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Mostrando postagens de agosto, 2024

ESTÔMAGO 2 - O PODEROSO CHEF (2024) Dir. Marcos Jorge

Texto por Marco Fialho Sempre que vejo um filme anunciar uma continuação, confesso que me bate uma desconfiança. É um mero truque de mercado para aproveitar o sucesso anterior ou se trata de algo pertinente. No caso de Estômago 2 - O Poderoso Chef tudo em tão forçado e envolto em clichês, que ficamos pensando sobre a necessidade da existência dessa nova aventura. O cinema de Hollywood é pródigo nesse formato, na mina de ouro que se transformou as chamadas franquias.  Dezessete anos separam o primeiro do segundo filme e o diretor Marcos Jorge mistura personagens novos com antigos. O mote principal é a inserção de Don Caroglio (Nicola Siri), um mafioso italiano, o mais novo prisioneiro do presídio em que Raimundo Nonato (João Miguel), ou Alecrim, é o chef de cozinha que domina um ambiente em que prepara almoços diferenciados tanto para os diretores do presídio quanto para o bando comandado por Etecétera (Paulo Miklos). De imediato, se cria uma rixa e uma disputa de poder entre Etecétera

NO CÉU NÃO TEM CALDO DE CANA (2024) Dir. Daniel Ricardo

Texto por Marco Fialho Depois de assistir repetidamente  No Céu Não Tem Caldo de Cana cheguei a conclusão de que esse pequeno curta é uma atualização queer de um melodrama clássico, em que as emoções são trabalhadas em um registro quase desesperado de dor e levadas a um resultado extremo.  Como um típico melodrama, o final não é dos mais felizes, já que o filme narra fatos tristes em alguns aspectos, como a dor da perda e a dificuldade de se estabelecer uma relação duradoura nos dias de hoje. A história de mais de 40 anos de relação amorosa dos avós do protagonista é usada como um contraponto a dele própria, que se mostra sempre escorregadia e excessivamente conflituosa.  O mais intrigante é constatar que a narração é realizada por uma pessoa morta, mas que esse sentimento se coloca mais como espiritual do que algo efetivo. A morte aqui me soa em um tom mais simbólico do que real, como que o autor tivesse narrando um sentimento que morreu dentro dele. A fotografia de Maye, me remeteu m

PISQUE DUAS VEZES (2024) Dir. Zoë Kravitz

Texto por Marco Fialho A estreia da atriz e modelo Zoë Kravitz não podia ser mais bem sucedida com Pisque Duas Vezes . O filme pode ser interpretado como um terror com fortes pitadas dramáticas e teor fortemente feminista. A direção explora bem a atenção, as expectativas e os olhares do espectador, que a todo instante tenta entender o que está por trás de uma trama que não entrega de cara seus maiores trunfos.  Pode-se dizer que o elenco feminino é a grande força de Pisque Duas Vezes , encabeçado pelas atrizes Naomi Ackie (Frida), Adria Arjona (Sarah), Alia Shawkat (Jess), Geena Davis (Stacy), Liz Caribel (Camila) e uma assustadora Maria Elena Olivares (Badass Maid). Zoë Kravitz articula uma história em que a sedução da riqueza e o apreço pela aparência tem um impacto no que vemos. Quando Slater King (Channing Tatum), um bilionário, surge na trama, tudo parece perfeito, mas sua habilidade para atrair mulheres para a sua ilha é imensa, nem personagem nem público sequer desconfiam que al

CIDADE; CAMPO (2024) Dir. Juliana Rojas

Texto por Marco Fialho Cidade; Campo , novo filme da diretora Juliana Rojas, esboça uma visão permeada por uma visão cáustica da vida contemporânea ao vislumbrar tanto a vida no campo por pessoas vindas da cidade quanto de uma pessoa vinda do campo para a cidade. Para isso, a diretora dividiu o filme em duas partes independentes para abrir uma discussão sobre o tema da vida na cidade e no campo. O título traz um curioso ponto e vírgula, como um espécie de pausa poética e que mostra uma relação contraditória de distanciamento e proximidade entre os dois universos. Com esse filme, Juliana Rojas retoma um estilo de direção mais próximo ao de Trabalhar Cansa (2011), seu primeiro longa que filmou em parceria com Marco Dutra, em que os elementos fantásticos são incorporados à narrativa sem grandes extravagâncias, em especial no uso de efeitos especiais vistos com mais ênfase em seu longa anterior,  As Boas Maneiras (2017). Cidade; Campo não deixa de ter alguns momentos de autorreferências ci

