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Mostrando postagens de junho, 2024

SALAMANDRA (2024) Dir. Alex Carvalho

Texto de Marco Fialho Salamandra é um filme de certa forma enigmático e selvagem. Catherine (Marina Foïs) é uma mulher branca, francesa, loira, por volta de 50 anos, disposta a tudo para viver o que não pode durante grande parte da vida, por ter tido que cuidar do pai doente na França até a sua morte. Agora, ela quer explorar a vida e visita a irmã que mora no Brasil desde que casou com um brasileiro (Bruno Garcia). A partir daí, Catherine embarca numa viagem sem limites em busca do seu prazer.  A história está longe de ser nova, uma mulher europeia se encantando pelos mistérios de países culturalmente diversos, como é o caso do Brasil para Catherine. Não casualmente, o filme é baseado em um livro homônimo do escritor francês Jean-Christophe Rufin, pois reproduz o velho encantamento europeu pelo exotismo do latino-americano. Encontramos aqui, todos os elementos possíveis para mais uma história repleta de lugares-comuns, que já vimos tantas vezes no cinema. Catherine se rende ao charme

CASA IZABEL (2022) Dir. Gil Barone

Texto de Marco Fialho  Alguns filmes chamam atenção pelo que tem de exótico e diferente. Esse é o caso do sui generis Casa Izabel , de Gil Barone. Apesar de ser todo filmado no mesmo ambiente, a Casa Grande Izabel, o filme apresenta camadas temporais visíveis, desde o nome da fazenda que remete ao passado colonial e patriarcal brasileiros até o tempo presente do filme, já que a história se passa nos anos 1970, em plena ditadura militar brasileira.  O exótico do filme são os personagens serem militares e se hospedarem numa longínqua fazenda para viver uma fantasia: a de viverem como mulheres, bem no estilo cross-dressing , escondidos de suas esposas, que pensam que eles estão isolados de tudo e de todos numa pescaria. O filme trata então de uma só vez tanto da hipocrisia desses personagens quanto dos sonhos desses oficiais, que em paralelo a sua vidinha de homens socialmente empoderados pelo poder da ditadura, vivem momentos fantasiosos como estrelas de cinema e outras mulheres glamour

TESTAMENTO (2024) Dir. Denys Arcand

  Texto de Marco Fialho Testamento , filme dirigido pelo consagrado cineasta canadense Denys Arcand ( O Declínio do Império Americano e Invasões Bárbaras ) trata criticamente da falta de diálogo e da intolerância com o seu hsbitual humor ácido, bem ao seu estilo demolidor de narrar e pensar os nossos atuais modos de viver. Essa, que é a marca do seu cinema, está presente também aqui nessa última obra.  A própria sinopse divulgada de Testamento , enfatiza, para mim equivocadamente, que o enfoque do diretor é a crítica ao politicamente correto, mas se atentarmos bem, veremos que algumas discussões sugerem essa temática, mas isso ocorre só no nível mais aparente do filme. Como Arcand estica a corda em vários assuntos, pode ficar à impressão de que Testamento está   debochando do politicamente correto quando de fato não é o que ocorre. Tanto é que Arcand se utiliza de um personagem que mesmo fazendo tudo que os manuais de saúde indicam para se ter uma vida longa e saudável, ironicamente m

CLUBE DOS VÂNDALOS (2023) Dir. Jeff Nichols

  Texto de Marco Fialho A maior referência de Clube dos Vândalos , novo filme do diretor Jeff Nichols ( Amor Bandido - 2012), sem dúvida é Sem Destino (1969), que talvez  o primeiro até sirva como uma resposta ou mesmo como continuação do segundo, um desdobramento de que o filme de Dennis Hopper propôs, uma resposta a essa cultura de motociclistas paramentados, que se alastrou especialmente após o sucesso do filme. Não tem como negar que a proliferação dessa cultura passa diretamente pela repercussão de  Sem Destino .  Mas há também abismos incontornáveis entre os dois filmes. Enquanto Sem Destino abordou os motociclistas como uma ideia de liberdade máxima do indivíduo, o de cada um poder traçar o rumo que lhe convém contra o status quo , em Clube Dos Vândalos ocorre o inverso, todos estão presos e imersos a uma ideia de grupo e fidelidade, o que faz o filme se aproximar mais dos clássicos marginais de Francis Ford Coppola, como O Selvagem da Motocicleta  (1983), e que parece ter mais

