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Mostrando postagens de maio, 2025

ERNEST COLE: ACHADOS E PERDIDOS (2024) Dir. Raoul Peck

Texto por Marco Fialho Raoul Peck vem se destacando por resgatar personagens significativos da história afro-americana, como o fez de maneira bastante incisiva em Eu Não Sou Seu Negro (2016), filme que partia das reflexões de James Baldwin sobre o ativismo antirracista dos grandes líderes como Martin Luther King, Malcolm X e Medgar Evers. Agora em Ernest Cole: Achados e Perdidos , o diretor centra a sua narrativa em torno do fotógrafo sul-africano Ernest Cole que se exilou na Inglaterra, Suécia, e sobretudo nos Estados Unidos, para fugir do regime violento do Apartheid na África do Sul, que assassinou, perseguiu e massacrou os negros do país. Raoul Peck divide a sua própria narração com Ernest Cole, interpretado empaticamente por meio de uma voz em  off pelo ator LaKeith Stanfield ( Corra! e Judas e o Messias Negro ). Essa narração não só é explicitada como ganha uma matiz mais acentuada lá pelo final do filme, quando já morto, Cole fala de sua morte e de como gostaria de ser visto...

SANEAMENTO BÁSICO, O FILME (2008) Dir. Jorge Furtado

Texto por Marco Fialho O relançamento de Saneamento Básico, o Filme não poderia vir numa melhor hora. Chega no ano em que que seus dois protagonistas, Fernanda Torres e Wagner Moura ganharam relevantes prêmios internacionais: Fernandinha o Globo de Ouro de melhor atriz, e Wagner Moura, a Palma de Melhor Ator em Cannes, essa recentíssima. Havia assistido ao filme lá na sua estreia em 2008 e rever agora só reafirmou a impressão de antes, de que o filme é a obra máxima do diretor e roteirista Jorge Furtado ( Ilha das Flores , O Homem Que Copiava ).   A maior mágica de Saneamento Básico, o Filme é a capacidade de mesclar numa trama francamente cômica, uma discussão central para os países tomados pela miséria, que é o eterno antagonismo entre a necessidade da cultura quando não se tem os serviços básicos de saúde. Como um país em déficit no saneamento básico pode investir alguma verba nas artes? Essa pergunta se torna um guia para o filme e o acompanha da primeira à última cen...

MÚSICAS QUE HABITAM EM MIM N° 11 - SAMURAI - DJAVAN

Texto por Marco Fialho  Ouça o disco junto com o texto: https://youtu.be/U2Ce-bMkGK8?si=wABtmHc9LZUJ-6od Quando Djavan chegou até a mim com sua voz única e aveludada, suas composições me encantaram de súbito, com seus desenhos melódicos e rítmicos sedutores. O seu veio principal ainda era o samba ( Cerrado , Flor de Lis e Fato Consumado ) e as melodias românticas ( Meu Bem-Querer , A Ilha e Faltando um Pedaço ). Todo esse repertório me arrebatou em um show que vi do então jovem compositor no Sesc Tijuca, lá no início dos anos 1980. Eu tinha meus 15 anos e morava quase ao lado do Sesc e me esforçava para não perder os shows que rolavam por lá.  Mas foi só dois anos depois, em 1982, que Djavan passou a ocupar um lugar realmente especial no meu coração musical. Eu morava então em um apartamento no Grajaú e enlouquecia os vizinhos ouvindo música altíssima de maneira para lá de empolgada. Zé Ramalho, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Thelonius Monk, Alceu Valença, Elis Regina, Gal Co...