O DIABO NA RUA NO MEIO DO REDEMUNHO (2023) Dir. Bia Lessa

Texto por Marco Fialho O Diabo na Rua no Meio do Redemunho , dirigido por Bia Lessa, não esconde suas origens cênicas: a peça Grande Sertão: Veredas , idealizado pela própria diretora há alguns anos atrás. Bia Lessa pesquisa a obra de Guimarães Rosa há um bom tempo, já tendo realizado igualmente uma exposição em tributo a esse que é um dos maiores escritores brasileiros. A inserção de legendas, vem salientar a busca por registrar uma gramática única vinda da maneira própria do sertanejo se comunicar. A estrutura do filme preserva a origem teatral e tudo desenrola em um cenário que muito lembra um palco cênico. Vale pontuar de início o espírito minimalista adotado pela diretora, que chega a subtrair o território ao assumir o fundo escuro e a quase ausência de elementos cênicos. Visualmente a paisagem sertaneja desaparece dando ênfase então apenas à corporalidade e o texto. Os figurinos também são econômicos e revelam uma neutralidade cênica, já que todos os personagens possuem figurinos

BERNADETTE - A MULHER DO PRESIDENTE (2023) Dir. Léa Doménach

Texto por Marco Fialho O que mais Bernadette - A Mulher do Presidente , filme dirigido por Léa Doménach,   nos faz lembrar é que nem todo o apagamento merece ser resgatado pelo cinema. Sinceramente, trazer à baila a imagem de Bernadette Chirac pouco acrescenta tanto à cena política quanto cinematográfica.  E tem mais, cobrir a narrativa com um invólucro de comédia tão pouco salva o filme do mais retumbante fracasso como cinema. Outra estratégia esperta é colocar Catherine Deneuve, uma das maiores atrizes francesas de todos os tempos para protagonizar, os equívocos em série que Bernadette - A Mulher do Presidente  representa.  Vale registrar o quanto está na moda a construção de uma imagem de uma mulher emancipada, mas conservadora. É Assim Que Acaba , recentemente fez o mesmo, ao trazer à luz uma história de uma mulher apenas pretensamente emancipada. Já pensando especificamente em Bernadette Chirac, devemos lembrar que o seu gesto mais ousado na política foi contrariar o marido e apoi

FERNANDA YOUNG - FOGE-ME AO CONTROLE (2023) Dir. Susanna Lira

Texto por Marco Fialho Ao filmar uma biografia os caminhos são os mais variados e Susanna Lira opta em  Fernanda Young - Foge-me ao controle em focar mais na relação coerente entre obra escrita e a vida da escritora. Esse enfoque garante um olhar consequente ao documentário de Lira, dando voz à escritora por meio das palavras de Maria Ribeiro, sem esquecer das incessantes palavras escritas a rabiscar a tela do cinema. Mas confesso que no plano das imagens o filme me incomodou pelo excesso (talvez numa tentativa de capturar o da própria personagem), não só pela quantidade, mas pela insistente intervenções nas texturas. Pelo fato de Fernanda Young ainda ser uma voz presente em nosso imaginário, as intervenções de Maria Ribeiro também não conseguem preencher de todo a vitalidade da voz original e isso fica mais evidente quando vemos a própria Fernanda em ação. Por isso, o ponto alto do documentário está quando vemos Young tanto nos programas e entrevistas em que participou como convidada

LONGLEGS (2023) Dir. Oz Perkins

Texto por Marco Fialho Existe uma obsessão do cinema hollywoodiano em relação às catástrofes climáticas, super-heróis e psicopatas. Longlegs , dirigido por Oz Perkins, é mais um das centenas de filmes lançados anualmente cujo universo temático perpassa alguma forma de psicopatia. Talvez esse fenômeno seja justificável, já que a sociedade dos Estados Unidos abunda casos dessa natureza sórdida e de difícil compreensão sobre as suas origens psíquicas. O cinema hollywoodiano, apesar de abordar o tema em muitos filmes, parece cair muito na armadilha que induz o espectador a entender o fenômeno como uma anomalia individual e jamais como algo coletivo que precisa ser realmente analisado e transformado. Em Longlegs  a atmosfera soturna ocupa desde o início a trama, amparada por uma fotografia igualmente sinistra que registra ambientes internos escuros e externos marcados pelo nublado e o noturno. O filme busca trabalhar Longlegs como um homem esquisito e perturbado, interpretado com absoluto c