BANDIDA: A NÚMERO UM

Texto de Marco Fialho Logo que inicia o filme Bandida: A Número Um , a primeira impressão que tive foi a de que vinha mais um "favela movie " para conta do cinema brasileiro. Mas depois de transcorrido mais de uma hora de filme, a sensação continuou a mesma. Sim, Bandida: A Número Um é desnecessariamente mais uma obra defasada realizada na terceira década do Século XXI, um filme com cara de vinte anos atrás, e não precisava, pois a história em si poderia ter buscado caminhos narrativos mais criativos e originais, afinal, não é todo dia que temos à disposição um roteiro calcado na história de uma mulher poderosa no mundo do crime.     O diretor João Wainer realiza seu filme a partir do livro A Número Um, de Raquel de Oliveira, em que a autora narra a sua própria história como a primeira dama do tráfico no Morro do Vidigal. A ex-BBB Maria Bomani interpreta muito bem essa mulher forte que conseguiu se impor com inteligência e força perante uma conjuntura do crime inteiramente to

EU SOU O SAMBA, MAS PODE ME CHAMAR DE ZÉ KETI (2023) Dir. Luiz Guimarães de Castro

Texto de Marco Fialho Antes de começar meu texto sobre o documentário Eu Sou o Samba, Mas Pode Me Chamar de Zé Keti , quero registrar um adendo aparentemente desimportante, mas que acho importante mencionar. Meus pais, Renato Fialho e Soeli Fialho foram muito amigos de Zé Keti. Ele foi diversas vezes na minha casa, assim como meus pais também o visitaram muito no conjunto dos músicos onde morava. A filha dele, a Geisa, que aparece no filme, é ainda amiga dos meus pais. Enfim, assistir a esse documentário me acendeu lembranças marcantes e alegres de uns 20 e poucos anos atrás. Isso é só um parênteses, prometo não mais tocar no assunto e analisar o filme de Luiz Guimarães de Castro com o maior prazer, como faço com todas as minhas críticas, mas considero importante pontuar esse comprometimento emocional com o tema do filme.  Eu Sou o Samba, Mas Pode Me Chamar de Zé Keti , do diretor Luiz Guimarães de Castro, impressiona por mostrar um painel amplo tanto da capacidade artística do composi

RYUISHI SAKAMOTO | OPUS (2023) Dir. Neo Sora

Texto de Marco Fialho Muitas vezes, a simplicidade de uma proposta artística ao invés de empobrecê-la pode potencializá-la. É o caso de Ryuishi Sakamoto | Opus . O filme dirigido por Neo Sora é um presente do músico e compositor japonês para o público. A beleza das imagens se completa com a da música de Ryuishi Sakamoto. O cenário mínimo, com formas geometricamente bem alinhavadas contorna a sonoridade densa e milimétrica das mãos de Sakamoto que deslizam pelos teclados do belo piano Yamaha.                Em Ryuishi Sakamoto | Opus  são 20 peças musicais cuidadosamente escolhidas e interpretadas pelo grande músico. São músicas que contam a história musical de Sakamoto. Tudo é cercado pelo simples e pela sofisticação de Sakamoto sozinho ao piano a executar belíssimas músicas. A imagem em preto e branco contrasta o preto do piano com o cabelo totalmente branco de Sakamoto. Esse fato pode ser um pequeno detalhe, mas visualmente funciona como mais um elemento a conferir um charme ao filme

UMA FAMÍLIA FELIZ (2023) Dir. José Eduardo Belmonte

Texto de Marco Fialho Uma Família Feliz , dirigido por José Eduardo Belmonte,   é uma das boas surpresas do cinema brasileiro de gênero. Aqui o suspense encontra o terror, em uma trama que tinha tudo para ser leve e tranquila. O título habilmente camufla o real sentido do roteiro de Raphael Montes, também autor do livro que deu origem ao filme.     Logo no início, vemos Eva, a personagem de Grazi Massafera (em excelente interpretação), enterrando um corpo que parece ser de uma menina e logo a seguir conduzindo um carro em alta velocidade na contramão, com uma menininha no banco de carona. Em seguida há um corte, e voltamos ao passado para enfim sabermos como a história chegou ao ponto de tamanha tensão das primeiras imagens. É sempre bom ver o flerte do cinema brasileiro com gêneros tão pouco explorados por aqui. Uma Família Feliz ,   vista a partir desse prisma, adquire um novo olhar como obra, o da coragem de encarar um longa com um tipo de abordagem diferenciado. Um aspecto que me c

TUDO O QUE VOCÊ PODIA SER (2023) Dir. Ricardo Alves Jr.

