Texto de Marco Fialho
Muitas vezes, a simplicidade de uma proposta artística ao invés de empobrecê-la pode potencializá-la. É o caso de Ryuishi Sakamoto | Opus. O filme dirigido por Neo Sora é um presente do músico e compositor japonês para o público. A beleza das imagens se completa com a da música de Ryuishi Sakamoto. O cenário mínimo, com formas geometricamente bem alinhavadas contorna a sonoridade densa e milimétrica das mãos de Sakamoto que deslizam pelos teclados do belo piano Yamaha.
Em Ryuishi Sakamoto | Opus são 20 peças musicais cuidadosamente escolhidas e interpretadas pelo grande músico. São músicas que contam a história musical de Sakamoto. Tudo é cercado pelo simples e pela sofisticação de Sakamoto sozinho ao piano a executar belíssimas músicas. A imagem em preto e branco contrasta o preto do piano com o cabelo totalmente branco de Sakamoto. Esse fato pode ser um pequeno detalhe, mas visualmente funciona como mais um elemento a conferir um charme ao filme.
A proposta da direção de Neo Sora acaba por salientar a sonoridade do piano de Ryuishi Sakamoto, sem perder, ao mesmo tempo, o gestual e a concentração pela qual executa cada música. Esse cuidado da câmera de Neo Sora mantem a atenção do público, que passa a observar esses pormenores que perpassam cada execução. Esse é um filme para se atentar mesmo com os pequenos sinais da imagem. A respiração, o movimento suave e específico das mãos a cada nova música executada são elementos que precisam ser captados pelo espectador nessa viagem sensorial e musical que o filme nos oferta a todo o instante.
Ryuishi Sakamoto | Opus é um misto de primor de homenagem com um presente que o mestre Sakamoto oferece ao público, uma espécie de despedida tanto da carreira quanto da vida, posto que o filme é um esforço final do músico já com a saúde bem abalada por um câncer feroz que lhe acenava com a perspectiva do fim. Dentre as músicas que ouvimos, destacam-se as trilhas belíssimas que o compositor fez para o cinema, com destaque para O Último Imperador (1987), de Bernardo Bertolucci, e Furyo, Em Nome Da Honra (1983), dois trabalhos lindíssimos de composição musical.
O filme até poderia ser uma série de depoimentos de Ryuishi Sakamoto sobre a sua vida e sua rica obra, mas creio que o diretor Neo Sora consegue uma concisão fantástica ao restringir o músico ao que tem de melhor: a sua música. Passado e presente estão colocados lado a lado em um exercício temporal mediado puramente pela música do compositor japonês. Ryuishi Sakamoto | Opus traz a alegria que é ouvir e ver um gênio musical executando a própria obra em longos 100 minutos de prazer para os ouvidos. Sorte a nossa poder assistir a esse concerto minimalista e feito com tanta delicadeza e bom gosto.
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