Texto de Marco Fialho
13 Sentimentos, novo filme de Daniel Ribeiro, marca a volta do cineasta depois de dez anos do lançamento do seu primeiro longa, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. O que vemos nesse novo projeto é uma comédia romântica Queer, de um homem, João (Artur Volpi) por volta dos 30 anos vivendo uma separação depois de dez anos de um relacionamento com Hugo (Sidney Sampaio). Essa separação é amigável, levada numa conversa tranquila entre os dois. Mas o que Daniel Ribeiro faz é tensionar esse momento de liberdade sexual de João. Esse é o motor do roteiro, tratar desse momento nada fácil depois de dez anos imerso em um relacionamento monogâmico.
É importante mencionar que o approach do filme é super positivo, afinal, não é tão comum assistirmos a longas que se dedicam a discutir relações amorosas entre homens, colocando o protagonismo diretamente em evidência. Em 13 Sentimentos, não se trata de um personagem gay em meio a outros héteros, é um homem gay em meio a outros personagens gays e isso deve ser sublinhado pela relevância que tem.
Apesar de reconhecer essa importância temática, o filme não me fisgou, mas foi mais por conta da abordagem adotada por Daniel Ribeiro, na concepção cinematográfica que limita a obra. A trama se encaminha visual e narrativamente como se fora um programa realizado pelo GNT ou uma novela Global, tamanho o aspecto clean com que tudo foi pensado. A superficialidade das cenas dá o tom e a certo momento vem aquela monotonia, já que tudo lembra um comercial realizado para TV, o que me fez perder o interesse pelo que estamos vendo, com o filme se resumindo aos flertes de João e suas novas experiências sexuais e afetivas após o término do casamento. Na verdade, o filme se prende somente ao seu invólucro bem-comportado, como se não pudesse desagradar o bom-gosto de uma elite superficial, presa a um padrão imagético conservador. Evidente, que o cinema Queer precisa ser amplo, ter várias possibilidades de abordagem e voltado para públicos diversos, inclusive dentro do seu segmento, mas os formatos narrativos são vastos e permitem vôos imensos e cinematograficamente criativos, fora do já enquadrado pelo mercado como produto bem-acabado.
A estética de 13 Sentimentos é de fato muito banal, chegando às raias do ingênuo e até do boboca. Em alguns momentos, o que vemos é uma tela dividida em dois (estratégia muito televisiva, quase sempre com dois personagens interagindo, mesmo quando estão em espaços diferentes) e conversas em WhatsApp destacadas na tela. Me lembrou muito as estratégias utilizadas em enfadonhos filmes adolescentes, que tentam parecer moderninhos por inserir a comunicação jovem na tela. O filme assim, caminha sempre por veredas que tentam facilitar o entendimento do público em relação à trama, caindo em simplificações narrativas e mantendo um clima soft, com comportadas e delicadas cores pastéis, um filme sem desafios ou ousadias em sua forma cinematográfica ou que provoque socialmente uma atitude mais transgressora. 13 Sentimentos é um filme queer que não oferece um elemento sequer de perturbação. Se alguém se irritar com o filme é por puro preconceito e homofobia, porque como cinema é um belo programa de entretenimento escapista, careta na forma e com conteúdo voltado para um público majoritariamente branco, de classe média, refinado (pela classe social escolhida), que busca distração e passatempos para os sentidos. Não há realmente uma discussão mais aprofundada sobre o universo LGBTQIAPN+, e isso decepciona. Os corpos são quase sempre sarados, estereotipados, padronizados, o que evidente não provoca uma discussão interessante sobre o tema.
Para melhor compreender o escapismo da proposta de Daniel Ribeiro, é necessário pensar na construção dos personagens, porque a atmosfera aerada do filme passa especificamente por esta construção. Com exceção de João, todos os personagens servem meramente de escada para ele. Todos passeiam pela tela, sem realmente se ter o mínimo de profundidade. A amiga está em uma relação instável (e pouco sabemos a mais sobre ela, a não ser por poucos depoimentos, daqueles que damos quando alguém nos pergunta como vamos) e o melhor amigo é aquele palpiteiro contumaz, muito embora jamais tenha tido um namorado mais sério, quase que um escada bem-humorada da história.
Como um todo, as relações se restringem mesmo com as realizadas por aplicativos, são voláteis, rasteiras e desinteressantes, como a do casal que quer abrir a relação para um trisal. Na verdade, todas as relações só servem para João expor suas lineares dúvidas sobre o seu destino, suas indefinições sobre como é duro ter que buscar diariamente uma nova relação ou até mesmo sexo casual. Talvez 13 Sentimentos possa agradar a um público sedento por ver enredos LGBTQIAPN+ nas telas, ou até mesmo aqueles que gostam indistintamente de comédia romântica. Porém, o mais provável é que agrade a pessoas que curtam simplesmente assistir a um filme, mesmo que do ponto de vista cinematográfico este não ofereça grandes atrativos, apenas como um entretenimento leve, agradável e descartável.
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