Texto por Marco Fialho
Existe uma obsessão do cinema hollywoodiano em relação às catástrofes climáticas, super-heróis e psicopatas. Longlegs, dirigido por Oz Perkins, é mais um das centenas de filmes lançados anualmente cujo universo temático perpassa alguma forma de psicopatia. Talvez esse fenômeno seja justificável, já que a sociedade dos Estados Unidos abunda casos dessa natureza sórdida e de difícil compreensão sobre as suas origens psíquicas. O cinema hollywoodiano, apesar de abordar o tema em muitos filmes, parece cair muito na armadilha que induz o espectador a entender o fenômeno como uma anomalia individual e jamais como algo coletivo que precisa ser realmente analisado e transformado.
Em Longlegs a atmosfera soturna ocupa desde o início a trama, amparada por uma fotografia igualmente sinistra que registra ambientes internos escuros e externos marcados pelo nublado e o noturno. O filme busca trabalhar Longlegs como um homem esquisito e perturbado, interpretado com absoluto convencimento por Nicolas Cage (em um dos grandes papéis da carreira), que concebe um personagem amedrontador e perverso, mesmo que precisemos sublinhar a ausência de camadas do personagem. Essa unidimensionalidade do psicopata, a falta de qualquer resquício de humanidade que lhe é inerente se torna algo tão evidente que faz com que esperemos as maiores bizarrices dele. Ao que tudo indica, Nicolas Cage entrega justamente o que a direção lhe pede e o faz com competência.
Embora Longlegs seja o personagem central da história, a narrativa de Oz Perkins acompanha a personagem Lee Harker (Maika Monroe), uma jovem investigadora do FBI, que parece possuir dons paranormais. Logo se forma uma sinistra tríade entre ela, a mãe e o psicopata, numa trama imbricada com a infância de Lee. Como muitos filmes de terror fazem, a câmera está sempre levemente atrasada aos acontecimentos envolvendo os protagonistas, para que vejamos os fatos logo a seguir deles.
A grande questão de Longlegs é que ele deixa escapar pela superfície uma crítica ao fanatismo religioso, que não é bem sustentado pelo roteiro, que prefere centrar as discussões em torno de uma psicopatia apenas manifesta nos personagens. O diretor Oz Perkins insiste no velho jargão hollywoodiano de se aprofundar nas idiossincrasias da loucura e da cabeça do psicopata, martelando e detalhando esse universo mental indecifrável, por mais que o discurso tente assim apreendê-lo ao máximo em sua esquisitice.
Assim, a crítica social vai ficando no escanteio e ao invés de assumir a primazia da história, se revela ínfima e desimportante. Essa característica de centrar a narrativa no individual é bem o feitio de muitos filmes hollywoodianos, que pulverizam o resultado em nome de frisar o viés doentio dos personagens ao invés relaciona-los à uma certa construção social que permite eclodir tantos personagens psicopatas.
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