Texto de Marco Fialho Tudo O Que Você Podia Ser , filme do mineiro Ricardo Alves Jr. ( Elon Não Tem Medo da Morte ) aposta numa abordagem cotidiana ao trazer 4 personagens LGBTs que se encontram para um momento de despedida. Aisha Brunno, Bramma Bremmer, Igui Leal e Will Soares formam esse quarteto tomado pelo afeto, em um híbrido de documentário e ficção. Tudo O Que Você Podia Ser funciona basicamente em duas partes: numa primeira, em que as vemos imersas em seus problemas diários, e uma segunda, onde se encontram para festejar uma forte amizade entre elas. Algumas cenas são nitidamente improvisadas e muitas delas são repletas de beleza e espontaneidade.      No todo, o filme funciona bem, mesmo que não saia de um registro monocórdico, às vezes quase no automático da direção, sem grandes emoções. Há sim uns momentos mais emotivos, quando por exemplo, Bramma visita a mãe que transborda sua decepção por ela ser quem é, e expressa a sua homofobia pedindo a volta de seu filho como era ant

NOSSO VERÃO DARIA UM FILME (2024) Dir. Zacharias Mavroeidis

Texto de Marco Fialho Nosso Verão Daria um Filme , produção grega dirigida por Zacharias Mavroeidis,   é um misto de comédia romântica e drama LGBT, que pode agradar justamente ao público LGBT, em especial por trabalhar com uma abordagem bem característica do cinema Queer e que dificilmente vai atrair aos cinemas plateias fora desse universo, mesmo que em vários momentos a trama descambe para uma narrativa bem careta, quase família.  A história parte de dois amigos, Demos (Yorgos Tsiantoulas) e Nikitas (Andreas Labropoulos), numa praia liberal grega, frequentada majoritariamente por um público LGBT e que encontram-se ali para desenvolver ideias para um roteiro de um filme LGBT baseado nas vidas de ambos. O filme se divide entre os supostos trechos do roteiro dessa história e o presente na praia.  Nosso Verão Daria um Filme é uma típica história que se pretende levar por uma magia que não sabemos ao certo o que é verdade ou ficção. A vida deles vai sendo contada dessa forma e assim vam

ASSASSINO POR ACASO (2023) Dir. Richard Linklater

Texto de Marco Fialho Infelizmente é muito comum no universo de distribuição brasileira, a mudança radical de um título de um filme, o descaracterizando por completo. É o caso de  Assassino Por Acaso , cujo título original é Hitman , isto é, Assassino de Aluguel. Essa simplicidade, ou o fato do original ser tão direto tenha desagradado aos distribuidores brasileiros, ou ainda considerado pouco atrativo comercialmente. O cartaz que está sendo usado como divulgação do filme aqui no Brasil também optou por uma imagem bem boboca, com a intenção de atrair um público afeito às comédias.  Entretanto, a verdade é que Assassino Por Acaso  é um filme difícil de classificar, pois não é propriamente uma comédia, nem tampouco uma aventura, embora esbarre aqui e ali nesses dois subgêneros da ficção, além de se apoiar igualmente em elementos do filme policial e até do noir . O maior mérito de Assassino Por Acaso está no seu roteiro clássico perfeitamente bem-acabado, como é bem o feitio do diretor Ri

