambiente cinematográfico onde cabe muitas interpretações. Não sabemos se os mortos estão realmente agindo ou se tudo que vemos são reflexos emocionais dos vivos, que não se conformaram com as situações de cada morte. Se numa das histórias, uma senhora se r...

RAMONA - UMA HISTÓRIA DE AMOR À PRIMEIRA VISTA (2023) Dir. Andrea Bagney

Texto por Marco Fialho Não é muito comum vermos comédias românticas pelo cinema europeu. Ramona - Uma História de Amor à Primeira Vista é por isso uma obra que já nasce diferente. Tem uma graça que em boa parte vem do carisma da atriz Lourdes Hernández, que interpreta a personagem-título. Mas confesso que o encanto presente no início, se perde no transcurso do filme.  Não sei se essa estrutura, cada vez mais usual, de dividir os filmes em partes, e nomeá-las com subtítulos é tão interessante assim. É como se a direção quisesse direcionar nosso olhar para a obra. É bem mais desejante quando a direção nos deixa livre para desenhar uma história por nós mesmos, sem algo a nos limitar a percepção. O ápice acontece na última parte quando lemos "o final". A direção assim quer nos preparar para o término do filme, já não há mais tema, apenas o fim. Quer algo mais sem graça que isso?   Na história do filme, Ramona é uma atriz que está a mudar de vida, está morando em Madrid, ...

AS JOIAS DA VIDA MIÚDA (crônica)

Crônica por Marco Fialho As formigas são seres fantásticos. Elas não param jamais, constroem, carregam um peso descomunal, se articulam entre si e são colaborativas. Eu amo também estar em movimento, mas resolutamente eu não sou uma formiga e não há ironia alguma nessa sentença.  Eu amo parar e ver coisas bonitas acontecerem na minha frente, sem que eu possa interferir em nada. Observar a chuva numa varanda e ouvir as suas gotas tocarem nas folhas a fazerem um som reconfortante, equivalente a um sorriso, por receber um sortilégio vindo dos céus. Um sorriso delas que se amplia em mim. Sim, eu estou escrevendo numa varanda, enquanto a chuva cai sem pedir licença a ninguém. Podia estar nervoso por vê-la cair e impedir minha ida à praia. Mas é um presente observar sua força magnânima e abençoada. A terra parece se abrir para recebê-la. Meus ouvidos e olhos extasiados estão em nirvana, se purificando com o seu encanto.  A rede a balançar gera um barulhinho bom de preguiça, mas meus...

CONTINENTE (2024) Dir. Davi Pretto

Texto por Marco Fialho Desde que filmou o ótimo  Rifle (2016), o diretor Davi Pretto colocou o seu sarrafo cinematográfico lá em cima. A verdade é que  Continente , o seu mais novo projeto, não chega a impressionar na mesma medida. E olha que há qualidades nesse trabalho, embora falte amarrar melhor as diversas simbologias presentes nessa nova obra.  Alguns elementos do faroeste inseridos em Rifle retornam em Continente , embora sem a mesma força, já´que o toque predominante agora é o do vampirismo. E acreditem, o viés de filme de terror do filme é uma dos traços mais intrigantes que Pretto insere na obra. Continente começa com Amanda (Olivia Torres), morando há 15 anos na Europa, chega na fazenda do pai, que está quase morto, com o namorado francês Martin (Corentin Fila) e se depara com estranhos rituais estabelecidos entre o seu pai e os funcionários.  Cada nova cena, os mistérios aumentam e a atmosfera de terror e sangue só pioram. As cenas são muito bem film...

LEVADOS PELAS MARÉS (2024) Dir. Jia Zhang-Ke

Texto por Carmela Fialho e Marco Fialho Levados pelas Marés , do consagrado diretor chinês Jia Zhang-Ke, foi gravado em vários anos diferentes da China, começando em 2001 na virada do milênio, passando pela vitória de Pequim para sediar as Olimpíadas de 2008, a construção da barragem da maior hidrelétrica do mundo, as Três Gargantas, localizada no Rio Yangtzé, até chegar na pandemia provocada pelo Corona vírus. Esse rastro de 20 anos, é utilizado pelo diretor para também fazer um balanço do desenvolvimento astronômico da China nesse pequeno arco de tempo. O filme integra as cenas ficcionais do casal com cenas documentais das transformações urbanas e sociais resultantes da crescente industrialização da China. Alguns simbolismos são fundamentais, como o da cidade em escombros, devido a sua  demolição para dar lugar à barragem para  atender a hidrelétrica, ser o cenário perfeito para protagonizar o reencontro dos amantes, significando o desmoronar do relacionamento do casal ...

