Texto por Marco Fialho
É Assim Que Acaba, dramalhão romântico dirigido e protagonizado por Justin Baldoni, é daqueles que costumam abrir um fosso entre os críticos e o público, nesse caso específico, o feminino, em especial as leitoras do best-seller homônimo de Colleen Hoover no qual o filme foi baseado e que já vendeu mais de 2 milhões de exemplares no mundo. O resultado dessa obra é quase constrangedora ao enfileirar em sua narrativa um clichê atrás do outro, além de vender corpos padronizados do início até o último minuto.
Pode-se dizer que esse é um filme conservador, tanto do ponto de vista cinematográfico quanto da leitura que faz da sociedade. É Assim Que Acaba encapsula uma visão de emancipação feminina que só não digo que é inocente, porque na verdade é intencional ao vender uma maneira específica de como é ser uma mulher no século 21. Mesmo que todos os esforços sejam feitos, ao final, conclui-se que Lily Bloom (Blake Lively), filha de um ex-prefeito que agredia sua mãe, é dependente sempre afetivamente de um homem. No último quarto do filme, o diretor faz malabarismos para tentar iludir o público sobre a independência emocional de Lily, que assume uma maternidade solo e despacha o marido agressor. Mas se observarmos bem, logo na primeira oportunidade, eis que ela assume o relacionamento com o primeiro namorado, que na verdade ela pouco conhece na vida adulta, depois que ficou rico.
É incrível como É Assim Que Acaba se constrói inteiramente por cenas apelativas, seja pelos corpos excessivamente padronizados ou pelas cenas de brigas que soam forçadas além da conta. A cena em que Ryle (Justin Baldoni) se atraca com Atlas, o ex-namorado de Lily, no próprio restaurante cujo ele é o dono, é de uma infelicidade atroz, além de ser mal pensada e concebida. Inclusive, os chamados plot twist (os pontos de virada) da história são óbvios e previsíveis ao extremo, e dão margem somente a mais e mais clichês.
A montagem organiza É Assim Que Acaba em duas temporalidades, uma no presente e outra no passado. As sequências do passado são tão forçadas, que chegam a ser chatas e desinteressantes. A obviedade desse roteiro se espelha nessa proposta ingênua de montagem oscilante entre as duas temporalidades. Essa dualidade temporal em nada aprofunda a personagem de Lily, inclusive fiquei a me perguntar o porquê da floricultura, mas quando ficamos sabendo da motivação, realmente muito frágil, aliás, como tudo que esse filme apresenta.
Fiquei a pensar na própria transformação do personagem Atlas. Quando ele garoto era morador em situação de rua, sua aparência era insossa. Contudo, depois que ele se tornou dono do restaurante considerado o melhor pelas revistas especializadas, ele se torna um cara atraente, isto é, de onde se conclui que o que nos torna bonitos é o dinheiro e o sucesso profissional. A erotização forçada dos corpos é quase constrangedora e o diretor não cansa de exibir e vender o próprio físico, o que mostra o quanto o estranho e o mau gosto dominam esse filme.
O filme pode até vir a agradar alguns pelo apelo sensual e de sofrimento da protagonista Lily Bloom, que sofre com a violência doméstica, primeiro com o pai e depois com o marido, que é um neurocirurgião respeitado. Entretanto, o que a obra evoca é uma imensa pieguice, com pretensão a ser elegante, que é uma baita ilusão, pois o filme não deixa de ser uma sequência de demonstração de riqueza vazia, além de diálogos banais que embrulham o estômago, tais como "você só encontra um cara bonito como eu numa novela". Ao final, É Assim Que Acaba abusa tanto da paciência do espectador quanto Lily é abusada pelo marido.
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