Texto de Marco Fialho
A premissa de A Ordem do Tempo, novo filme da veterana cineasta Liliana Cavani (O Porteiro da Noite - 1974), lembra muito Melancolia, de Lars Von Trier e O Sacrifício, de Andrei Tarkovski, a de um mundo prestes a se acabar e que expõe a fragilidade dos personagens. O filme narra o encontro anual de um grupo de amigos numa agradável casa de praia, em que acompanhamos as revelações, algumas surpreendentes, de cada um dos personagens.
A Ordem do Tempo, de certa maneira, traz elementos bem característicos de uma cultura decadente, aristocrática, burguesa e branca. A única personagem não branca é Isabel, a empregada peruana, super explorada pelo casal dono da casa. Por focar nesse ambiente privilegiado, as discussões são todas voltadas para velhas questões inerentes a esse grupo: conversas sobre carreiras, relações amorosas instáveis e descobertas de infidelidades, nada que realmente traga um interesse para o mundo contemporâneo. A Ordem do Tempo tem até seus momentos graciosos, quando o grupo de amigos escuta e vibra com Leonard Cohen. Mas essas cenas não possuem grande impacto no todo fílmico, apenas soam como uma beleza vazia e estéril.
Basicamente, o filme não tem uma história, apenas vemos esse grupo reunido que inicia um processo de espera de um imenso meteoro que pode exterminar com a vida no planeta. Com a possibilidade do fim de tudo, cada personagem vai revelando intimidades e segredos guardados a sete chaves. A Ordem do Tempo é uma obra agradável, classuda, bem interpretada, filmada e narrada, apesar de ser monocórdica. O que sustenta a trama são confissões que os personagens vão revelando lentamente a cada cena. Casos amorosos inesperados aparecem, mas nunca desencadeando grandes conflitos e discussões, afinal, são todos bem-sucedidos e finos demais para tanto. Os planos escolhidos por Cavani seguem o mesmo ritmo da trama, com enquadramentos pouco inspirados, sem grandes surpresas e sustos, em certos momentos, até esquecemos da existência da câmera.
Por tudo que eu já disse aqui, é possível descobrir que considero A Ordem do Tempo um filme anacrônico, com discussões ultrapassadas, já sem grandes pertinências. Até as reflexões sobre o tempo, suposto alicerce do filme, são muito superficiais e dão a impressão que já ouvimos em outras obras. Físicos renomados, advogados, investidores financeiros e psicanalistas estão entre os personagens a expor suas expectativas e desejos sobre a vida. Tudo é inacreditavelmente leve e clean na trama, e olha que o mundo só está prestes a acabar.
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