TERREMOTO EM LISBOA (2024) Dir. Rita Nunes

Texto por Marco Fialho Terremoto em Lisboa não deixa de ser um filme curioso por acompanhar o trabalho tenso de um grupo de profissionais que acompanham os movimentos que ocorrem nas placas tectônicas no oceano próximo à Portugal, e que leva sempre apreensão que um terremoto avassalador possa ameaçar a integridade do território português, haja vista que no Século XVIII foi registrado um que destruiu boa parte do país.  Por isso, a diretora Rita Nunes constrói seu filme amparado especialmente no suspense, pois é dever desse grupo de especialistas informar ao governo as possibilidades e riscos desses fenômenos naturais, fazer com que eles sejam previstos e medidas de segurança possam ser tomadas para diminuir o número de vítimas fatais. O filme gira em torno de Marta (Sara Barros Leitão), uma sismóloga que está preocupada com uma avaria nos sensores de identificação das alterações subaquáticas.  Terremoto em Lisboa caminha desde o início como qualquer filme-catástrofe, com estud...

CONFINADO (2025) Dir. David Yarovesky

Texto por Marco Fialho Para quem gosta de clichês,  Confinado é mais do que um prato cheio, é um prato transbordante. E são tantos que se pode escolher quais o agradam mais, desde os sociais até os cinematográficos. E o diretor David Yarovesky ainda faz questão de mistura-los com fortes elementos de psicopatia, acrescendo a tudo isso um Anthony Hopkins incorporando um tipo que muito se assemelha ao seu famoso psicopata Hannibal Lecter, só que agora ele vive William, um milionário ávido em fazer vingança com as próprias mãos, ou seria mais adequado dizer com o próprio carro? Mas Anthony Hopkins aqui é um coadjuvante de luxo, inclusive é o que mais mantém a nossa atenção e interesse no filme, até quando só atua com sua voz off inconfundível. O protagonista mesmo dessa trama é Eddie (Billy Skarsgård), um jovem que se tem sérios problemas financeiros e anda devendo atenção e mais responsabilidade perante a educação da filha. Se refletirmos a obra em seu arco mais amplo, veremos que Ya...

ENTRE DOIS MUNDOS (2025) Dir. Emmanuel Carrère

Texto por Marco Fialho Marianne Winckler (interpretada pela sempre extraordinária Juliette Binoche) é uma escritora de sucesso em Paris, que decide escrever um livro sobre faxineiras e vai anonimamente para Caen, uma cidade litorânea da França, se iniciar nessa profissão para poder conhecer o cotidiano do trabalho e das trabalhadoras do ramo. Considero importante começar a falar de Entre Dois Mundos pela sinopse pois ela traz em si o dilema ético que o filme encampa. Evidente que a primeira indagação que fazemos é sobre a complicação de Marianne de viver uma vida que não é a sua enquanto outros estão ali porque não possuem outras alternativas e como o filme lida com essa situação. Dessa forma, a questão ética passa a ser também do filme que igualmente precisa lidar com a mesma situação de sua protagonista. Entre Dois Mundos expõe bastante a situação do estudo de Marianne, mas resolve não indagar muito sobre ela, apenas vai levando de acordo com a vivência da personagem, que passa por u...

O ESQUEMA FENÍCIO (2025) Dir. Wes Anderson

Texto por Marco Fialho Algumas coisas no mundo do cinema parecem não mudar. Uma delas são os filmes do norte-americano Wes Anderson ( O Grande Hotel Budapeste e o recente Asteroid City ). A rigor, sequer precisaria por o seu nome nos créditos, pois desde as primeiras imagens já somos capazes de identificar seus traços mais marcantes: a câmera que se move lateralmente, a encenação rígida, detalhista e cuidadosa na direção de arte e uma concepção orquestral dos elementos cinematográficos, com interpretações minimalistas e sóbrias, apesar do elenco ser composto por uma série de atores e atrizes famosos mundialmente.  O Esquema Fenício não foge à regra do cinema esquemático, antes irônico do que propriamente cômico de Anderson. O mais intrigante de sua mise-en-scène está justamente numa suposta comicidade que depende não da capacidade dos atores e atrizes de nos fazer rir, mas de um humor vindo da própria encenação, um tipo de humor que se esforça intencionalmente em ser cinematográfic...