BICHO MONSTRO (2024) Dir. Germano de Oliveira

Texto por Marco Fialho É bem difícil ver filmes chegarem ao circuito comercial brasileiro, que se passam no interior do Rio Grande do Sul. São histórias pouco conhecidas da maioria do país, o que por si, já deveria atrair a nossa atenção.  Bicho Monstro , de Germano de Oliveira, além desse aspecto territorial, traz uma história ambiciosa em sua dimensão temporal ao misturar duas épocas distintas: uma no século XVIII e da atual, para discutir uma lenda do interior do Rio Grande do Sul, de um imaginário pássaro com cara de roedor (Thiltapes).  A lenda reaparece numa apresentação teatral e impressiona Ana (Kamilly Wagner), uma menina cujo pai desconfiam na comunidade que cegou a vaca do vizinho após perder uma competição para ele da melhor vaca da região. O filme fica indo e vindo no tempo, mas a direção de Germano de Oliveira não consegue criar um vínculo real entre elas, nem fazer com que a lenda tenha uma relevância na história, seja no passado ou no presente.  Um dos pon...

MICHEL GONDRY: FAÇA VOCÊ MESMO! (2023) Dir. François Nemeta

Texto por Marco Fialho Quem ama cinema gosta de ver filmes sobre cineastas. É sempre bom poder entender melhor sobre os recursos dos artistas, suas influências, a infância e sua aproximação com o universo cinematográfico. Michel Gondry: Faça Você Mesmo! , dirigido pelo seu assistente François Nemeta, mergulha nesse processo criativo do cineasta Michel Gondry e se sai bem ao mostrar o seu lado mais cativante.  Logo no início, uma atriz diz que não gostaria de estar na cabeça de Gondry, tendo como referência a loucura que deve ser. Quem já assistiu a um filme sequer dele, logo entende o que ela quer dizer. François Nemeta, então pode ser considerado um diretor corajoso por levar a cabo a ideia de penetrar na cabeça criativa do cineasta francês que inusitadamente fez uma carreira improvável em Hollywood, terra dos grandes estúdios e das produções blockbusters .    Creio que o maior mérito de François Nemeta é explorar com sucesso a infância de Gondry, onde as habilidades man...

E, EM DIREÇÃO A BECOS FELIZES (2023) Dir. Sreemoyee Singh

Texto por Marco Fialho É mais do que sabido, o encanto que o cinema iraniano causa mundo afora desde os anos 1990, e como ficamos contentes quando sabemos que este cinema está sendo reverenciado de algum modo.  E, Em Direção a Becos Felizes é um documentário delicado, filmado com sensibilidade por Sreemoyee Singh , uma jovem diretora indiana que se propôs pesquisar o cinema iraniano em sua tese de doutorado e dividir um pouco dessa experiência fazendo um filme sobre a sua relação com alguns personagens.  Pode-se dizer, que o cineasta Jafar Panahi é o grande protagonista do filme, filmado quase sempre dentro do seu carro ou em encontros com atrizes com quem trabalhou. E todos sabemos o quanto o cinema iraniano já nos brindou com filme filmados dentro de carros e táxis, de Abbas Kiarostami ( Ten e Gosto de Cereja) ao próprio Panahi ( Táxi Teerã e 3 Faces ). Nota-se que a diretora indiana se inspira nos filmes iranianos que admira para construir seu documentário-poema....

A GAROTA ADAMANTE (2024) Dir. P.S. Vinothraj

Texto por Marco Fialho Quem está acostumado a assistir os filmes indianos vindos da chamada Bollywood, com certeza vai estranhar A Garota Adamante , um drama que nada tem a ver com os musicais cafonas e as correrias dos roteiros que chegam por aqui cheios de dramas românticos cantados e muita correria. O filme dirigido pelo jovem diretor P.S.Vinothraj segue caminhos narrativos bastante diferentes, sem as pirotecnias técnicas e de efeitos visuais tão afeitos ao cinema indiano que normalmente é exibido no Brasil. A Garota Adamante trata de um tema bem pontual e procura o aprofundar nos seus 90 minutos, o de uma menina que decide não casar mais com o noivo, porque se apaixonou por outro homem, que além de tudo, ainda pertencia a outra casta. Enquanto o noivo foi trabalhar para poder juntar dinheiro para efetivar o casamento, a noiva foi fazer faculdade, justamente o local onde o novo amor floresceu.  Entretanto, o filme de P.S.Vinothraj vai muito além dessa história, pois atinge numa ...

