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BERNADETTE - A MULHER DO PRESIDENTE (2023) Dir. Léa Doménach


Texto por Marco Fialho

O que mais Bernadette - A Mulher do Presidente, filme dirigido por Léa Doménach, nos faz lembrar é que nem todo o apagamento merece ser resgatado pelo cinema. Sinceramente, trazer à baila a imagem de Bernadette Chirac pouco acrescenta tanto à cena política quanto cinematográfica. 

E tem mais, cobrir a narrativa com um invólucro de comédia tão pouco salva o filme do mais retumbante fracasso como cinema. Outra estratégia esperta é colocar Catherine Deneuve, uma das maiores atrizes francesas de todos os tempos para protagonizar, os equívocos em série que Bernadette - A Mulher do Presidente representa. 

Vale registrar o quanto está na moda a construção de uma imagem de uma mulher emancipada, mas conservadora. É Assim Que Acaba, recentemente fez o mesmo, ao trazer à luz uma história de uma mulher apenas pretensamente emancipada. Já pensando especificamente em Bernadette Chirac, devemos lembrar que o seu gesto mais ousado na política foi contrariar o marido e apoiar Sarkozy, um dos políticos mais nefastos da recente história republicana francesa.

Mas independente do suposto resgate histórico que Bernadette - A Mulher do Presidente almeja alcançar, o filme em si é bem insosso em sua monotonia narrativa, muito porque a história de Bernadette Chirac é mesmo sem grande brilho, não há realmente nada a mostrar de fundamental, nem em seu pensamento político (que muito parece mais reativo do que consequente ou assentado em idéias pertinentes) nem como uma mulher à frente de seu tempo, apenas mais uma pessoa mimada, temperamental e exótica. Não casualmente o filme se prende muito na maneira diferente de Bernadette se vestir.

Talvez, esse filme sirva até para atestar o quanto a política vem se permitindo a ser servida de personagens mais exóticos do que consequentes, sendo levada pouco a sério. Não consegui identificar na direção de Léa Doménach algum traço de crítica a essa proliferação de oportunistas que circundam pelo meio da política, apenas para mim ela ratifica uma visão onde o fato político é gestado numa intimidade do tipo grandes rainhas, reis, príncipes e princesas.  

Para mim, Bernadette - A Mulher do Presidente se comunga com um certo cinema francês cuja meta é somente ganhar uns trocados na bilheteria apelando para atores e atrizes de excelência. Um desperdício de talento que não merece grande destaque, afinal, dar força para políticos conservadores nem devia dar alguma pinta.

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