Texto por Marco Fialho
Desde que filmou o ótimo Rifle (2016), o diretor Davi Pretto colocou o seu sarrafo cinematográfico lá em cima. A verdade é que Continente, o seu mais novo projeto, não chega a impressionar na mesma medida. E olha que há qualidades nesse trabalho, embora falte amarrar melhor as diversas simbologias presentes nessa nova obra.
Alguns elementos do faroeste inseridos em Rifle retornam em Continente, embora sem a mesma força, já´que o toque predominante agora é o do vampirismo. E acreditem, o viés de filme de terror do filme é uma dos traços mais intrigantes que Pretto insere na obra. Continente começa com Amanda (Olivia Torres), morando há 15 anos na Europa, chega na fazenda do pai, que está quase morto, com o namorado francês Martin (Corentin Fila) e se depara com estranhos rituais estabelecidos entre o seu pai e os funcionários.
Cada nova cena, os mistérios aumentam e a atmosfera de terror e sangue só pioram. As cenas são muito bem filmadas, com uma fotografia que dialoga com competência com o mistério da trama. Davi Pretto alterna planos gerais com closes, que amarram com extremo cuidado o espaço com as situações limites dos personagens. A longa sequência de vampirismo de Amanda com os funcionários é impressionante do ponto de vista cinematográfico, por mais que ela na prática não ligue nada com muita coisa na história.
Inclusive, muitas perguntas em Continente ficam no ar: por que foi feito o tal acordo entre o pai e os funcionários e qual seria o sentido de sua existência? Ou qual é o problema de Helô fazer o ritual com Martin, se ele era francês e não era um participante do acordo? O acordo aparentemente envolvia uma ideia de luta de classes, embora não dá para compreender a real relação. As respostas não chegam nunca e o filme perde a chance de se aprofundar nos temas que levanta.
O roteiro de Continente não consegue amarrar bem as simbologias inerentes no enredo. Os rituais de sangue estabelecidos entre o pai e os funcionários não expressam muita coisa, pois esses últimos sugam o sangue do primeiro e vice-versa, o que não faz muito sentido e até abre uma grande interrogação sobre o porquê isso acontece. Em paralelo, Helô (Ana Flávia Cavalcanti), uma doutora, a única da região, administra para os funcionários uma droga que amaina a fome por sangue de todos os envolvidos no famoso acordo. O maior conflito acorre quando ela fura o acordo e "negocia" com Martin, o namorado de Amanda.
O maior problema de Continente está no fato de todos esses elementos postos em cena, não se comunicarem tão bem entre si, e sempre tudo ficar muito confuso para o espectador. O terror mais para o fim, perde a força e nem os ótimos atores em cena, a ótima fotografia, os planos bem realizados e o clima estabelecido, salvam um roteiro frágil que não consegue dar consistência aos vários acontecimentos que vemos na tela. Pela qualidade imagética e o notório talento cinematográfico de Davi Pretto, ficamos no aguardo que futuros trabalhos ratifiquem a potência criativa vista em 2016, quando o diretor realizou o excelente Rifle.
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