MEU SANGUE FERVE POR VOCÊ (2024) Dir. Paulo Machline

Texto de Marco Fialho Pode-se dizer que  Meu Sangue Ferve Por Você , dirigido por Paulo Machline ( Trinta e O Filho Eterno ), nos pontos que acerta, acerta muito, e nos pontos que se equivoca, equivoca igualmente muito. No todo, é um filme agradável de assistir, humilde em sua proposta narrativa e bem delimitado no que quer contar acerca da vida do cantor Sidney Magal. A trama toda se restringe ao início turbulento do romance entre Magal (Filipe Bragança) e Magali (até hoje sua esposa), interpretada pela atriz Giovana Cordeiro. Essa história envolveu diversos conflitos familiares e se passou toda em Salvador, capital da Bahia. Meu Sangue Ferve Por Você não perde muito tempo em enrolações, vai sempre ao ponto que interessa da história e consegue equilibrar bem música, dança e romance. Em relação a carreira em si, o filme se prende mais na relação entre Magal e Jean-Pierre (um Caco Ciocler realmente impecável), seu empresário, que fazia de tudo para que o cantor se mantivesse na crista

A ORDEM DO TEMPO (2024) Dir. Liliana Cavani

Texto de Marco Fialho A premissa de  A Ordem do Tempo , novo filme da veterana cineasta Liliana Cavani ( O Porteiro da Noite - 1974),   lembra muito Melancolia , de Lars Von Trier e O Sacrifício , de Andrei Tarkovski, a de um mundo prestes a se acabar e que expõe a fragilidade dos personagens. O filme narra o encontro anual de um grupo de amigos numa agradável casa de praia, em que acompanhamos as revelações, algumas surpreendentes, de cada um dos personagens.  A Ordem do Tempo , de certa maneira, traz elementos bem característicos de uma cultura decadente, aristocrática, burguesa e branca. A única personagem não branca é Isabel, a empregada peruana, super explorada pelo casal dono da casa. Por focar nesse ambiente privilegiado, as discussões são todas voltadas para velhas questões inerentes a esse grupo: conversas sobre carreiras, relações amorosas instáveis e descobertas de infidelidades, nada que realmente traga um interesse para o mundo contemporâneo. A Ordem do Tempo tem até seus

O ANEL DE EVA (2024) Dir. Duflair Magri Barradas

Texto de Marco Fialho O Anel de Eva, filme dirigido por Duflair Magri Barradas,   trabalha uma temática bastante interessante: a dos nazistas que fugiram da Alemanha após a derrota da segunda guerra mundial e se espalharam anonimamente pelo mundo, em fazendas e cidades interioranas. Evidente que cada vez que sabemos da existência de um núcleo nazista no interior do Brasil ficamos assustados, pois o simples conhecimento do fato e uma possibilidade de que ainda hoje possa existir descendentes deles espalhados e talvez mais perto de nós do que imaginamos.  Essa é a força e o maior impacto de O Anel de Eva  e o filme começa justamente com uma discussão sobre uma herança na qual Eva (Suzana Pires), uma mulher adotada se depara não só com terras, mas igualmente com uma caixa com pertences (inclusive o anel do título do filme) e fotos que a arremessa para um passado sinistro. Eva herda uma fazenda detonada, onde mora um estranho homem chamado Martin (Odilon Wagner), um colono que a ocupa, mes

GRANDE SERTÃO (2024) Dir. Guel Arraes

Texto de Marco Fialho Eu sempre defendo que a primeira regra de qualquer transposição de um texto literário para o universo cinematográfico precisa ser a da coragem à infidelidade. Grande Sertão , novo filme de Guel Arraes abusa nesse sentido ao conferir ao texto original de Guimarães Rosa uma atualização extremada e questionável. O que resta saber é para onde este ato desafiador encaminhou uma das obras máximas da literatura brasileira, quais veredas cinematográficas Guel escolheu trilhar. Por mais que Grande Sertão subverta e muito Guimarães, em especial a sua poética, Guel mantem Riobaldo (Caio Blat) como um narrador da obra. Mas a maior surpresa que o filme me causou foi a introdução do viés catártico na esfera da representação da história, uma leitura ousada do livro, que não se caracteriza por uma diegese em que os conflitos estejam explícitos a todo instante. Há, no filme, uma atmosfera que prima pela distopia, já que Guel transpõe a obra do ambiente rural para uma favela urbana