EM RUMO A UMA TERRA DESCONHECIDA (2024) Dir. Mahdi Fleifel

Texto por Carmela Fialho O drama Em Rumo a Uma Terra Desconhecida , do diretor palestino Mahdi Fleifel, narra a trágica história de dois primos palestinos refugiados, Chatila (Mahmoud Bakri) e Reda (Aram Sabbah) em Atenas, cujo objetivo era conseguir passaportes falsos para ingressar na Alemanha e tornarem-se proprietários de um café. A narrativa desenvolve-se basicamente em três espaços: o parque, um prédio abandonado e o apartamento de uma grega que se torna amante de Chatila. A fotografia e a direção de arte optaram por uma abordagem realista para dar escopo a uma história do cotidiano dos marginalizados nas grandes cidades. Os primos palestinos durante a trama envolvem-se cada vez mais em atividades ilícitas como roubos, tráfico humano e sequestro. O foco central do filme são as questões de sobrevivência dos dois primos, onde Reda tem problema com vício em drogas e se prostitui para pagar um traficante que também é palestino e poeta.  A atuação dos atores principais e dos coadj...

A LENDA DE OCHI (2024) Dir. Isaiah Saxon

Texto por Marco Fialho Pode-se dizer que  A Lenda de Ochi nos faz relembrar os bons filmes de fantasia da Hollywood dos anos 1980. São obras como Labirinto (1986), Os Goonies (1985), O Feitiço de Áquila (1985) e A Lenda (1985), que tinham como proposta criar um universo lúdico, que embora próximo ao nosso de alguma forma o reinventava com seres imaginados e uma perspectiva de que o mundo poderia ser algo diferente e esperançoso.  Em A Lenda de Ochi , temos um mundo com aparência contemporânea, mas repleto de uma natureza rústica, com animais selvagens como lobos, ursos e os tais lendários Ochi (que mais parecem um tipo de primata) . Essa é uma lenda inspirada nas paisagens dos Cárpatos, região búlgara e que muito lembra aquelas histórias medievais com feras indomáveis e perigosas. O diretor Isaiah Saxon investe muito nessa atmosfera medieval, inclusive ao vestir Maxin (Wilem Dafoe), o pai da protagonista Yuri (Helena Zengel) com armaduras dos guerreiros medievais.  S...

ANIMALE (2024) Dir. Emma Benestan

Texto por Marco Fialho O cinema pode graficamente expressar metáforas sobre o mundo em que vivemos, ainda mais quando este mundo é tomado historicamente pela injustiça ou por uma violência contumaz. Animale , dirigido por Emma Benestan, é um excelente exemplo de uma obra que se utiliza de uma imagem para denunciar práticas de estupro que teimam em se proliferar pelo mundo afora. Curiosamente, o lançamento de Animale acontece na mesma data de Manas , o filme brasileiro que também narra uma história de estupro feminino. E como Animale é certeiro em narrar a história de Nejma (Oulaya Amamra), uma jovem que sonha em ser toureira em uma profissão dominada pelos homens. Desde as primeiras cenas, nota-se o preconceito por meio de brincadeiras machistas contra Nejma. A montagem é muito habilidosa ao esconder algumas informações e revelá-las no momento propício em que valorize as surpresas da trama.  A direção de Emma Benestan demonstra inteligência ao saber inserir o body horror na narrat...

MANAS (2024) Dir. Marianna Brennand

Texto por Marco Fialho  Antes de qualquer imagem ser vista, suavemente escutamos o som macio do rio, e logo a seguir, o som de um barco. Assim somos transportados para o universo de  Manas , o impactante filme paraense, filmado no rio Tajupuru na Ilha do Marajó, dirigido brilhantemente por Marianna Brennand. O melhor de  Manas é o fato dele ser um filme-denúncia que não abre mão da esperança e da poesia. Manas é um convite à imersão numa dura realidade, em um local distante dos grandes centros, que relata fatos tristes e muito comuns que acontecem em diversos rincões brasileiros. A trama gira em torno de Marcielle (Jamilli Correa, numa interpretação impecável), uma menina prestes a adentrar na adolescência e que vive em uma palafita com os pais e mais 4 irmãos. Sua irmã mais velha, Claudia, já zarpou do lugar, sem deixar vestígios sobre seu paradeiro.  Um dos pontos mais interessantes de Manas é a forma com que a diretora vai nos apresentando cada detalhe do universo...

