Texto por Marco Fialho
Quem ama cinema gosta de ver filmes sobre cineastas. É sempre bom poder entender melhor sobre os recursos dos artistas, suas influências, a infância e sua aproximação com o universo cinematográfico. Michel Gondry: Faça Você Mesmo!, dirigido pelo seu assistente François Nemeta, mergulha nesse processo criativo do cineasta Michel Gondry e se sai bem ao mostrar o seu lado mais cativante.
Logo no início, uma atriz diz que não gostaria de estar na cabeça de Gondry, tendo como referência a loucura que deve ser. Quem já assistiu a um filme sequer dele, logo entende o que ela quer dizer. François Nemeta, então pode ser considerado um diretor corajoso por levar a cabo a ideia de penetrar na cabeça criativa do cineasta francês que inusitadamente fez uma carreira improvável em Hollywood, terra dos grandes estúdios e das produções blockbusters.
Creio que o maior mérito de François Nemeta é explorar com sucesso a infância de Gondry, onde as habilidades manuais foram bem desenvolvidas a partir de pais hippies que incentivavam a criatividade do menino. Brincadeiras voltadas para o manual e à artesania, como colagens, recortes e outras atividades que estimularam o pensamento mágico de Gondry desde cedo. Por isso, é possível sempre ver seus filmes como uma espécie de brincadeira de criança, com o aspecto lúdico bastante presente nas obras, o que pode ser chamado de "faça você mesmo", que nada mais é do que dar asas à imaginação, jamais a tolher.
Gondry começou a vida profissional no grupo musical chamado Oui Oui, no qual, além de tocar bateria, também fazia os videoclipes da banda, que chamaram a atenção de muita gente, já que Gondry se utilizava de técnicas rudimentares criativas como as da animação em stop motion. Com o fim da banda, ele logo foi chamado para fazer videoclipes de vários artistas, inclusive da cantora Bjork, Daft Punk, White Stripes e dos Chemical Brothers. Com o estilo artesanal de filmagem, e uma câmera sempre muito móvel, disposta a mudar radicalmente de perspectiva, Gondry foi impondo uma maneira diferente de abordar os videoclipes e chamando bastante atenção de um mercado em franca expansão na música.
François Nemeta se apoia na sua proximidade com o próprio Michel Gondry para fazê-lo protagonista e narrador de sua própria história, mostrando o cineasta muitas vezes em conversas com parceiros ou familiares (especialmente o irmão mais velho) e revelando os momentos mais importantes da carreira. É justamente o videoclipe que o leva para os Estados Unidos, onde dirige comerciais de grandes produtos, como a da Vodka Smirnoff (que inclusive inspira a cena da bala de revólver do filme Matrix) e faz mais videoclipes, agora para artistas expressivos como os The Rolling Stones.
O diretor François Nemeta narra ainda o encontro de Gondry com Spike Jonze, e por tabela com Charles Kaufman, roteirista que o fará levar o Oscar no cinema com Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004). O documentário consegue dosar bem todas as fases profissionais de Gondry, que nos auxilia a ver as várias etapas que permitiram o diretor atingir o sucesso como diretor de cinema.
As suas obras cinematográficas se revelam originais e inusitadas na narrativa, que misturam um conceito industrial e autoral na mesma medida, são bem alinhavadas por Nemeta. Ele também imprime no filme um ótimo equilíbrio entre os depoimentos dos atores e do próprio Gondry, o que confere ao documentário uma visão ampla, rápida e não rasa do diretor francês que conseguiu a proeza de fazer filmes inventivos dentro de uma indústria onde os produtores são inflexíveis quando o assunto é grana e faturamento.
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