Texto de Marco Fialho
O Anel de Eva, filme dirigido por Duflair Magri Barradas, trabalha uma temática bastante interessante: a dos nazistas que fugiram da Alemanha após a derrota da segunda guerra mundial e se espalharam anonimamente pelo mundo, em fazendas e cidades interioranas. Evidente que cada vez que sabemos da existência de um núcleo nazista no interior do Brasil ficamos assustados, pois o simples conhecimento do fato e uma possibilidade de que ainda hoje possa existir descendentes deles espalhados e talvez mais perto de nós do que imaginamos.
Essa é a força e o maior impacto de O Anel de Eva e o filme começa justamente com uma discussão sobre uma herança na qual Eva (Suzana Pires), uma mulher adotada se depara não só com terras, mas igualmente com uma caixa com pertences (inclusive o anel do título do filme) e fotos que a arremessa para um passado sinistro. Eva herda uma fazenda detonada, onde mora um estranho homem chamado Martin (Odilon Wagner), um colono que a ocupa, mesmo não tendo direitos legais sobre a terra.
O ponto de partida da história é fascinante, como se pode deduzir, e o filme até caminha bem até a sua primeira parte, porém a segunda parte tudo se degringola, e todas as potencialidades construídas inicialmente, com mistério e a narrativa se desenvolvendo mais pelas imagens do que pelos diálogos, direcionam o filme para diálogos diretos, superficiais e sem camadas consistentes. Vale registrar que a fotografia de O Anel de Eva é um dos pontos fortes da obra, já que salienta a todo instante que existe um mistério no ar.
Porém, o que poderia ser um filme de mistério, se transforma logo em um misto de filme de terror e ação, uma narrativa em que a ação torna-se mais importante do que a discussão fundamental sobre o aumento da extrema direita no Brasil nas últimas décadas. Nem mesmo a atuação segura de Suzana Pires como Eva consegue salvar o filme da banalidade e do formato narrativo típico das séries da Globo Play. A própria câmera do meio para o fim muda de atitude, passa a ficar mais na mão e começa a seguir os personagens. Mais uma vez, o acabamento visual se sobrepõe à concepção cinematográfica de O Anel de Eva.
Se inicialmente a introspecção dos personagens era respeitada, com várias cenas bem filmadas, aproveitando bem os silêncios que permitem o mistério e a reflexão sobre o que estamos assistindo. Se na primeira parte havia um foco numa investigação detetivesca, com revelações lentas e atrativas, de repente, o roteiro foca nos diálogos mais longos e diretos que tendem a amarrar todas as questões que o filme levanta, como se tivesse a necessidade de mastigar a história para o espectador, o que transforma O Anel de Eva em uma obra cinematograficamente esquecível, mesmo que o tema seja fundamental para o país.
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