CAIAM AS ROSAS BRANCAS! (2024) Dir. Albertina Carri

Texto por Marco Fialho Albertina Carri é dessas cineastas raras, que precisamos ficar atentos. Dos seus 7 longas já realizados, apenas dois deles, As Filhas do Fogo   (2018), e agora,  Caiam as Rosas Brancas chegaram ao Brasil. Essas duas obras tem realmente afinidades entre elas, a começar por ambas serem um road movie  e suas protagonistas serem uma diretora de filmes pornô. Mas a construção tem diferenças, em especial na narrativa empregada, afinal, o experimental está presente em  Caiam as Rosas Brancas! Esse filme de Albertina Carri inicia com um enunciado que se mostra coerente até o final do filme: "Ou inventamos ou erramos". Alguns podem até sintetizar essa experiência audiovisual como hermética ou extremada, mas Carri já demonstrou que gosta dos riscos e de encarar desafios. Em Caiam as Rosas Brancas! a inventividade fala alto e Carri realiza um filme para além do filme lésbico ao incorporar questões decoloniais com mais intensidade.  Carri gosta de tra...

CRIATURAS DA MENTE (2024) Dir. Marcelo Gomes

Texto por Marco Fialho e Carmela Fialho Marcelo Gomes começa Criaturas da Mente com uma citação do mestre Orson Welles, em que o caráter ilimitado do cinema é evocado, assim como a ideia de sonho. A viagem do cineasta inicia sob esses auspícios poderosos e convida Sidarta Ribeiro, depois de ler Ciência em Cracatua,  a embarcar com seus estudos e conhecimentos como o fio condutor nessa aventura em busca do desconhecido.  A motivação de Marcelo Gomes para o filme parte do fato dele dizer que parou de sonhar. Mas lógico que a ideia de sonho está diretamente relacionada a de cinema e a época da pandemia do Coronavírus seria perfeita, já que a vida estava restrita ao isolamento e o ato de sonhar se tornou uma forma de escape diante de uma realidade cotidiana insuportável que gerava uma sensação de aprisionamento. Mas Criaturas da Mente vai além de seu tema ao nos interrogar sobre como o cinema pode abordar um tema tão ligado ao inconsciente humano. Por isso é fundamental refletir c...

A MULHER NO JARDIM (2025) Dir. Jaume Collet-Serra

Texto por Marco Fialho e Carmela Fialho O diretor Jaume Collet-Serra realiza um interessante filme de terror, onde a sua maior motivação é o drama da protagonista Ramona (Danielle Deadwyler), uma mulher que perdeu o marido (Russell Hornsby) em um acidente de carro do qual também estava presente, e que sofre um tipo de transtorno mental, tendo alucinações e visões que comprometem a sua visão sobre os fatos que ocorrem ao seu redor.  O filme acerta em desenvolver mais as sensações da protagonista do que se prender somente em fatos explicativos. Sem saber, mergulhamos no inconsciente de Ramona e na confusão mental em que ela vive após um violento trauma. É importante frisar que a fruição do espectador é condicionada a partir do ponto de vista de Ramona, o que justifica o embaralhamento da história e as incoerências temporal e espacial presentes na narrativa. O elemento sobrenatural aparece no filme logo no início, com uma mulher vestida de preto (Okwui Okpokwasili) e com o rosto cober...