SORRIA 2 (2024) Dir. Parker Linn

Texto por Marco Fialho O interessante da premissa da franquia Sorria, que agora avança para seu segundo filme, é que estamos diante de uma maldição que é sempre passada adiante, bastando a pessoa "infectada" (ou afetada) sorrir para alguém e morrer a seguir, transferindo a maldição para quem presenciou o sorriso. Essa estrutura de história abre caminho para que a "infecção" permaneça presente sempre em algum corpo. Implico, e muito, com as franquias hollywoodianas, que forçam em demasia a barra em continuações intermináveis e comercialmente lucrativas, o que por enquanto não ocorreu com Sorria, embora ainda seja prematuro para afirmar algo a respeito.  Sorria 2 , dirigido e roteirizado por Parker Finn, propõe um cinema bem urdido e que joga com doses precisas de elementos enigmáticos, que dialogam com atributos psicológicos consistentes, além de bastante atuais. A coerência com a qual a direção consegue lançar mão de pontos de vista indeterminados, que não permitem,...

SUPER/MAN - A HISTÓRIA DE CHRISTOPHER REEVE (2024) Dir. Ian Bonhôte e Peter Ettedgui

Texto por Marco Fialho  Em  Super/Man - A História de Christopher Reeve os diretores   Ian Bonhôte e Peter Ettedgui buscam reconstituir a história do famoso ator de Superman tentando imolar a ele o heroísmo deste personagem. E isso me pareceu muito estranho, já que uma das lutas de Christopher Reeve antes do acidente foi ser reconhecido como um ator capaz de interpretar muitos outros personagens, e não de ser conhecido como o eterno Superman. Ele sempre insistiu que não tinha nada a ver com o personagem que o tornou famoso. O documentário opta por não adotar a linearidade cronológica na construção de sua narrativa. Os diretores preferem ir mesclando os momentos pós acidente com os que o antecederam, tanto que logo no início, o tema acidente já é incluído na narrativa do filme. Esse estratégia possibilita que os diretores coloquem o acidente não só no centro da história, mas também como um momento que vai permear o filme do início ao fim, o que mantém o interesse do públic...

COBERTURA DA MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO 2024

LIDANDO COM OS MORTOS (2024) Dir. Thea Hvistendahl Crítica:  https://cinefialho.blogspot.com/2024/10/lidando-com-os-mortos-2024-dir-thea.html?m=1 __________ MARCELLO MIO (2024) Dir. Christopher Honoré Crítica:  MARCELLO MIO (2024) Dir. Christopher Honoré (cinefialho.blogspot.com) __________ LEVADOS PELAS MARÉS (2024) Dir. Jia Zhang-Ke Crítica:  LEVADOS PELAS MARÉS (2024) Dir. Jia Zhang-Ke (cinefialho.blogspot.com) __________ CONTINENTE (2024)  Dir. Davi Pretto Crítica:  CONTINENTE (2024) Dir. Davi Pretto (cinefialho.blogspot.com) __________ BICHO MONSTRO (2024) Dir. Germano de Oliveira  Crítica:  BICHO MONSTRO (2024) Dir. Germano de Oliveira (cinefialho.blogspot.com) 1 __________ MICHEL GONDRY: FAÇA VOCÊ MESMO! (2023)  Dir. François Nemeta Crítica:  MICHEL GONDRY: FAÇA VOCÊ MESMO! (2023) Dir. François Nemeta (cinefialho.blogspot.com) __________ A GAROTA ADAMANTE (2024) Dir. P. S. Vinothraj Crítica: https://cinefialho.blogspot.com/2024/10/a-ga...

DYING - A ÚLTIMA SINFONIA (2024) Matthias Glasner

Texto por Marco Fialho Dificilmente você verá um filme que consegue ir tão fundo nos personagens, e ainda assim ser tão áspero com eles. Esse é o grande mérito do diretor Matthias Glasner ao realizar Dying - A Última Sinfonia . E o mais cruel desse filme é que antes de subir os créditos finais, vemos o diretor dedicando o filme à família dele, justamente depois de assistirmos um exemplo de como não deveria ser uma família. Óbvio que há uma ironia nessas palavras, o que me leva a supor duas possibilidades: uma, que a família dele é o oposto do que vemos em tela; outra, que ela é muito próxima do que vimos no filme. Convenhamos, que as duas formas têm lá a sua graça, ou desgraça, se assim preferir. Normalmente, não aprecio comentar a direção de atores logo no início da minha análise, creio que em  Dying - A Última Sinfonia , isso torna-se central de ser pensado logo de cara, já que nela reside muitas das qualidades do filme, e afinal, essa é uma obra que delineia pela maneira que con...

