Texto por Marco Fialho
Marcello Mio, dirigido por Christopher Honoré, pode ser lido como uma irreverente história sobre Marcello Mastroianni, ou simplesmente, como uma piada de mau gosto. Fica ao critério do freguês. Mas o fato é que aqui pouco se vê Mastroianni realmente representado, pelo menos com a dignidade que ele merecia. A audácia e a sua personalidade única ficam longe de aparecer em Marcello Mio.
O que, ao meu ver, o diretor Christopher Honoré faz é reafirmar a sua recente pouca inspiração em trabalhos como o decepcionante Inverno em Paris (2022). Em Marcello Mio ele conta com a colaboração de Chiara Mastroianni, filha de Marcello e Catherine Deneuve, como sua protagonista. E é bom que se diga que a atriz nada tem a ver com os pontos negativos desta obra.
Marcello Mio mostra o quanto é difícil para Chiara Mastroianni ser filha de dois ícones do cinema europeu. Numa encenação com a diretora Nicole Garcia, essa pede para Chiara ser mais Marcello que Deneuve e esse fato mexe com a cabeça de Chiara, que começa a pensar como seria viver como Marcello Mastroianni. O problema é que o filme de Honoré não vai muito além disso. Uma pena.
A maior questão de Marcello Mio é uma indecisão de Christopher Honoré quanto ao rumo de seu filme. Ficamos sem saber se Chiara entra numa crise de identidade, ou se tudo não passa de uma grande brincadeira, apenas para homenagear o centenário desse ator que foi um dos mais carismáticos da história do cinema.
Toda a narrativa de Marcello Mio corre muito solta. Atores e atrizes como Fabrice Luchetti (responsável pelos melhores momentos do filme) e Melvil Poupaud, além do marido, o cantor Benjamin Biolay, entram e saem do filme aleatoriamente, mas sem agregar muito à história. Fica-se apenas a impressão de que o filme está para acontecer. Muitas das situações fazem pouco sentido, como a relação da atriz com um soldado inglês e um cachorro.
Qual seria a ideia de Honoré ao construir Marcello Mio? Uma homenagem ou aproveitar a filiação de Chiara para se fazer um filme sobre ela? De qualquer maneira, tudo fica no meio do caminho e sem o mínimo de coerência. Chiara até consegue incorporar o pai em alguns momentos, o homenageando com os trajes de Guido, o cineasta em crise da obra-prima Oito e Meio (1963) e entrando na Fontana di Trevi, a famosa fonte onde Anita Ekberg se consagrou no filme A Doce Vida (1960).
Nem o empenho de Chiara, às vezes até a semelhança absurda, compensam a fragilidade na qual Honoré trata o roteiro de Marcello Mio. A tentativa felliniana no final, de reunir o elenco do filme beira o ridículo, com uma partida de vôlei insuportável e que poderia ser evitável. Ao final, fica a sensação de que Marcello Mastroianni merecia uma homenagem mais à altura do que essa sem graça do filme, que não consegue ir além de uma caricatura insossa.
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