ALIEN: ROMULUS (2024) Dir. Fede Alvarez

Texto por Marco Fialho Quando assisto a um filme como Alien: Romulus eu fico pensando muito sobre qual ideia de cinema pode ser agregada a ele. E minha reflexão está para além do gênero, independente dele ser uma ficção científica permeada pelo thriller e pelo terror. O pensamento acerca de um filme não passa pelo seu gênero, mas sim pelo que ele oferece como cinema, essa arte para lá de centenária e já bem desenvolvida e estudada. Pode parecer essa uma indagação estranha para alguns, mas antes de tudo é fundamental e natural para quem, afinal, vive para pensar cinema.  Então, quero começar essa reflexão pelas qualidades técnicas e narrativas indubitáveis de Aliens: Romulus , como o suspense bem trabalhado e a perfeição do ser alienígena (que segundo o diretor foi inspirado na saga  Predador ), como um ser asqueroso e repugnante. Outro elemento que prende o espectador ao filme são as inúmeras viradas que o roteiro proporciona. O diretor Fede Alvarez se esmera em criar uma tensão consta

TIPOS DE GENTILEZA (2024) Dir. Yorgos Lanthimos

Texto por Marco Fialho Devido a seu estilo histriônico, podemos ler sobre Yorgos Lanthimos as considerações mais extremadas tanto para enaltece-lo quanto para diminui-lo. Depois do sucesso de Pobres Criaturas muitas pessoas aguardavam a volta de Lanthimos com grande expectativa.  Eis que nos chega Tipos de Gentileza e a primeira impressão é de que o diretor retorna às suas produções mais intimistas e menos espetaculosas, como foi Pobres Criaturas (o que me parece é que este sim foi um ponto mais fora da curva, um projeto mais ambicioso visualmente falando). A volta de Lanthimos se dá com uma combinação de três contos sobre a gentileza, mas bem ao estilo rascante do diretor. Aqui, os excessos que tanto afasta o público que o odeia está presente. Dedos dilacerados e fritos, cachorros agredidos e outras esquisitices povoam o novo trabalho.  Provocar incômodos é uma das marcas do diretor grego e em Tipos de Gentileza não é diferente. Ele aprecia e insiste em realizar uma mise-en-scène que

É ASSIM QUE ACABA (2024) Dir. Justin Baldoni

Texto por Marco Fialho É Assim Que Acaba , dramalhão romântico dirigido e protagonizado por Justin Baldoni, é daqueles que costumam abrir um fosso entre os críticos e o público, nesse caso específico, o feminino, em especial as leitoras do best-seller homônimo de Colleen Hoover no qual o filme foi baseado e que já vendeu mais de 2 milhões de exemplares no mundo. O resultado dessa obra é quase constrangedora ao enfileirar em sua narrativa um clichê atrás do outro, além de vender corpos padronizados do início até o último minuto.  Pode-se dizer que esse é um filme conservador, tanto do ponto de vista cinematográfico quanto da leitura que faz da sociedade. É Assim Que Acaba encapsula uma visão de emancipação feminina que só não digo que é inocente, porque na verdade é intencional ao vender uma maneira específica de como é ser uma mulher no século 21. Mesmo que todos os esforços sejam feitos, ao final, conclui-se que Lily Bloom (Blake Lively), filha de um ex-prefeito que agredia sua mãe, é

MOTEL DESTINO (2024) Dir. Karim Aïnouz

Texto por Marco Fialho O  Motel Destino  pode ser lido como um estudo de caso sobre as relações abusivas que ocorrem cotidianamente no Brasil. Heraldo (Iago Xavier), é o personagem que permitirá ao público mergulhar em um universo de um brasileiro talhado ao esquecimento. Ele é um jovem simples da periferia do Ceará, órfão de pai e mãe, destinado a ser um joguete na mão tanto de bandidos quanto de um empresário medíocre, tal como é Elias (Fábio Assunção), dono de um pequeno motel numa zona litorânea cearense.   Para fugir de uma vingança, Heraldo se refugia justamente no Motel Destino onde ele estabelece uma relação de trabalho ditada pela pessoalidade. O motel é, por natureza, um lugar do fugidio, onde se buscam prazeres imediatos e irrefreáveis. O artificialismo do sexo invade Motel Destino  como um pano de fundo permanente, os sons das tevês com os filmes pornográficos e clientes ávidos por prazer. Aqui, o sexo emoldura uma narrativa de personagens conflituados, densos, vivendo a vi

