Texto por Marco Fialho
É mais do que sabido, o encanto que o cinema iraniano causa mundo afora desde os anos 1990, e como ficamos contentes quando sabemos que este cinema está sendo reverenciado de algum modo. E, Em Direção a Becos Felizes é um documentário delicado, filmado com sensibilidade por Sreemoyee Singh, uma jovem diretora indiana que se propôs pesquisar o cinema iraniano em sua tese de doutorado e dividir um pouco dessa experiência fazendo um filme sobre a sua relação com alguns personagens.
Pode-se dizer, que o cineasta Jafar Panahi é o grande protagonista do filme, filmado quase sempre dentro do seu carro ou em encontros com atrizes com quem trabalhou. E todos sabemos o quanto o cinema iraniano já nos brindou com filme filmados dentro de carros e táxis, de Abbas Kiarostami (Ten e Gosto de Cereja) ao próprio Panahi (Táxi Teerã e 3 Faces). Nota-se que a diretora indiana se inspira nos filmes iranianos que admira para construir seu documentário-poema.
Sreemoyee Singh arquiteta seu filme a partir do.dispositivo do diálogo com seus personagens, como Panahi e outros artistas iranianos, que falam sobre a situação das artes no país durante o regime autoritário amparado no islamismo. É nítida a ideia de dar voz e luz às mulheres. A diretora se apoia no seu talento como cantora para expressar a arte da música, que não é permitida às mulheres exercer como profissão.
A poeta iraniana Forough Farrokhzad (1934-1967), que morreu aos 32 anos, há mais de 50 anos atrás, tem um espaço especial na trama, com vários de seus poemas sendo lidos e seu túmulo sendo visitado e homenageado com flores e canções. O cineasta Mohammad Shirvani também é lembrado por seu trabalho erótico que escandaliza o governo islâmico tacanho.
E, Em Direção a Becos Felizes apesar de se pautar pela simplicidade formal, busca extrair emoções em um momento político difícil, onde a liberdade individual está ameaçada pelas prisões decretadas com grande facilidade. A permanência do uso do lenço para cobrir o cabelo é cobrada na rua até por crianças. Em uma outra cena, um policial empurra, sem dó, uma jovem que protestava em cima de uma pedra.
Como é bom ver Panahi com sua coragem, afrontando o sistema e dizendo que não vai viver em outro país que não seja o seu. O encontro dele com a atriz Aida Mohammadkhani, de O Balão Branco (1995) e O Espelho (1997), é emocionante e o mais incrível é vê-lo fazer a menina, agora uma mulher mais do que adulta, chorar novamente. Sreemoyee Singh mostra como que uma proposta narrativa simples, mas realizada com ternura, pode ser factível revelar momentos tocantes e de resistência à opressão ao injusto poder constituído.
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