LISPECTORANTE (2024) Dir. Renata Pinheiro

Texto por Marco Fialho  Lispectorante é um filme rico, cheio de camadas, simbolismos e significações. A presença inebriante da atriz Marcela Cartaxo como protagonista também faz aumentar a riqueza dessa obra. Esse é um cinema fascinante, de celebração de um Recife fascinante, e mais especificamente do tradicional e central Bairro de Boa Vista, uma região comercial, com antigas edificações e de características multiculturais. Nela se situa a casa que foi de Clarice Lispector, escritora ucraniana que adotou o Brasil como seu. Hoje, esta casa encontra-se bem detonada, mas ainda assim, assumirá um papel simbólico em Lispectorante . Na praça principal do bairro, tem uma estátua da escritora sentada em um banco.   Marcela Cartaxo interpreta Glória Hartman, uma artista plástica cujas iniciais coincidem com a personagem mais famosa de Clarice Lispector, A Paixão Segundo GH . Gloria retorna a Recife, depois de uma separação conjugal e vai morar na casa da tia. Glória é o pape...

ÓPERA - CANÇÃO PARA UM ECLIPSE (2024) Dir. Davide Livermore e Gep Cucco

Texto por Marco Fialho e Carmela Fialho  Ópera - Canção Para Um Eclipse tem como proposta reinventar o célebre mito de Orfeu e Eurídice dentro de uma ideia operística. O filme se sustenta muito por uma ostentação cenográfica irrealista. Há ainda um componente dramático não só ditado pelo formato operístico, mas também pelas interpretações carregadas dos atores em cena.  A direção da dupla Davide Livermore e Gep Cucco é baseada no excesso, dentro de uma ideia contemporânea de fazer releituras de mitos clássicos. O amor de Orfeu (Valentino Buzza) e Eurídice (Mariam Battistelli) é explorado em um formato dramatúrgico onde clássicos da ópera italiana se encontram com uma cenografia criativa e às vezes até surrealista, em um mundo dominado pela água como um elemento simbólico de renascimento e sufocamento. O amor como beleza, infinitude e como sonho.  Durante todo o filme, somos tomados por um imenso eclipse cenográfico, que extravasa o fundo e se instala na alma dos personage...

UMA FAMÍLIA NORMAL (2025) Dir. Hur Jin-Ho

Texto por Marco Fialho  O interesse do cinema por tramas que estudam o comportamento das famílias contemporâneas anda em voga. Recentemente assistimos  A Luz , drama alemão dirigido por Tom Tykwer que trata de uma família disfuncional. Agora, vem da Coreia do Sul,  Uma Família Normal , com direção de Hur Jin-Ho, um drama igualmente forte e até impactante pela forma naturalizada que a violência surge em determinadas cenas.  Uma Família Normal parte de duas famílias cuja aproximação é ditada pelos irmãos Jae-Wan (Sol Kyung-Gu), um advogado inescrupuloso e Jae-Gyu (Jang Dong-Gun), um pediatra que se aplica em seu trabalho de salvar vidas. O primeiro irmão tem uma filha e o segundo um filho, ambos adolescentes. O irmão advogado casou pela segunda vez com uma mulher mais jovem (Claudia Kim). E o pediatra é casado com Yeon (Kim Hee-Ae). A história é baseada no livro O Jantar , do escritor holandês Herman Koch, que já ganhou algumas adaptações para o cinema nos Estados Unid...

HOMEM COM H (2025) Dir. Esmir Filho

Texto de Marco Fialho Como em qualquer cinebiografia ficcional, Homem Com H depende em grande parte do êxito da interpretação do seu principal personagem. E realmente, o filme dirigido por Esmir Filho tem em Jesuíta Barbosa um amparo consistente. Cena a cena vamos nos deixando levar pelo trabalho do ator na pele de Ney Matogrosso. O ator pernambucano demonstra estar vivendo uma grande maturidade artística nesse papel, que provavelmente é o maior desafio dramatúrgico da sua carreira.  É visível que o maior obstáculo de Jesuíta na composição desse personagem tão complexo da nossa arte é o Ney da juventude, o de antes da fama, pois não há uma referência de imagem pública conhecida. O mesmo já não se pode dizer da época a partir dos Secos e Molhados, quando Ney apareceu para assombrar um Brasil dominado pelo conservadorismo de uma ditadura militar. Para compor esse Ney mais jovem, o ator contou com a colaboração tanto do próprio cantor quanto do livro autobiográfico "Ney Matogrosso - ...