FAVELA DO PAPA (2024) Dir. Marco Antônio Pereira

Texto por Marco Fialho "O Vidigal tem uma turminha de bamba que não esquenta com as ameaças do Rei Se vem o mal toda favela se levanta Se lá quem for se espanta, se vem tirar chinfra de lei..."                   Trecho da canção Vidigal , de Sérgio Ricardo. Apesar de ser um problema sério do Rio de Janeiro, não vemos tantos filmes que falam sobre a questão da terra e das injustiças inerentes a ela. Favela do Papa , do diretor Marco Antônio Pereira,   não só resgata esse tema como o coloca numa perspectiva de luta coletiva pelo direito de morar. O documentário alterna depoimentos de moradores com imagens de arquivo para poder reconstruir a história da Favela do Vidigal, conhecida por resistir perante aos desígnios do poder governamental.  Nessa junção entre depoimentos e arquivos somos imersos na política arbitrária do governador biônico Faria Lima e dos governos militares ávidos por vender o visual privilegiado do morro para a exploração de empresas internacionais. Marco Antô

ENTRELINHAS (2024) Dir. Gustavo Pasko

Texto por Marco Fialho Entrelinhas , do diretor Gustavo Pasko,   traz para o público mais uma história sobre o processo dolorido que foi o da tortura nos porões insanos da ditadura militar brasileira, mas trazendo como diferencial enfocar em um lugar pouco mostrado habitualmente: o Estado do Paraná.  O diretor Gustavo Pasko trabalha a brutal prisão da jovem estudante secundarista Beatriz Fortes, acusada de colaborar e pertencer a uma célula da então clandestina organização comunista do Var-Palmares. Chama a atenção a violência e o sangue frio dos militares que comandavam a ação dos interrogatórios. Vale lembrar que o filme parte dos depoimentos de Beatriz à Comissão da Verdade, instaurada durante o Governo da presidenta Dilma Rousseff.  Entrelinhas realiza um mergulho doloroso e intenso ao mostrar mais a violência dos tratamentos dados aos presos políticos do que o próprio contexto da luta armada, as discussões sobre os caminhos de luta e resistência contra a ditadura militar. Acredito

BAILE DAS LOUCAS (2023) Dir. Arnaud Des Pallières

Texto por Carmela Fialho Baile das Loucas (Captives), do diretor Arnaud des Pallières, traz a discussão da questão manicomial no hospital da Salpêtrière, na Paris de 1894, utilizado como asilo e hospital psiquiátrico para mulheres. Os antecedentes de prisão que marcam a origem do hospital, a sociedade misógina e a violência no tratamento dispensado às internas cativas marcam esse drama/terror, que suscita uma sensação constante que algo de ruim vai acontecer e cada vez que o filme vai avançando o aprisionamento da personagem principal vai se avolumando. A personagem Fanni (Mélanie Thierry) se passa por uma paciente psiquiatria com o objetivo de encontrar a mãe internada à força pelo pai há 29 anos atrás. O vazio da ausência da mãe move a personagem a conhecer os meandros do sistema manicomial, onde várias mulheres foram internadas por parentes que as consideravam inadequadas aos olhos da sociedade, por vezes até questões de herança eram motivo para o afastamento de mulheres abastadas

O ÚLTIMO PUB (2023) Dir. Ken Loach

Texto por Marco Fialho Não comungo com as opiniões cada vez mais recorrentes na crítica de que o cineasta inglês Ken Loach ultimamente não produz grandes filmes ( Você Não Estava Aqui , Eu, Daniel Blake e A Parte dos Anjos , apenas para citar alguns). Muito pelo contrário, o que vejo é um cineasta corajoso, capaz de expor ideias claras sobre o mundo e o papel político do cinema. Esse engajamento expressa a força do seu cinema, independente e compromissado com os mais humildes, os trabalhadores e os seres relegados pelas elites. Denunciou sem dó o sistema de seguridade, a uberização e várias injustiças sociais. Se alguns o chamam de dogmático, eu prefiro vê-lo como um artista socialmente consciente. O Último Pub revela em sua abordagem um olhar sensível de Ken Loach pelos refugiados sírios e demarca a importância de seres humanos como TJ Ballantynes (Dave Turner), um dono de um pub decadente decidido a ser solidário e empático. Me chamou a atenção um humanismo acentuado ou talvez um ca

