Texto por Marco Fialho
Terremoto em Lisboa não deixa de ser um filme curioso por acompanhar o trabalho tenso de um grupo de profissionais que acompanham os movimentos que ocorrem nas placas tectônicas no oceano próximo à Portugal, e que leva sempre apreensão que um terremoto avassalador possa ameaçar a integridade do território português, haja vista que no Século XVIII foi registrado um que destruiu boa parte do país.
Por isso, a diretora Rita Nunes constrói seu filme amparado especialmente no suspense, pois é dever desse grupo de especialistas informar ao governo as possibilidades e riscos desses fenômenos naturais, fazer com que eles sejam previstos e medidas de segurança possam ser tomadas para diminuir o número de vítimas fatais. O filme gira em torno de Marta (Sara Barros Leitão), uma sismóloga que está preocupada com uma avaria nos sensores de identificação das alterações subaquáticas.
Terremoto em Lisboa caminha desde o início como qualquer filme-catástrofe, com estudiosos prevendo problemas e alertando sobre as consequências possíveis, tendo o aparato governamental sempre se esforçando em relevar e minimizar os gastos com os estudos científicos. A diretora Rita Nunes então vai seguindo os passos específicos do filme de gênero, criando tensão e alarmismo que faz com que a população se apavore com a possibilidade de uma catástrofe de proporções gigantescas e demolidoras.
Em paralelo aos estudos e discussões sobre os avisos emitidos e analisados pelos aparelhos que monitoram um possível abalo sísmico, a diretora desenvolve uma relação amorosa entre Marta e Miguel (Miguel Nunes), um dos membros da equipe de sismologia, mas que discorda das análises realizadas por Marta. Talvez seja esse o maior terremoto do filme, já que esse relacionamento começa a esfriar bastante de uma hora para outra.
O melhor de Terremoto em Lisboa está na parte do roteiro em que somos explicados a cerca dos fenômenos tectônicos, embora o roteiro como um todo não avance tanto nas discussões sobre o caráter especulativo das teorias e análises dos aparelhos subaquáticos. Rita Nunes perde a oportunidade de aprofundar o papel da ciência como instrumento de pesquisa e apontar o erro do absoluto. Nada é dito sobre a expectativa do terremoto e o final do filme apenas fortalece a ideia do abrupto. Vale dizer que o filme é uma ficção e se passa em um futuro próximo, portanto, sem base de realidade.
Muitos podem ler o final de Terremoto em Lisboa como aquelas famosas piadas de brasileiro sobre português, já que o título brasileiro modifica totalmente o sentido do original, O Melhor dos Mundos. O filme de Rita Nunes de alguma maneira discute essas previsões científicas que tentam antecipar o futuro próximo, em especial fatos que podem trazer grandes dores e perdas sociais. Recentemente, no Rio de Janeiro foi solicitado pela prefeitura que as pessoas não saíssem de casa devido uma previsão de tempestade na cidade. Boa parte da população ficou em casa, embora no final do dia a tal chuva forte sequer ocorreu. Isso gerou debates sobre os exageros dessas medidas preventivas, sobretudo por parte dos comerciantes que dependem da circulação de pessoas nas ruas para poder faturar.
Terremoto em Lisboa perde a oportunidade para fazer o mesmo, de trazer para discussão esse tipo de previsão em um mundo urbanizado e altamente populoso. Não há no filme um final em aberto, mas sim uma ausência dele, uma interrupção (aqui, sem o direito nem as cartelas explicativas). Não há reflexões a fazer, por sequer sabermos se houve ou não o terremoto. Se houvesse indicação de sua incorrência, poderíamos especular sobre as ações do grupo científico e do governo, ou se houvesse a confirmação do não abalo levaríamos a discussão para outro campo, como o da infalibilidade da ciência ou até de sua prepotência.
O final do filme não se encaminha nem para uma saída individual de Marta, nem uma outra mais social sobre os impactos dos abalos, o que deixa um quê de sensação decepcionante no ar. Evidente, que o filme poderia caminhar diferente dos grandes blockbusters do cinema que sempre veem as catástrofes como porta de entrada para sublinhar o heroísmo do povo dos Estados Unidos. De um filme europeu, ainda mais português, pela tradição, de certo esperamos algo diferente, uma reflexão mais filosófica, o que infelizmente Rita Nunes não consegue sugerir e nos deixa apenas um vazio, ou se preferir, ela nos serve somente a espera.
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