Texto de Marco Fialho
Nosso Verão Daria um Filme, produção grega dirigida por Zacharias Mavroeidis, é um misto de comédia romântica e drama LGBT, que pode agradar justamente ao público LGBT, em especial por trabalhar com uma abordagem bem característica do cinema Queer e que dificilmente vai atrair aos cinemas plateias fora desse universo, mesmo que em vários momentos a trama descambe para uma narrativa bem careta, quase família.
A história parte de dois amigos, Demos (Yorgos Tsiantoulas) e Nikitas (Andreas Labropoulos), numa praia liberal grega, frequentada majoritariamente por um público LGBT e que encontram-se ali para desenvolver ideias para um roteiro de um filme LGBT baseado nas vidas de ambos. O filme se divide entre os supostos trechos do roteiro dessa história e o presente na praia.
Nosso Verão Daria um Filme é uma típica história que se pretende levar por uma magia que não sabemos ao certo o que é verdade ou ficção. A vida deles vai sendo contada dessa forma e assim vamos nos familiarizando com a proposta de Zacharias Mavroeidis. Demos vem de uma separação, depois de 4 anos com o mesmo namorado (o que faz lembrar o filme brasileiro 13 Sentimentos), e ainda tem uma quedinha por ele. Nikitas faz às vezes daquele amigo, que na verdade queria ser seu namorado desde sempre, um clichezinho bem sem vergonha do filme.
Na praia liberal, vemos a câmera de Zacharias Mavroeidis abusar dos ângulos eróticos do bombado Demos, com direito as vários closes e planos próximos de bundas e paus. Porém essa fissura não ocorre com os corpos menos musculosos, como o de Nikitas, sempre de sunga e sem grandes destaques. Assim, o filme confere um destaque para os corpos ditados pela convencional, inclusive os dos amantes de Demos. Esse olhar estereotipado faz o filme cair no banal, na ideia de corpos que podem ser vendidos, e implicitamente, por exclusão, os que não são vendáveis. Como Nosso Verão Daria Um Filme está francamente inscrito no universo do cinema Queer, creio ser essas observações necessárias de ser colocadas e refletidas.
Narrativamente, Nosso Verão Daria um Filme chega a convencer, mas devemos ressaltar que a "fórmula" adotada já está bem batida. Inclusive, os intertítulos explicativos (que pertencem ao filme dentro do filme) acabam somando pouco à narrativa, além de cansar um pouco. O melhor do filme é a metáfora do abandono que Zacharias criou em torno da cachorrinha Carmen (que embora não esteja no título brasileiro, está incluída no título original: The Summer with Carmen). Ao meu juízo, a parte dramática do filme se sobrepõe a do humor, que nem sempre emplaca no filme.
A parte em que Nosso Verão Daria um Filme menos emplaca é no que tange ao universo LGBT. Creio que o filme melhor se desenvolva na entrada da mãe de Demos na história, com conflitos e interações bem pertinentes e muito bem defendido pela experiente atriz Roubini Vasilakopoulou. O filme perfila com seus altos e baixos, alternando bons momentos com outros nem tantos, abusando excessivamente de padrões de beleza questionáveis e que servem somente para endossar modelos de consumo já decadentes.
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