13 SENTIMENTOS (2024) Dir. Daniel Ribeiro

Texto de Marco Fialho 13 Sentimentos , novo filme de Daniel Ribeiro, marca a volta do cineasta depois de dez anos do lançamento do seu primeiro longa,  Hoje Eu Quero Voltar Sozinho . O que vemos nesse novo projeto é uma comédia romântica Queer , de um homem, João (Artur Volpi) por volta dos 30 anos vivendo uma separação depois de dez anos de um relacionamento com Hugo (Sidney Sampaio). Essa separação é amigável, levada numa conversa tranquila entre os dois. Mas o que Daniel Ribeiro faz é tensionar esse momento de liberdade sexual de João. Esse é o motor do roteiro, tratar desse momento nada fácil depois de dez anos imerso em um relacionamento monogâmico.  É importante mencionar que o  approach do filme é super positivo, afinal, não é tão comum assistirmos a longas que se dedicam a discutir relações amorosas entre homens, colocando o protagonismo diretamente em evidência. Em 13 Sentimentos , não se trata de um personagem gay em meio a outros héteros, é um homem gay em meio a outros per

A ESTAÇÃO (2024) Dir. Cristina Maure

Texto de Marco Fialho A Estação é uma coprodução entre Brasil e Uruguai que retrata de forma realista uma proposta calcada no absurdo, embora esse viés não seja explorado de fato, a não ser no argumento do filme.  A obra trata da chegada de Sofia (Jimena Castiglioni) a uma estação de trem inóspita, onde tudo parece fadado ao imobilismo, já que lá está um grupo de pessoas esperando sem perspectivas a chegada de um trem que nunca vem e ficam hospedadas na própria estação semi-abandonada. A fotografia em preto e branco acentua a atmosfera de mistério na qual a diretora tenta emular, embora nem sempre com sucesso. A Estação tem alguns momentos promissores e outros que parece manter a história sem rumo. O maior problema da direção é não aprofundar as relações entre os personagens que estão presos irremediavelmente por uma situação insustentável, nem investir no absurdo que a história aponta desde o início.  Uma montagem mais azeitada poderia sintetizar melhor a ideia tal como ela foi filma

MUNDO NOVO (2021) Dir. Álvaro Campos

Texto de Marco Fialho Mundo Novo revela-se uma surpresa. Em meio a tantos filmes lançados com muito alarde e às vezes decepcionantes, eis que este chega na surdina, filmado em 2021, em plena pandemia, trazendo uma curiosa e criativa história de amor interracial, entre Conceição (Tati Vilela), uma advogada negra, e Marcelo (Nino Batista), um artista grafiteiro branco.  Se inicialmente, somos levados a crer que o filme seria centrado nesse fato, logo depois descobrimos algo maior, que ambos precisam de uma assinatura de Charles (Kadu Garcia), o irmão mais velho do grafiteiro, como fiador, para o casal conseguir adquirir um apartamento no luxuoso bairro do Leblon. A diferente e aprazível casa do irmão, situada numa ladeira com linda vista de uma praia do Rio, passa a ser o cenário predominante do filme.  O que temos então é uma análise cuidadosa, imbricada e bem detalhada do racismo estrutural brasileiro. O roteiro, do próprio diretor, é construído junto com os atores e atrizes, o que per

A FESTA DE LÉO (2023) Dir. Luciana Bezerra e Gustavo Melo

Texto de Marco Fialho  É sempre bom ver um projeto que tem o selo do prestigiado grupo Nós do Morro . É o caso de A Festa de Léo , dirigido pela dupla Luciana Bezerra e Gustavo Melo. É melhor ainda constatar o quanto os atores e atrizes do grupo se transformaram em atores que dominam a mise-en-scène, que conhecem bem os meandros da atuação.  Cintia Rosa, no papel de Rita, é o grande destaque do elenco de A Festa de Léo , como a mãe obstinada e honesta disposta a tudo para realizar a festa de 12 anos do seu filho Léo (Nego Ney, também defendendo muito bem o seu personagem). Como é bom ver um elenco que afirma os negros como protagonistas de sua própria história, com subjetividade, sonhos, vivendo e tentando acertar na vida dura do cotidiano. E melhor ainda ver um filme sobre o cotidiano de uma favela carioca pelo viés de uma mulher. Embora desfrutemos de um enredo posto em tela de maneira correta, fiquei no todo com uma impressão de incompletude. Podemos dizer que  A Festa de Léo passa