A SEMENTE DO FRUTO SAGRADO (2023) Dir. Mohammad Rasoulof

Texto por Marco Fialho A Semente do Fruto Sagrado , do iraniano Mohammad Rasoulof, é aquele filme que se pode classificar como pedrada. O diretor investe diretamente na estrutura autoritária do Estado iraniano, com uma trama que mescla drama e suspense, a partir de uma narrativa que explora o seio de uma família, cujo o pai, Iman (Missagh Zareh), está em ascensão no governo, mas precisará também administrar, em paralelo, a esposa Najmeh (Sohella Golestani) e duas filhas adolescentes dentro de um contexto de demasiada pressão. O filme resgata a parábola apontada no título, que serve como uma metáfora contra o regime autoritário no Irã, de uma semente que brota a partir dos pássaros que comem as sementes do figo e as expelem pelas fezes em outras árvores, que germinam nos galhos dessas árvores hospedeiras e crescem até estrangular e matar, para que a figueira hospedada sobreviva e assim cresça. No filme, igualmente, o governo se infiltra na família de Iman até a aniquilar.  A históri...

O BANHO DO DIABO (2024) Dir. Severin Fiala e Veronika Franz

Texto por Marco Fialho O filme de terror mais terrível é quando ele retrata algo que efetivamente aconteceu. É o caso de O Banho do Diabo , dirigido pela dupla Severin Fiala e Veronika Franz, que viaja até o século XVII para contar a trajetória de Agnes (uma Anja Plaschg, simplesmente fantástica), uma mulher massacrada pelas mentes obtusas de uma sociedade patriarcal opressora às mulheres, calcada em valores religiosos que normalizam e instauram a infelicidade aos corpos, especialmente os femininos. Disse corpos acima, no plural, porque o marido de Agnes também não se realiza nesse contexto social, já que em algumas cenas é sugerido que deseja corpos masculinos e não femininos. Assim, o casamento com Agnes não parece igualmente completa-lo, já que jamais irá tocar no corpo de Agnes, por mais que ela se ofereça insistentemente.  A dupla de diretores busca a todos instante estabelecer a atmosfera de terror, mas do que realmente se utilizar das estratégias narrativas desse gênero. Em ...

SEX (2023) Dir. Dag Johan Haugerud

Texto por Marco Fialho Enquanto espectadores, esperamos do cinema duas situações básicas: assistirmos a mais um filme ou sermos surpreendidos por ele. Sex , drama norueguês dirigido por Dag Johan Haugerud, se enquadra bem na segunda opção por trazer uma abordagem inesperada e um roteiro intrigante. Ou para ser mais preciso ainda: desconcertante.  Apesar de ser um filme onde os diálogos são longuíssimos, e os planos não tão dinâmicos, a direção se revela enigmática com ângulos e movimentos que despertam a atenção. As câmeras são quase imóveis, mas quando ela se movimenta, somos atraídos e conduzidos elegantemente por elas. O diretor gosta de usar o zoom da câmera para nos aproximar ou afastar de algumas cenas, seja para revelar algo ou para restringir o nosso campo visual. Esses artifícios combinam magistralmente com o âmbito temático abarcado em Sex . A premissa de Sex  é simples até em demasia. O que surpreende é o conteúdo em si e o ponto de vista irônico das discussões, o e...

A CASA (2024) Dir. Álex Montoya

Texto por Carmela Fialho e Marco Fialho  A Casa , filme do diretor espanhol Álex Montoya, tem como tema principal o espólio do pai falecido, uma casa de campo no interior da Espanha que tem como herdeiros dois irmãos e uma irmã. Como o título sugere, o encontro dos três irmãos e suas famílias, ocorre nesta casa que carrega uma grande carga de memória para todos que a dividiram tanto durante à infância quanto em outros períodos da vida. O diretor utiliza o recurso de uma janela menor, em formato 4x4, e uma fotografia em sépia, para puxar diversas cenas de flashbacks que situam e mergulham o espectador nas memórias de infância dos irmãos pelos espaços da casa. A Casa pode ser considerado um filme sobre a relação dessa família, que no presente está afastada, com cada irmão vivendo imerso na família nuclear que construiu na vida adulta. Com a morte do pai, o que vemos é um reencontro entre o antigo núcleo familiar formado pelos irmãos, que vai revelar as diversas contradições do passad...