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ESTÔMAGO 2 - O PODEROSO CHEF (2024) Dir. Marcos Jorge


Texto por Marco Fialho

Sempre que vejo um filme anunciar uma continuação, confesso que me bate uma desconfiança. É um mero truque de mercado para aproveitar o sucesso anterior ou se trata de algo pertinente. No caso de Estômago 2 - O Poderoso Chef tudo em tão forçado e envolto em clichês, que ficamos pensando sobre a necessidade da existência dessa nova aventura. O cinema de Hollywood é pródigo nesse formato, na mina de ouro que se transformou as chamadas franquias. 

Dezessete anos separam o primeiro do segundo filme e o diretor Marcos Jorge mistura personagens novos com antigos. O mote principal é a inserção de Don Caroglio (Nicola Siri), um mafioso italiano, o mais novo prisioneiro do presídio em que Raimundo Nonato (João Miguel), ou Alecrim, é o chef de cozinha que domina um ambiente em que prepara almoços diferenciados tanto para os diretores do presídio quanto para o bando comandado por Etecétera (Paulo Miklos). De imediato, se cria uma rixa e uma disputa de poder entre Etecétera e Don Caroglio. 

Um dos maiores problemas de Estômago 2 - O Poderoso Chef é tirar de Raimundo Nonato o protagonismo da história, já que ele realmente é o personagem mais interessante e carismático nas mãos de João Miguel, um ator que sabe manipular o tempo da comédia e do drama. Nessa versão, ele está em segundo plano, com a história e o drama de Don Caroglio ocupando a maior parte do tempo.

Marcos Jorge monta a sua história a quebrando em várias temporalidades. Entre idas e vindas no tempo, o conflito atual do presídio se reveza com a história da vida de Don Caroglio. A ênfase em Don Caroglio torna o filme pouco atrativo, já que ela é construída baseada nos manjados estereótipos de filmes sobre mafiosos (sobretudo de Poderoso Chefão, a saga mafiosa de Francis Ford Coppola). Há ainda uma bizarra simetria na qual Alecrim e Don Caroglio vão se transformando cena a cena em italianos, cada qual em um tempo diferente.

Apesar da montagem dar conta do recado, o roteiro frágil é escancarado pela banalidade da trama em si. Se o Estômago de 2007 era pleno em originalidade, drama e comicidade, o de 2024 carece de tudo isso ao mergulhar em uma história sem brilho e graça. Nem o talento inconteste de João Miguel e o esforço descomunal de Paulo Miklos em dar um tom cômico como Etecétera, é capaz de salvar o filme da catástrofe. Só mesmo uma busca insana por bilheteria justifica a realização de uma continuação tão equivocada como essa, pelo menos nesse caso específico.                         

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