A VIÚVA CLICQUOT - A MULHER QUE FORMOU UM IMPÉRIO (2024) Dir. Thomas Napper

Texto por Marco Fialho A Viúva Clicquot - A Mulher Que Formou Um Império esbarra numa problemática incontornável: por mais que o diretor Thomas Napper tente camuflar o óbvio, não há como negar que ao falar da viúva Clicquot se está a vender uma marca poderosa do mercado mundial de vinhos, e que de certa maneira justifica os caminhos que fizeram da marca um nome respeitável, o filme não consegue esconder as suas motivações mais evidentes: o do marketing.  Mesmo que Thomas Napper insista numa narrativa que condiz e muito com as pautas de hoje, sim, a viúva Clicquot pode ser vista como um caso de empoderamento feminista antecipado, por mais que a sua história esteja deslocada em séculos do nosso. Mas essa facilidade temática não seria então ideal para ser contada agora em pleno Século 21? Curiosamente, o nome da personagem se assemelha, e muito, a outro, o de uma peça publicitária recente que o cinema encampou com estrondoso sucesso: Barbe-Nicole. Só que aqui, a tal boneca está posta a ma

ARMADILHA (2024) Dir. M. Night Shyamalan

Texto por Marco Fialho Chegou a hora de admitir que as estreias de um filme de M. Night Shyamalan não trazem mais aquela expectativa. O desgaste é nítido e Armadilha é mais um filme decepcionante. Não que seja mal realizado ou uma obra insuportável, mas não passa de mais um suspense sem grandes atrativos que veremos e esqueceremos. Até a comparação com Fragmentado (2016) é forçada, porque se a psicopatia os une, o tratamento do suspense se difere e muito.  Já no trailer de  Armadilha , a Warner, distribuidora   do filme, entregou informações que tiram parte do impacto que o filme poderia ter, opção questionável   e que vem sendo bem criticada. Contudo, é  importante salientar que esse não é o problema maior de Armadilha . Convenhamos que um filme de Hollywood tratar de um psicopata já é tão manjado quanto um espirro em uma noite fria. E o que faz de diferente Shaymalan para transformar sua obra em algo original dentro da temática? Essa é a grande questão a ser respondida.  O maior esfo

TOQUINHO MARAVILHOSO (2024) Dir. Alejandro Berger Parrado

Texto por Carmela Fialho O documentário Toquinho Maravilhoso, de Alejandro Berger Parrado é uma homenagem ao virtuose violonista e músico brasileiro que foi um dos maiores parceiros de Vinícius de Moraes. O diretor opta por conduzir a narrativa cronologicamente, começando pela infância do artista, utilizando como fontes os depoimentos do próprio Toquinho, de seu irmão mais velho, imagens filmadas pelo pai durante sua infância e fotografias do arquivo da família. O documentário procura traçar as origens do interesse de Toquinho ainda menino pelo violão e seu talento para música que o levou a ser aluno de Paulinho Nogueira, um dos maiores violonistas brasileiros, que segundo depoimento do próprio professor era um pupilo excepcional, bem fora da curva dos outros aprendizes.  O propósito do documentário é dar a Toquinho um merecido lugar de destaque junto aos grandes nomes da música brasileira. Destacando sua amizade com Chico Buarque ainda adolescente em São Paulo e sua trajetória na Itál

MAIS PESADO É O CÉU (2023) Dir. Petrus Cariry

Texto por Marco Fialho Caso alguém precise definir a palavra catarse,  Muito Pesado é o Céu fatalmente é um belo exemplo. O filme dirigido pelo ótimo Petrus Cariry pode ser resumido assim e afirmo isso simplesmente por sentir que cada cena filmada concentra muita emoção em si, como se os dois protagonistas condensassem tudo para explodir de uma única vez ao final. Mérito tanto do roteiro quanto da direção, que em ambos os casos realiza um trabalho de grande artesania, complementado por uma direção de atores de grande precisão e eficiência. A dupla Matheus Nachtergaele (Antonio) e Ana Luiza Rios (Teresa) é de uma sintonia absurda, um está a amparar o trabalho do outro a todo instante, ambos funcionam como um complemento do outro, como uma parceria profissional única e colaboracionista. Mas o elenco de apoio não fica atrás, Silvia Buarque está maravilhosa como Fátima, a dona de um bar que presta imensa solidariedade ao drama de Antonio e Teresa. Ainda tem Letícia (uma impecável Danny Ba